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quarta-feira, 19 de junho de 2013

ANÁLISE INICIAL sobre os ATOS do “MOVIMENTO de PASSE LIVRE”

ANÁLISE INICIAL SOBRE OS ATOS DO “MOVIMENTO DO PASSE LIVRE”

Farei uma análise inicial do "MOVIMENTO DO PASSE LIVRE", sendo que já cheguei a participar de um dos atos.
O movimento teve início em São Paulo para baixar a tarifa do transporte coletivo e aos poucos foram se ampliando as pautas. Está tendo uma popularização deste movimento que na verdade é uma “revolta popular” e está se espalhando nas periferias e em várias cidades do Brasil, tornando-se um dos maiores que o país já viu. O movimento surpreendeu porque há muito tempo havíamos classificado a juventude como alienada e ela mostrou o quanto estávamos enganado.
Inicialmente, o governador Alckimin auxiliado pela mídia burguesa chama os manifestantes de violentos e vândalos. Estranhamento, de repente, vira tudo. O colunista burguês Arnaldo Jabor na Globo pede desculpas, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e Blogues direitistas entram no movimento e a manifestação em SP está tendo uma infiltração da extrema-direita, que desvirtua o movimento por meio da baderna e da depredação. A extrema-direita está se apropriando do movimento para “dar oportunidade de exercer, na prática, a sua fé fascista e antidemocrática”.
Importante destacar que a luta pela “redução da tarifa do ônibus” abre a perspectiva de se lutar pela "tarifa zero no transporte público” e mais uma série de coisas. Concordo com o  Jilmar Tatto quando este propõe que o "usuário de transporte individual também precisa arcar com os custos do transporte coletivo, assim como a Prefeitura e os empresários."
Esta luta pode significar valorizar o "transporte coletivo-público de qualidade" e coisas importantes, tais como “a necessidade de se taxar os ricos”; “a necessidade de se taxar o transporte individual para valorizar o coletivo-público”; “necessidade de superação da lógica de direcionamento de verbas no Brasil que privilegia o capital especulativo”. O movimento questionaria “as contradições centro-periferia em  metrópoles como a de São Paulo”. É necessário trazer mais empregos, redes de serviço, opções de lazer e infra-estrutura na periferia, pois está quase tudo concentrado na região central. Temos de levar a "periferia para o centro", mas temos que levar "infra-estrutura para a periferia" sem isto significar especulação imobiliária (com supervalorização do preço dos terrenos/IPTU e aluguéis). Precisamos superar e enterrar a lógica capitalista de especulação imobiliária. O movimento do passe-livre é importante, pois sinaliza uma superação das contradições da sociedade capitalista. Mas é preciso politizar mais para que alcancemos isso.
Depois de ir a atos, percebo algumas coisas, tais como que o movimento está sem comando e desorganizado. As pessoas "vão e vem que nem barata-tonta" e não decidem o que fazer, etc. Isto por outro lado é positivo, pois confunde a polícia. Justamente pela falta de comando e espontaneísmo, este movimento está em disputa por vários grupos, o que é perigoso. Disputam o movimento pessoas de partido de esquerda (de ultras à tradicionais como PSTU/PSOL), grupos anarquistas e burgueses (que estão na grande mídia, etc).
Percebi que existe uma grande insatisfação com os partidos políticos, principalmente com os de esquerda. Isto é culpa do PT que abandonou os movimentos sociais e virou mais um partido burocrata que reproduz o sistema capitalista.
Esta insatisfação com os partidos de esquerda é negativa, pois dá margem à manobra de alguns grupos. A burguesia tem se aproveitado para dizer que "nenhum partido de esquerda é bom" e que somente eles são bons. Também tenho medo que daí nasça um movimento fascista (que nem ocorreu na Espanha-Itália) e que se tente um golpe de Estado "fechando parlamentos com partidos que não funcionam".
Os anarquistas também estão se apropriando desta insatisfação com os partidos políticos de esquerda e estão tentando levar vantagem no movimento. Estão reprimindo os partidos de esquerda nos atos (principalmente PSTU e PSOL), mas são oportunistas, pois "escondem suas bandeiras" e tentam se aproveitar do "clamor popular" para agredir-reprimir militantes de esquerda. Estes militantes anarquistas não levam bandeiras e nem camisas de grupos. Antonio Gramci já dizia:
"Os 'partidos' podem se apresentar com os mais diversos nomes, incluindo o de antipartido ou de 'negação de partidos'. Na realidade, até os chamados 'individualistas' são homens de partido, apenas gostariam de ser 'chefe de partido' pela graça de Deus ou da imbelicidade de quem os segue."
Este movimento possui suas limitações justamente pelo caráter espontaneísta e apartidário, mas tenho esperanças que mais coisas podem ser alcançadas por este movimento, que se nasça uma "frente de esquerda" e uma perspectiva de superação de paradigma civilizatória (morte do sistema capitalista). Entretanto, vejo que coisas boas estão acontecendo: como o fim do "imobilismo apático" do brasileiro (principalmente de sua juventude), uma consciência política em seus participantes (que poderia ser melhor se houvesse mais organização no movimento) e uma pressão-choque nos políticos brasileiros que devem governar para o povo.
É necessário que os militantes dos partidos de esquerda façam uma profunda avaliação do atual movimento. O movimento poderia se aliar mais às causas populares, como as de moradia urbana, para garantir credibilidade e se popularizar ainda mais.
Quem sabe que se de agora em diante o brasileiro vai sempre para a rua expor sua opinião e pressionar os políticos. Quem sabe se conseguíssemos superar a sociedade capitalista. Quem sabe possamos conseguir que tenhamos uma participação popular em todas as decisões sociais. Quem sabe se conseguíssemos acabar com as desigualdades de classes sociais e dividirmos as riquezas entre todas as pessoas.
Sonha é bom.

Lutar é melhor ainda.

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