Reflexões acerca da greve dos
professores da rede estadual de São Paulo em 2015
Wladimir Jansen Ferreira (EE Nigro
Gava)
No
primeiro semestre de 2015 ocorreu a maior greve derrotada da história dos
professores da rede estadual de São Paulo. Apesar de ser a maior greve da
história em dias (92), esta foi derrotada politicamente e economicamente, não
tendo nada de vitorioso.
Não
havia uma mobilização da categoria para a decretação da greve, apesar ser
vontade da maioria das forças políticas presentes na esvaziada Assembléia de
13/03 que decretou o seu início. A categoria estava desmobilizada pelas
constantes derrotas das greves dos últimos anos (sendo que a greve anterior de
2013 havia acabado melancolicamente com a manipulação do resultado da Assembléia
pela Bebel/Articulação do PT). A APEOESP estava desmoralizada e impotente pela
ação desmobilizadora da burocracia no interior do sindicato e ressentida pelas
manobras burocráticas ocorridas no último Congresso em 2014 (que levou à uma
retirada das oposições deste).
Foi
decretado a greve no dia 13/03/2015 com a menor presença de professores em uma
Assembléia da categoria (menos de 4 mil professores), demonstrando que a
mobilização era muito pequena. Para piorar, a “Articulação Sindical” manipulou
esta assembléia para a participação no ato “pró-governo Dilma” que aconteceria
logo em seguida (este que tentaria se opor ao primeiro ato da direitas que se
realizaria no dia 15/03/2015). Acertadamente alguns professores se retiraram do
ato pró-governo Dilma logo ao fim da Assembléia da categoria. Apesar desta divisão,
houve uma confusão na categoria, pois esta entendeu que todo o movimento era de
apoio ao governo Dilma e não pelas reivindicações dos professores. Custou muito
trabalho dos “Comandos de Greve” para que esta confusão fosse esclarecida.
Discordo
das posições que defendiam que a greve poderia ter começado somente no dia
30/03, quando ocorreria uma negociação com o governo Alckmin. Entendo que uma
greve possa ser construída de duas formas: “chamada pela direção” ou “nascida
espontaneamente pela base”. Pelo sindicato ser dirigido estadualmente pela
“Articulação Sindical” (que comanda desorganizadamente-despolitizadamente a
APEOESP) e pela crise do sindicato, foi acertado que se decretasse a greve no
dia 136/03/2015 para se “testar a política”. Correríamos o risco da greve nunca
ser decretada, se esperássemos a mobilização da base, ainda mais em um cenário
de desmobilização da luta e do sindicato.
A
greve falhou por vários motivos, começando que não era clara a ordem de
prioridades. A pauta estava extensa e que a reivindicação de 75% de aumento
salarial era maior que as pernas. Talvez o ideal fosse defender a luta pela
reposição de 37% de perdas do governo Alckmin.
Graças
à atuação dos “Comandos de Greve”, esta se fortaleceu no final do mês de Março
e se manteve durante boa parte do mês de Abril, mas não chegou à uma adesão de
mais de 40%. Nos dias de Assembléia estadual, esta mobilização aumentava para
60% e 70%, mas depois retrocedia aos níveis iniciais. As Assembléias Regionais
eram muito esvaziadas (com exceção de algumas), não chegando à uma participação
de 5% à 10% de filiados regionais.
Aos
poucos a greve foi enfraquecendo e deveríamos ter defendido o recuo da greve no
começo de Maio. Infelizmente se fez mais forte a pressão dos
ultra-esquerdistas/horizontalistas e da “Articulação Sindical” que defenderam a
continuidade da greve. A defesa do recuo da greve começou a ser defendida somente
na primeira semana de Junho.
O
fracasso da greve aumentou a desfiliação
no sindicato e o descrédito da categoria na luta sindical. Os grupos horizontalistas
e ultra-esquerdistas se fortaleceram, mas é necessário criticar suas políticas
e seus métodos. Estes fizeram um jogo-duplo, mais preocupados em defender a
“Articulação Sindical e criticar a Oposição Alternativa”, do que criticar o
governo Alckmin.
Infelizmente
a “Unidade na Ação” com a “Articulação Sindical” significou uma capitulação à
política da “burocracia sindical”. O correto seria denunciar constantemente a
“burocracia sindical” nas Assembléias e nos “Comandos de Greve”, mostrando que
não tínhamos confiança nenhuma na Bebel e que defenderíamos “rebeliões de base”
nas primeiras traições (que ocorreram o tempo todo no período de greve),
“passando por cima” das direções burocráticas.
Também
deveria ser necessário se defender a criação de “Comandos de Base” (ou um “Comando
Geral de Mobilização”) que se oporia ao burocrático CR, aonde teríamos a
eleição de militantes da base que decidiria os rumos e a organização da greve.
Os integrantes deste Comando deveriam ser eleitos pelas subsedes, aonde a
vanguarda tem um maior poder de decisão. Isto poderia mudar o rumo de nossa
Assembléia, superando – inclusive – o “desvio mandelista” de nossa greve (onde
a política seria decidida não mais pela vanguarda, mas pelas massas).
Outro
motivo de nossa greve fracassar foi a não construção de uma “unificação das
lutas”, fato que também contribuiu ao esgotamento e isolamento de nossa greve. Foi
correta a iniciativa de exigência que a CNTE unificasse nacionalmente as lutas
dos “trabalhadores da educação e dos estudantes”. Entretanto, não foi
construída uma unificação com os “servidores públicos e das estatais do estado
de São Paulo” (garis, Sabesp, Metrô, funcionários de universidades, etc) que
estavam em ampla mobilização. Também não foi construída uma unidade com as
“entidades do magistério” (CPP, UDEMO, APASE e AFUSE), que, por mais que
estivessem colaborando com Alckmin na “farsa da negociação”, deveríamos ter
mobilizado suas bases para a construção de uma greve unificada. Deveríamos ter
construído calendários unificados para buscar furar o bloqueio da unificação de
lutas pelas direções burocráticas.
Apesar
dos erros, não podemos nos deixar esmorecer e nem nos achar desmoralizados.
Temos que confiar na mobilização e na atuação na base para continuar a luta
pelas reivindicações da categoria. Bons
ventos sopraram do movimento contra a reorganização da rede estadual de São
Paulo e reacendeu a chama da esperança.
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