Orgulho de ser um especulador - Leandro Ruschel
Opero no mercado financeiro há mais de uma década. Já ensinei
para muitas pessoas as minhas técnicas de trade. Dessas, apenas uma
parcela conseguiu alcançar o sucesso no mercado. Sempre me pergunto o
motivo de algumas pessoas ganharem dinheiro no mercado e outras não,
utilizando as mesmas estratégias. A diferença não reside apenas na
capacidade intelectual e numa melhor preparação. Um aspecto extremamente
importante é a estrutura mental do trader.
A nossa estrutura mental é formada pelos nossos valores e crenças, que são desenvolvidas a partir de toda a experiência de vida. Desde antes do nascimento passamos por experiências que são registradas e moldam a nossa percepção. Ainda não existe uma definição exata para a consciência, mas sabemos que a forma como percebemos algum estímulo externo está intimamente ligada com as nossas experiências de vida e crenças formadas pelas mesmas.
Por exemplo, se em algum momento da sua vida a pessoa passa por uma experiência negativa como um acidente rodoviário, ela pode desenvolver uma reação negativo ao ruído de um automóvel. O fato de estar em movimento dentro de um carro pode passar a ser uma experiência muito desagradável. Talvez a pessoa tenha dificuldades em dirigir, ficando com medo de se envolver num acidente novamente. Os psicólogos chamam isso de trauma.
No mercado, experiências negativas como perdas numa determinada situação podem gerar também o mesmo mecanismo. O trader pode passar a ter medo de operar e incorrer em novas perdas. Esse medo pode dificultar a execução das estratégias, mas existe outro componente psicológico que pode ser ainda mais danoso.
As crenças negativas sobre a possibilidade de ganhar muito dinheiro, ou mesmo sobre a especulação (praticamente um palavrão), podem gerar um conflito interno que será resolvido no formato de prejuízos nas operações. Por incrível que pareça, às vezes é mais difícil aceitar os ganhos do que aceitar as perdas.
No Brasil esse é um problema ainda maior. Talvez por conta da nossa formação cultural ibérico-católica, de onde herdamos uma condenação à riqueza material e um estado paternalista que não estimula os empreendedores. Somos ensinados nos colégios católicos que é mais difícil um rico entrar no céu que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Nas novelas os ricos sempre são egoístas e malvados enquanto os pobres são os heróis. Chegar numa festa e falar para um amigo que você ouviu falar que ele está ganhando muito dinheiro é praticamente um xingamento. A própria palavra “ganhar” envolve a idéia de receber algo de alguém, em contraste com o “make money” usado nos EUA, literalmente produzir dinheiro.
Enfim, somos programados para desenvolver uma aversão à riqueza e a santificar a pobreza. Com essas crenças formando a estrutural mental de um trader, como será o seu resultado no mercado? Afinal de contas, através de uma série de decisões, poderemos ver dinheiro entrando na conta da corretora na forma de lucros ou saindo dela, que são os prejuízos nas operações. Crenças limitantes são inconscientes a maior parte das vezes. O sujeito pode ficar triste por perder na bolsa num primeiro momento, mas inconscientemente pode estar alcançando exatamente aquilo que desejava.
Outra crença limitante é o sentimento de culpa. Muitas vezes esse sentimento vem da condenação da especulação. Especular foi visto ao longo da história como algo errado, parecido com o jogo ou algo até mais criminoso. O preconceito em países atrasados é ainda maior. As crises são sempre culpa dos especuladores, mas um ciclo de crescimento na economia não.
Nada mais injusto. O mercado financeiro talvez seja a melhor invenção da humanidade. A bolsa de valores é um grande gerador e distribuidor de riquezas, além de premiar os agentes eficientes e penalizar os ineficientes. Através do mercado, os empreendedores podem encontrar uma fonte de financiamento para os seus projetos. Através da competição, a eficiência aumenta e todos enriquecem. As práticas modernas de governança corporativa acontecem graças à pressão dos investidores, que querem saber como as empresas nas quais são acionistas estão sendo administradas. Aquelas que são mal administradas acabam sendo punidas por preços descendentes das suas ações e vêem secar as suas fontes de financiamento, enquanto no longo prazo as empresas bem administradas são premiadas com preços ascendentes nas suas ações e uma maior facilidade para levantar recursos.
O especulador é o óleo que lubrifica as engrenagens do mercado, oferecendo liquidez em troca de oportunidades de ganho. Sem especulador, não existe mercado para os investidores e para os tomadores de recursos. Os especuladores podem catalisar um movimento, mas não são responsáveis pelas bases econômicas que tornam esse movimento possível. Quando a moeda de um país é desvalorizada, a culpa final é pela má administração desse país, e não dos especuladores que vendem essa moeda em busca do lucro. A especulação apenas deixa a verdade vir à tona. Sem contar o fato que os especuladores correm riscos e a maior parte deles acaba tendo prejuízos na busca por um lucro maior. O risco é a mãe da evolução tecnológica e econômica e são os especuladores que sempre assumem riscos, alimento o crescimento. Apenas uma parcela deles acaba por lucrar no processo.
Claro que existem crises e falhas no sistema. Algumas vezes a busca do lucro a qualquer custo pode trazer ciclos artificiais de ganhos com grandes prejuízos no fim do processo, como foi na última crise do subprime nos EUA. Mas no final das contas o mercado se corrige, ou pelo menos seria corrigido se ele fosse mais livre.
Precisamos aceitar a especulação como uma atividade honesta. Tenho orgulho de ser um especulador e fomentar o crescimento do mercado financeiro do meu país. A minha busca pelo lucro em operações de curto prazo lubrificam todo um sistema que gera riqueza para a sociedade. No meu trabalho, uso informações públicas, que podem ser acessadas por qualquer um. Concorro em igualdade de condições. Trabalho duro e tenho os meus resultados. O que há de errado nisso?
