ANÁLISE INICIAL SOBRE OS ATOS DO “MOVIMENTO
DO PASSE LIVRE”
Farei uma análise
inicial do "MOVIMENTO DO PASSE LIVRE", sendo que já cheguei a
participar de um dos atos.
O
movimento teve início em São Paulo para baixar a tarifa do transporte coletivo
e aos poucos foram se ampliando as pautas. Está tendo uma popularização deste movimento
que na verdade é uma “revolta popular” e está se espalhando nas periferias e em
várias cidades do Brasil, tornando-se um dos maiores que o país
já viu. O movimento surpreendeu porque há muito
tempo havíamos classificado a juventude como alienada e ela mostrou o quanto
estávamos enganado.
Inicialmente,
o governador Alckimin auxiliado pela mídia burguesa chama os manifestantes de
violentos e vândalos. Estranhamento, de repente, vira tudo. O colunista burguês
Arnaldo Jabor na Globo pede desculpas, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e
Blogues direitistas entram no movimento e a manifestação em SP está tendo uma infiltração da extrema-direita, que desvirtua o
movimento por meio da baderna e da depredação. A extrema-direita está se
apropriando do movimento para “dar oportunidade de exercer, na prática, a sua
fé fascista e antidemocrática”.
Importante
destacar que a luta pela “redução da tarifa do ônibus” abre a perspectiva de se
lutar pela "tarifa zero no transporte
público” e mais uma série de coisas. Concordo com o Jilmar Tatto quando este propõe que o
"usuário de transporte individual também precisa arcar com os custos do
transporte coletivo, assim como a Prefeitura e os empresários."
Esta
luta pode significar valorizar o "transporte
coletivo-público de qualidade" e coisas importantes, tais
como “a necessidade de se taxar os ricos”; “a necessidade de se taxar o
transporte individual para valorizar o coletivo-público”; “necessidade
de superação da lógica de direcionamento de verbas no Brasil que privilegia o
capital especulativo”. O movimento questionaria “as contradições
centro-periferia em metrópoles como a de
São Paulo”. É necessário trazer mais empregos, redes de serviço, opções de
lazer e infra-estrutura na periferia, pois está quase tudo concentrado na
região central. Temos de levar a "periferia para o centro", mas temos
que levar "infra-estrutura para a periferia" sem isto significar
especulação imobiliária (com supervalorização do preço dos terrenos/IPTU e
aluguéis). Precisamos superar e enterrar a lógica capitalista
de especulação imobiliária. O movimento do passe-livre é importante,
pois sinaliza uma superação das contradições da sociedade capitalista. Mas é
preciso politizar mais para que alcancemos isso.
Depois de ir a atos,
percebo algumas coisas, tais como que o movimento está sem comando e
desorganizado. As pessoas "vão e vem que nem barata-tonta" e não
decidem o que fazer, etc. Isto por outro lado é positivo, pois confunde a
polícia. Justamente pela falta de comando e espontaneísmo, este movimento está
em disputa por vários grupos, o que é perigoso. Disputam o movimento pessoas de
partido de esquerda (de ultras à tradicionais como PSTU/PSOL), grupos
anarquistas e burgueses (que estão na grande mídia, etc).
Percebi que existe
uma grande insatisfação com os partidos políticos, principalmente com os de
esquerda. Isto é culpa do PT que abandonou os movimentos sociais e virou mais
um partido burocrata que reproduz o sistema capitalista.
Esta insatisfação com
os partidos de esquerda é negativa, pois dá margem à manobra de alguns grupos.
A burguesia tem se aproveitado para dizer que "nenhum partido de esquerda
é bom" e que somente eles são bons. Também tenho medo que daí nasça um
movimento fascista (que nem ocorreu na Espanha-Itália) e que se tente um golpe
de Estado "fechando parlamentos com partidos que não funcionam".
Os anarquistas também
estão se apropriando desta insatisfação com os partidos políticos de esquerda e
estão tentando levar vantagem no movimento. Estão reprimindo os partidos de
esquerda nos atos (principalmente PSTU e PSOL), mas são oportunistas, pois "escondem
suas bandeiras" e tentam se aproveitar do "clamor popular" para
agredir-reprimir militantes de esquerda. Estes militantes anarquistas não levam
bandeiras e nem camisas de grupos. Antonio Gramci já dizia:
"Os 'partidos' podem se apresentar com os mais diversos
nomes, incluindo o de antipartido ou de 'negação de partidos'. Na realidade,
até os chamados 'individualistas' são homens de partido, apenas gostariam de
ser 'chefe de partido' pela graça de Deus ou da imbelicidade de quem os segue."
Este
movimento possui suas limitações justamente pelo caráter espontaneísta e
apartidário, mas tenho
esperanças que mais coisas podem ser alcançadas por este movimento, que se
nasça uma "frente de esquerda" e uma perspectiva de superação de
paradigma civilizatória (morte do sistema capitalista). Entretanto, vejo que coisas
boas estão acontecendo: como o fim do "imobilismo apático" do
brasileiro (principalmente de sua juventude), uma consciência política em seus
participantes (que poderia ser melhor se houvesse mais organização no
movimento) e uma pressão-choque nos políticos brasileiros que devem governar
para o povo.
É necessário que os
militantes dos partidos de esquerda façam uma profunda avaliação do atual
movimento. O movimento poderia se aliar mais às causas populares, como as de
moradia urbana, para garantir credibilidade e se popularizar ainda mais.
Quem sabe que se de
agora em diante o brasileiro vai sempre para a rua expor sua opinião e
pressionar os políticos. Quem sabe se conseguíssemos superar a sociedade
capitalista. Quem sabe possamos conseguir que tenhamos uma participação popular
em todas as decisões sociais. Quem sabe se conseguíssemos acabar com as
desigualdades de classes sociais e dividirmos as riquezas entre todas as
pessoas.
Sonha é bom.
Lutar é melhor ainda.
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