_____________________________
Artigo originalmente publicado no site wwww.leandrostormer.com.br em 08/08/2010
A nossa estrutura mental é formada pelos nossos valores e crenças, que são desenvolvidas a partir de toda a experiência de vida. Desde antes do nascimento passamos por experiências que são registradas e moldam a nossa percepção. Ainda não existe uma definição exata para a consciência, mas sabemos que a forma como percebemos algum estímulo externo está intimamente ligada com as nossas experiências de vida e crenças formadas pelas mesmas.
Por exemplo, se em algum momento da sua vida a pessoa passa por uma experiência negativa como um acidente rodoviário, ela pode desenvolver uma reação negativo ao ruído de um automóvel. O fato de estar em movimento dentro de um carro pode passar a ser uma experiência muito desagradável. Talvez a pessoa tenha dificuldades em dirigir, ficando com medo de se envolver num acidente novamente. Os psicólogos chamam isso de trauma.
No mercado, experiências negativas como perdas numa determinada situação podem gerar também o mesmo mecanismo. O trader pode passar a ter medo de operar e incorrer em novas perdas. Esse medo pode dificultar a execução das estratégias, mas existe outro componente psicológico que pode ser ainda mais danoso.
As crenças negativas sobre a possibilidade de ganhar muito dinheiro, ou mesmo sobre a especulação (praticamente um palavrão), podem gerar um conflito interno que será resolvido no formato de prejuízos nas operações. Por incrível que pareça, às vezes é mais difícil aceitar os ganhos do que aceitar as perdas.
No Brasil esse é um problema ainda maior. Talvez por conta da nossa formação cultural ibérico-católica, de onde herdamos uma condenação à riqueza material e um estado paternalista que não estimula os empreendedores. Somos ensinados nos colégios católicos que é mais difícil um rico entrar no céu que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Nas novelas os ricos sempre são egoístas e malvados enquanto os pobres são os heróis. Chegar numa festa e falar para um amigo que você ouviu falar que ele está ganhando muito dinheiro é praticamente um xingamento. A própria palavra “ganhar” envolve a idéia de receber algo de alguém, em contraste com o “make money” usado nos EUA, literalmente produzir dinheiro.
Enfim, somos programados para desenvolver uma aversão à riqueza e a santificar a pobreza. Com essas crenças formando a estrutural mental de um trader, como será o seu resultado no mercado? Afinal de contas, através de uma série de decisões, poderemos ver dinheiro entrando na conta da corretora na forma de lucros ou saindo dela, que são os prejuízos nas operações. Crenças limitantes são inconscientes a maior parte das vezes. O sujeito pode ficar triste por perder na bolsa num primeiro momento, mas inconscientemente pode estar alcançando exatamente aquilo que desejava.
Outra crença limitante é o sentimento de culpa. Muitas vezes esse sentimento vem da condenação da especulação. Especular foi visto ao longo da história como algo errado, parecido com o jogo ou algo até mais criminoso. O preconceito em países atrasados é ainda maior. As crises são sempre culpa dos especuladores, mas um ciclo de crescimento na economia não.
Nada mais injusto. O mercado financeiro talvez seja a melhor invenção da humanidade. A bolsa de valores é um grande gerador e distribuidor de riquezas, além de premiar os agentes eficientes e penalizar os ineficientes. Através do mercado, os empreendedores podem encontrar uma fonte de financiamento para os seus projetos. Através da competição, a eficiência aumenta e todos enriquecem. As práticas modernas de governança corporativa acontecem graças à pressão dos investidores, que querem saber como as empresas nas quais são acionistas estão sendo administradas. Aquelas que são mal administradas acabam sendo punidas por preços descendentes das suas ações e vêem secar as suas fontes de financiamento, enquanto no longo prazo as empresas bem administradas são premiadas com preços ascendentes nas suas ações e uma maior facilidade para levantar recursos.
O especulador é o óleo que lubrifica as engrenagens do mercado, oferecendo liquidez em troca de oportunidades de ganho. Sem especulador, não existe mercado para os investidores e para os tomadores de recursos. Os especuladores podem catalisar um movimento, mas não são responsáveis pelas bases econômicas que tornam esse movimento possível. Quando a moeda de um país é desvalorizada, a culpa final é pela má administração desse país, e não dos especuladores que vendem essa moeda em busca do lucro. A especulação apenas deixa a verdade vir à tona. Sem contar o fato que os especuladores correm riscos e a maior parte deles acaba tendo prejuízos na busca por um lucro maior. O risco é a mãe da evolução tecnológica e econômica e são os especuladores que sempre assumem riscos, alimento o crescimento. Apenas uma parcela deles acaba por lucrar no processo.
Claro que existem crises e falhas no sistema. Algumas vezes a busca do lucro a qualquer custo pode trazer ciclos artificiais de ganhos com grandes prejuízos no fim do processo, como foi na última crise do subprime nos EUA. Mas no final das contas o mercado se corrige, ou pelo menos seria corrigido se ele fosse mais livre.
Precisamos aceitar a especulação como uma atividade honesta. Tenho orgulho de ser um especulador e fomentar o crescimento do mercado financeiro do meu país. A minha busca pelo lucro em operações de curto prazo lubrificam todo um sistema que gera riqueza para a sociedade. No meu trabalho, uso informações públicas, que podem ser acessadas por qualquer um. Concorro em igualdade de condições. Trabalho duro e tenho os meus resultados. O que há de errado nisso?
_____________________________
Artigo originalmente publicado no site wwww.leandrostormer.com.br em 08/08/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário