____
APOSTILA - PROF. NEY JANSEN
O
QUE É POLÍTICA?
POLÍTICA PRA QUÊ?
Política, na cabeça de muita gente é atividade para
prefeito, governador e parlamentar. Por isso quando se pensa em política, logo
vem na cabeça a idéia de um candidato caçando voto, fazendo promessas e mais
promessas, para depois sumir e só aparecer nas próximas eleições, prometendo
tudo outra vez...Política para muitos, é pura perda de tempo e bate-boca que
não leva a nada, pois “todos os políticos são iguais”, “nunca resolvem os
problemas do povo”, “nem mudam a situação”, “sempre foi assim, e vai
continuar sendo”. Por isso, “que cada um cuide de si...”.
POR QUE MUITA GENTE PENSA ASSIM?
É que essa idéia ao ser metida na cabeça de muita gente
acaba favorecendo as classes dominantes, os poderosos, as elites, os patrões,
os ricos, para manter o povo ignorante e afastado das decisões. Se o povo não
faz política, não participa, não se organiza, os ricos podem fazer política e
continuar mandando sozinhos. Por isso muitos dizem que, “política é coisa para os políticos,
trabalhador tem é que trabalhar”... “Sempre houve e sempre haverá pobres e
ricos, patrões e empregados, pois isso é coisa da natureza humana”...
A POLÍTICA MEXE COM A VIDA DE TODOS?
Na verdade, não dá para deixar de fazer política. Mesmo não
querendo, a gente acaba tomando parte na política. Fazemos política quando
ficamos a favor ou contra o que está acontecendo. Também fazemos política se
ficamos quietos no nosso canto, deixando as coisas como estão.
Leia esse poema de Bertold Brecht e reflita sobre ele:
O
Analfabeto Político
“O pior analfabeto é o analfabeto
político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o
preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio,
dependem das decisões políticas.
O Analfabeto político é tão burro que se
orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil que de sua ignorância
política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos
os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio das
empresas nacionais e multinacionais”.
Portanto há duas
maneiras de fazer política: participando, opinando, influindo; ou deixando que
os poderosos e seus representantes façam em nosso lugar, enquanto a gente fica
calado, consentindo...
DE ONDE VEM A POLÍTICA?
Política é uma relação social. É qualquer atividade que se relaciona com o poder. Se a política
envolve relações de poder, então o que significa exercer o poder?
Poder é a capacidade do indivíduo impor seus interesses frente a outros.
Assim, em nossa sociedade, várias são as pessoas que possuem poder: o pai, o
professor, o gerente, o padre, o militar, o patrão.
A vida é como uma diversidade de atos políticos.
Descobrimos a defesa dos nossos ideais, aprendemos a questionar, participar, duvidar, criar, exigir,
transformar. Por isso política também envolve o debate, o esclarecimento e a conscientização das relações
sociais que nos cercam. Mas a política também envolve conflito, pois a diversidade de interesses surge quando os indivíduos se
relacionam.
POLÍTICA VEM DA GRÉCIA
A palavra política é grega, é
derivada do termo Pólis. A Pólis na Grécia Antiga significava
“cidade” que passou a substituir as antigas aldeias dispersas.
No século V AC, um legislador chamado Clístenes instituiu direitos para todos os cidadãos por meio da participação
direta por comparecimento à Assembléia. Antes a Grécia
era governada por tiranias. A partir da reforma de Clístenes
se instituiu uma forma de governo chamada Democracia. O cidadão grego se reunia na Pólis
e as Assembléias aconteciam na Ágora (Praça pública).
O que levou Clístenes a implementar essa reforma na
sociedade foi porque comerciantes e artesãos
tornaram-se numerosos e passaram a se opor à oligarquia dona de terras:
passaram a reivindicar participação política no governo. Os pobres por outro
lado queriam a abolição da escravidão por dívidas e a reforma agrária. A fim de
se evitar uma revolução social que subvertesse a ordem da sociedade, Clístenes
resolve ampliar a participação política para todos os cidadãos.
A DEMOCRACIA GREGA
Na Grécia Antiga se institui a Democracia. Demo significa em grego povo e Cracia significa governo. Ou seja, o significado da palavra
democracia é “governo do povo”.
Mas na Grécia Antiga a política não era um direito de
todos. Eram considerados cidadãos (aqueles que
podiam participar da vida política) apenas os homens maiores de 30 anos e
proprietários de terras. As mulheres, os escravos e os estrangeiros não
votavam. Dos 400 mil habitantes na Grécia Antiga apenas 40 mil era cidadãos.
Metade da população era formada por escravos (200 mil habitantes).
Essa forma de organização da sociedade grega será chamada
de Modo de Produção Escravista, pois toda a
sociedade se baseava na divisão entre escravos e homens livres. Essa sociedade
desenvolveu uma cultura de servidão na qual os
proprietários podiam se dedicar à arte, a literatura, a política, a filosofia,
pois uma massa de escravos estava sempre pronta a servi-los e a desenvolver
todo o trabalho braçal e doméstico.
É por isso que um dos maiores filósofos da época, Platão, dirá que: “É próprio do homem bem nascido desprezar o trabalho”.
DEMOCRACIA: DIRETA OU REPRESENTATIVA?
Democracia significa governo do povo. Ela se contrapõe
a duas outras formas: a monarquia (o governo de um só) e à aristocracia
(o governo de poucos, da minoria).
Mas na Grécia Antiga prevaleceu a democracia direta,
todos os cidadãos participavam diretamente das decisões de governo através das
Assembléias dos Demos nas Praças da Pólis.
Democracia na Grécia significava governo dos demos,
pois era nos demos que aconteciam as discussões políticas e onde se
mandavam os representantes para a Assembléia de todos os demos através
de sorteio ou, por eleições mensais.
Apesar da democracia grega ser uma democracia limitada
por conta da existência da escravidão, a idéia de democracia como
governo do povo, do cidadão, e a forma de organização direta da população são
as grandes heranças do povo grego para a sociedade contemporânea.
Será apenas na sociedade burguesa e industrial dos
séculos XVIII e XIX que a democracia assumirá uma outra forma. Nesse
momento, nasce a idéia liberal de divisão dos poderes e do
exercício do poder pela representação: na impossibilidade de milhões de
indivíduos exerceram o poder ao mesmo tempo, delega-se esse poder
temporariamente a representantes eleitos pelo sufrágio universal. Surge assim a
democracia representativa que pode ser presidencialista ou parlamentarista.
A participação do povo na Grécia Antiga se dava de
maneira direta, envolvendo todos os cidadãos nas decisões de governo. Nas democracias
representativas a participação do povo se dará apenas através do voto a
cada 4 anos se delegando a representantes no Parlamento o controle das decisões
políticas de nossas vidas através das Leis.
A burguesia assumirá pela primeira vez o controle do
Estado através da Revolução Gloriosa (1688 na Inglaterra) e, mais tarde,
através da Revolução Francesa de 1789. A monarquia, os nobres, serão
afastados do poder. Nos séculos XVII e XVIII a burguesia acabará com a
diferença entre nobres e plebeus, mas votavam apenas os que
tinham determinado rendimentos e posses. É o voto censitário ou voto por
renda.
Foi apenas a partir do século XIX, início do XX que os
trabalhadores avançaram na realização dos direitos políticos (como o direito de
voto universal) e, mais tarde através de direitos trabalhistas.
O HOMEM COMO “ANIMAL
POLÍTICO”
A vida em sociedade é uma necessidade da natureza
humana. Nenhum indivíduo vive sozinho.
Por natureza todos os homens nascem iguais e é a sociedade
que estabelece as diferenças e desigualdades, o que significa que essas
diferenças entre seres humanos são artificiais, não naturais. Esse reconhecimento
da igualdade essencial entre seres humanos não quer dizer que não
existam diferenças individuais, que cada indivíduo tenha a sua aptidão, sua
individualidade, seu modo de ser e pensar. Mas, todos os seres humanos são
seres sociais e todos valem essencialmente a mesma coisa, todos devem ter os
mesmo direitos e os mesmos deveres.
Não será justa uma sociedade na qual apenas alguns
decidam sobre a organização de nossas vidas e na qual apenas alguns possuem
direitos e a maioria apenas deveres.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão, escrita após a Revolução Francesa de 1789, afirma no seu artigo 21
que “todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país...
e que... a vontade do povo será a base da autoridade do governo”.
Mas se a democracia é o governo de todos por
que na Grécia Antiga apenas 10% da população tinha direitos políticos? Porque
na Idade Média apenas os Reis, a Igreja, e os proprietários de terras tinham
direitos? Porque na sociedade capitalista a política é uma coisa só pra ricos,
para os poderosos?
A LUTA DE CLASSES
O filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883)
afirmará que a desigualdade social faz surgir a luta entre as classes
porque:
“A história de todas as sociedades que existiram até
hoje tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício
e plebeu, barão e servo...numa palavra, opressores e oprimidos, em constante
oposição, têm vivido uma guerra ininterrupta, ora aberta, ora disfarçada: uma
guerra que sempre terminou ou por uma transformação revolucionária de toda a
sociedade, ou pela destruição das duas classes em luta...”. (Trecho do
“Manifesto do Partido Comunista” -Marx, 1848).
De acordo com Karl Marx a história da humanidade é
marcada pela existência de classes sociais antagônicas e a luta entre as
classes é que seria “o motor da história”.
Classes sociais são agrupamentos sociais
antagônicos em que um grupo se apropria do trabalho do outro por causa do lugar
diferente que ocupam na estrutura econômica de um modo de produção determinado,
lugar que está determinado fundamentalmente pela forma específica em que se
relaciona com os meios de produção.
De acordo com Karl Marx, toda sociedade se organiza
através de um Modo de Produção ou sistema econômico. Modo de
produção é a maneira como cada sociedade produz seus bens e serviços, como os
utiliza e os distribui.
Dizemos que na Antiguidade havia um Modo de
Produção Escravista pois os proprietários de terras (Grécia e Roma Antigas)
se apropriavam do trabalho escravo. Na Idade Média havia um Modo de
Produção Feudal porque os senhores feudais e a Igreja Católica se
apropriavam do trabalho dos servos nas terras. Na Idade Contemporânea há
o Modo de Produção Capitalista pois a burguesia, o patrões, são os
proprietários dos meios de produção (fábricas, terras, máquinas) e do capital
(dinheiro) e exploram o trabalhador em troca de um salário para garantir sua
subsistência.
A LUTA PELOS
DIREITOS POLÍTICOS E SOCIAIS
Antes do aparecimento dos socialistas houve muita
gente que protestou contra as desigualdades sociais e políticas, contra a
concentração de riquezas em poucas mãos.
No Império Romano por exemplo, os irmãos Tibério
e Caio Graco no século II foram eleitos tribunos (deputados) do povo e
defendiam uma reforma agrária. Contrariando os interesses dos grandes
proprietários, foram assassinados. Na mesma Roma o famoso escravo Espártaco
liderou milhões de escravos, em revoltas que fizeram tremer o Império vencendo
o exército romano em algumas batalhas.
As idéias socialistas no entanto, só aparecem na
história depois da Revolução Francesa, no século XVIII.
HISTÓRIA: A REVOLUÇÃO BURGUESA CONTRA O FEUDALISMO
A Idade
Média durou de 496 até 1453. O que caracterizava a sociedade feudal era a
existência do Feudo (latifúndio) e do castelo murado como moradia
fortificada como proteção às invasões bárbaras.
O senhor feudal e os nobres, reis, príncipes, barões, duques, possuíam a
posse da terra. Nela trabalhavam milhares de servos que aravam a terra
do senhor numa total relação de subserviência econômica, num sistema de deveres
e obrigações. A Igreja também era uma grande proprietária de terras (1/3
a 1/2 das terras da Europa Ocidental) justificando sua dominação com base na
vontade de Deus.
Praticamente inexistia mercado, toda a produção era no
feudo. O excedente era levado pelos comerciantes para fora das zonas rurais
onde eram trocados nas feiras das pequenas cidades.
Mais tarde, comerciantes e Reis se
uniram contra o domínio dos senhores feudais e instituíram no século XVI
o Estado absolutista.
Esse acordo permitiu que o poder político fosse
retirado dos senhores feudais e centralizado nas mãos dos Reis (criação
dos impostos, exército, moeda única, decretos-Lei). Em troca, os Reis
editam decretos em defesa da liberdade dos burgueses (comerciantes) de
vender e comprar seus produtos: assim nasce o livre-comércio através das
primeiras Companhias de Livre Comércio.
Com a criação do Estado Absolutista (séculos XV e
XVI) a burguesia comercial passa a adquirir poder econômico
expandindo seus negócios. É a época das Grandes Navegações com a Descoberta
da América (1492) com o extermínio dos povos indígenas e o roubo das
riquezas da América (ouro, prata, madeira, cana-de-açúcar, etc). Tudo isso era
financiado pela Igreja, Reis e comerciantes.
O desenvolvimento da burguesia comercial levará
ao surgimento das manufaturas e depois as indústrias através da Revolução
Industrial do século XVIII. Surge assim a burguesia industrial.
A burguesia passa a reivindicar a participação
política se apoiando na insatisfação dos camponeses, pequenos comerciantes e
artesãos que viviam na miséria.
A burguesia se revoltará contra a dominação da Monarquia
e da Igreja. Surge a filosofia da razão (“penso, logo existo”
–Descartes). Desenvolve-se a ciência (física, astronomia, biologia,
matemática). A burguesia passa a criticar a ordem social da Idade Média e a sua
Ideologia, baseada na dominação pela vontade divina e na explicação
teológica do mundo. A Teologia, baseada na tradição, na revelação, se torna
adversária da razão científica.
Segundo Francis Bacon (1561-1626), filósofo da
época: “a teologia deixou de ser a forma norteadora do pensamento”.
Historiadores e filósofos como Vico (1668-1744) e David Hume
(1711-1776) negam a teologia afirmando: “os homens fazem sua própria história”.
O filósofo Montesquieu (1689-1755) criticará
não só a teologia como as instituições políticas e a sociedade feudal
afirmando: “as instituições feudais eram injustas e irracionais e impediam a
liberdade”; “o homem é dotado de uma razão natural”; “deve-se
eliminar essas instituições se elas são irracionais”. Essas palavras de
Montesquieu eram um convite a Revolução. Montesquieu era um “iluminista”.
O ILUMINISMO
O século XVIII (século da Revolução Francesa)
foi chamado de “O século das Luzes”. Muitos escritores,
cientistas e filósofos daquele tempo (Descartes, Voltaire, Montesquieu,
Rousseau, Diderot) estavam convencidos de que “as luzes da razão iriam dissipar
as trevas da ignorância e da superstição”, pois finalmente, através do progresso
econômico, os homens poderiam viver num mundo melhor. Esse conjunto de
idéias baseado no progresso e na razão científica recebeu o nome
de Iluminismo. Os Iluministas contestavam a sociedade estamental.
Para eles, a desigualdade social era provocada pelos próprios homens e não por
desejo de Deus (como afirmava a Igreja). Os filósofos iluministas promoviam discussões
públicas e privadas acerca de suas idéias. Essas idéias iluministas
influenciaram movimentos como a Revolução Francesa, a Independência dos Estados
Unidos (1776) e a Inconfidência Mineira (1789) no Brasil.
Em resumo, as idéias ilumistas servirão de base
intelectual e filosófica para os líderes da grande Revolução Francesa
(1789-1799):
Situada no quadro das revoluções burguesas que
caracterizaram o Ocidente, nela surgiram os conceitos de esquerda e direita,
a primeira Assembléia Nacional Constituinte e a prática da guerra
revolucionária.
Apesar de ter levado a burguesia ao poder político, a
revolução não foi somente burguesa, contando também com a participação dos
camponeses e da massa dos pobres urbanos (sans-culottes) que em Paris somavam
cerca de 600 mil. A Queda da Bastilha (14/07/1789) constitui-se no
primeiro passo desse importante movimento, que se estendeu durante dez anos,
num processo revolucionário que radicalizou a sociedade.
A burguesia assustada com as conseqüências da
revolução e com medo que os camponeses e os pobres resolvessem tomar o poder
apoiará a liderança político-militar de Napoleão Bonaparte em 1799. Mas
a Revolução Francesa já tinha cumprido o seu papel histórico. A França deixou
de ser absolutista e feudal. Estavam abertas as portas para o desenvolvimento
do capitalismo.
A REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
A Revolução Industrial é o período na história em que
há uma grande revolução tecnológica. Essas transformações ocorreram
primeiro na Inglaterra por volta de 1750. Essa revolução afetou a maneira como
se produziam as mercadorias.
Surgem as máquinas: máquina a vapor, máquina de
fiar, locomotivas, arados mecânicos, etc. São descobertas grandes jazidas de
ferro e de carvão. A conseqüência é que as mercadorias passam a ser produzidas
em velocidade e quantidade cada vez maior.
Com o desenvolvimento tecnológico, se aumentava a
produção tanto no campo como na cidade. Os camponeses, na Inglaterra e depois
na Europa, são expulsos de suas terras para servirem de mão de obra para as
fábricas nas cidades. As terras comunais em que antes o camponês trabalhava
passam a se tornar pastagens para a criação de ovelhas, onde a produção de lã
era vendida como matérias prima para as primeiras grandes fábricas do mundo
moderno: as fábricas de tecidos.
O artesão (sapateiro, marceneiro, tecelão, etc)
que produzia sua mercadoria sozinho e a vendia no mercado passa a ser obrigado
a trabalhar nas fábricas como operário, pois não conseguia enfrentar a
concorrência das fábricas onde a produtividade era maior.
Surgem assim duas figuras: a do capitalista,
dono da fábrica e do operário, despossuído dos meios de produção (a
terra no caso do camponês e os instrumentos de trabalho no caso do artesão). O
operário passa a trabalhar em troca de um salário mínimo apenas para sua
subsistência e reprodução física. Surge assim o sistema de trabalho
assalariado. Os operários estavam sujeitos à intensa exploração:
trabalhavam 10, 12 horas por dia com baixos salários. Mulheres e crianças
também.
A grande migração campo-cidade transforma de vez as
antigas sociedades rurais. As cidades se urbanizam, aumenta cada vez mais o
crescimento demográfico. Os costumes e instituições das sociedades rurais e
feudais se desintegram. É o início da sociedade capitalista moderna tal qual a
conhecemos hoje.
As transformações econômicas (Revolução Industrial)
estavam relacionadas às transformações nas formas de pensamento (filosofia
Iluminista) e às transformações políticas (Revolução Francesa).
LIBERALISMO E
DEMOCRACIA
A palavra liberalismo vem de livre-comércio. O liberalismo
surge como uma corrente de idéias que corresponde aos interesses econômicos e
políticos da burguesia, quer dizer, refletia os interesses dos comerciantes e
industriais que não se conformavam com as Leis e Instituições da sociedade
feudal. Os liberais passam a defender valores como liberdade e igualdade
e a democracia representativa como forma de governo. Mais tarde os
socialistas afirmarão que na verdade, a liberdade e a democracia para os
liberais eram uma liberdade para a burguesia e uma democracia para a
burguesia.
Após a Revolução Francesa houve um súbito aumento da
participação popular na vida política desencadeando revoltas contra as péssimas
condições de vida, passando a incomodar os interesses econômicos e políticos da
burguesia.
Filósofos iluministas como Jean Jacques Rousseau
(1712-1778) criticavam “a desigualdade das fortunas, o uso e o abuso das
riquezas”. Rousseau chegará a afirmar que a desigualdade surgiu com a propriedade
privada. A conclusão de Rousseau será o ponto de partida para as reflexões
dos pensadores socialistas do século XIX.
Na democracia liberal existe o sufrágio
universal (todos os cidadãos votam). Todos os cidadãos são iguais
perante a Lei. Mas, os milhares de desempregados ou que vivem no
subemprego, com baixos salários, vivendo nas periferias das cidades, sem
direito às necessidades básicas (educação, saúde, moradia, transporte) não tem
direitos, embora a Lei diga que todos tenham esses direitos.
Tudo que está de acordo com as Leis de um país
é legal. O que não está de acordo com essas Leis é ilegal. No entanto,
nem tudo que é legal, é justo. Exemplos: no Brasil o divórcio é legal mas o
aborto ilegal; as Leis permitem que as redes de supermercado aumentem os preços
de suas mercadorias a cada dia, mas condena como ilegal levando à prisão quem,
por necessidade, leve um pacote de macarrão sem pagar, etc.
Os direitos de participação foram sendo ampliados
ao longo da história e se estendendo a amplas camadas da população. Para
muitos, entretanto, esse direito não existe ou então não passa de uma mera formalidade,
pois o direito de tomar as decisões mais importantes continuam reservados a um
pequeno número.
Os sistemas eleitorais e os sistemas de governo são
organizados de tal modo que só os que tem muito dinheiro ou que pertencem a
cúpula de um grupo político muito poderoso é que vão para os cargos mais
importantes e podem tomar decisões políticas que afetam as nossas vidas. Além
disso, as principais decisões sempre são tomadas por um pequeno número de
pessoas ou grupos, praticamente em segredo.
Os grandes empresários, banqueiros, os principais
chefes militares e uns poucos dirigentes partidários conseguem influir sobre o
que vai ser decidido, mas a grande maioria do povo só toma conhecimento do que
já foi decidido e pesa muito pouco no processo de tomada de decisões.
SOCIALISMO
E DEMOCRACIA
No final do século XIX os trabalhadores procuram se
organizar em sindicatos e partidos operários e reivindicam direitos políticos e
sociais com grandes mobilizações, greves e manifestações. Começou um novo
período na história onde as idéias e aspirações de uma sociedade igualitária
surgem com grande força.
O socialismo surge como um continuador da luta
contra as injustiças sociais, porém introduz nessa luta um elemento novo: a
proposta de uma transformação radical nas condições da produção e da
apropriação das riquezas produzida pela sociedade. As idéias socialistas
influenciaram as revoluções dos séculos XIX e XX. As duas mais importantes
foram a Comuna de Paris e a Revolução Russa.
Em 1871, uma insurreição de trabalhadores dá início a Comuna
de Paris. É constituído o primeiro governo de trabalhadores da história.
A Comuna de Paris instituiu vários decretos entre eles: a educação
pública e gratuita para todos, o fim do ensino religioso, elege-se
representantes do povo a partir das comunas com o direito de eleger e
revogar os mandatos nas direções das empresas, no exército, e no próprio
governo revolucionário. Aboliu-se também a propriedade privada dos meios de
produção (fim do patrão) e se decretou o fim da desigualdade de classes. No
entanto, a Comuna durou apenas 3 meses, foi esmagada pelos exércitos
francês e alemão que invadiram Paris, prendendo e fuzilando 30 mil
trabalhadores.
Em
1917 a revolução foi vitoriosa. Liderados por Vladimir Lênin (1870-1924) e Leon Trotsky (1879-1940), membros do Partido
Bolchevique (partido da maioria, em russo), triunfa a Revolução
Socialista. Surge o governo dos sovietes (conselhos populares).
Os sovietes, assim como as comunas, eram conselhos abertos a todo
povo, organizados por bairro, região, cidade, semelhantes aos demos da
Grécia Antiga. Todo o povo se reunia e elegia seus representantes para a Assembléia
dos sovietes.
Mas,
em 1924, Joseph Stálin (1879-1953) assume o controle do governo e manda
perseguir e exterminar todos os militantes comunistas que haviam feito a
revolução e que discordavam de seus interesses. É a ditadura stalinista.
Surge assim uma burocracia no Estado socialista que se isolará do povo
criando privilégios. Em 1991 o povo se levanta contra os privilégios dessa
burocracia e derrubará o seu governo. Mas a União Soviética deixa de existir. É
restaurada a propriedade privada e o capitalismo.
ENTÃO, COMO FAZER
POLÍTICA?
Para cada tipo de trabalho existe uma ferramenta
certa. Para cortar uma árvore, há o machado. Para apertar um parafuso, existe a
chave de fenda. São instrumentos construídos pelo homem, na vida em sociedade,
e que o ajudam a satisfazer determinado tipo de necessidade.
Na vida também é assim. A ferramenta para conseguir
luz, asfalto, esgoto, espaços de lazer, etc, em um bairro é um grupo de
moradores unidos e organizados em associações de bairro para reivindicar.
Outras vezes nas cidades, a reivindicação é por moradia (movimento dos
trabalhadores sem-teto). No campo a reivindicação é por terra para trabalhar
(movimento dos trabalhadores sem-terra). Chamamos esses movimentos de movimento
popular.
A ferramenta para conseguir aumentos salariais e
melhores condições de trabalho é a participação de todos os trabalhadores de
cada categoria profissional (professores, bancários, metalúrgicos, gráficos,
jornalistas, médicos, etc) nos Sindicatos, organizando protestos e greves pelas
reivindicações. Chamamos esse movimento de movimento sindical.
A ferramenta para se conseguir melhorias nas escolas
ou nas Universidades para os estudantes são os Grêmios estudantis, os Centros
Acadêmicos e demais entidades representativas dos estudantes. Chamamos esse
movimento de movimento estudantil.
Nada é dado de mão beijada. Ou seja, para conseguir
terra para trabalhar e plantar, casa para morar, escola para estudar...Só mesmo
com organização, participação e luta. Fazemos política com essas ferramentas.
Leia esse poema de Antônio Gramsci e reflita sobre
ele:
“Odeio os indiferentes.
Acredito que viver significa tomar partido.
Não podem existir apenas homens, estranhos à cidade.
Quem de verdade existe e vive não pode deixar de ser
cidadão e partidário.
Indiferença é abulia, é parasitismo, é o peso morto da
história, é covardia!!!
Não é vida.
Odeio os indiferentes também porque me provocam tédio
as suas lamúrias de eternos inocentes.
Peço conta a todos eles pela maneira como cumpriram a
tarefa que a vida lhes impôs e impõe cotidianamente, do que fizeram e sobretudo
do que não fizeram.
E sinto que posso ser inexorável, que não devo
desperdiçar minha compaixão, que não posso repartir com eles minhas lágrimas.
Sou cidadão, estou vivo, sinto nas consciências viris
dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a
construir”.
Antônio Gramsci, La Cittá Futura, 26/09/1917.
E PRA QUE SERVE O
PARTIDO?
O partido político é também uma das ferramentas. É a
ferramenta mais adequada para a luta política ampla, mais geral, pois é através
dos partidos que se pode eleger representantes e assumir o poder político
na sociedade.
A sociedade em que vivemos é dividida em classes. De
um lado estão os que dominam, os proprietários dos meios de produção
(indústrias, equipamentos, máquinas, prédios, terras) que chamamos de burguesia.
Do outro lado estão os trabalhadores, aqueles que possuem apenas a sua
força de trabalho (manual ou intelectual).
Os partidos políticos são formados para representar os
interesses de uma classe social, de uma fração de classe ou de um grupo social,
que luta para ter o poder e a força de organizar a sociedade. Se um
partido é um partido formado apenas por banqueiros, empresários e
latifundiários, vai defender os interesses desses grupos. Se o partido for
apenas de trabalhadores, defenderá então os interesses desse outro grupo.
O QUE É O ESTADO?
Quando
uma pessoa paga impostos ela está pagando tributos ao Estado. Esses
recursos servem ao Estado para manter sua máquina administrativa
(funcionários, forças armadas, juízes, deputados), manter investimentos em infra-estrutura
(saneamento básico, estradas, hidrelétricas) e prestar os serviços sociais básicos
à população (escolas e hospitais públicos, previdência social, etc).
O
Estado caracteriza-se pelo agrupamento de seus cidadãos de acordo com uma divisão territorial. Essa
organização de cidadãos conforme o território é comum a todos os Estados
O
segundo traço característico é a instituição de uma força pública (exército e polícia). A necessidade dessa
força pública especial deriva da divisão da sociedade em classes, que
impossibilita qualquer organização armada espontânea da população. Essa força pública, separada da população
existe em todo Estado, assim como as suas instituições repressoras como as
prisões.
Para
sustentar essa força pública são
necessários impostos. Com o
desenvolvimento das instituições estatais o Estado passa a contrair também dívidas do Estado.
Outro
traço característico do Estado são as Instituições
Políticas que é o meio pelo qual o poder de Estado se exerce. Na Monarquia as Instituições Políticas estão centradas na figura do Rei. Na Democracia as Instituições estão distribuídas nos três poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário).
Donos da força pública, direito de recolher
impostos, dívidas do Estado, divisão territorial, Instituições Políticas; esses
são os elementos constitutivos do Estado.
O
Estado é uma Instituição Social
que tem o monopólio exclusivo do uso da força. Desse modo, poder e autoridade, concentram-se
na figura do Estado, através dos impostos e taxas, da ação da polícia, na
delimitação de fronteiras.
Em
virtude do seu monopólio do uso da força, o Estado detém o poder supremo da sociedade. A ordem na sociedade deve girar em
torno da Lei.
COMO SURGIU O ESTADO?
O
Estado não existiu sempre. Nas comunidades primitivas, nas sociedades
indígenas, a organização social não necessitava de um Estado.
O
Estado nasceu na Grécia e Roma Antigas como forma de se manter a ordem e se
proteger os interesses dos proprietários de terras frente à massa de escravos.
O
Estado foi fruto da divisão da sociedade em classes. O Estado dessa
forma é o Estado da classe mais poderosa, da classe dominante, que procura
através da coerção e da repressão manter a ordem da sociedade. Exemplo: em
Atenas, na Grécia Antiga, 90.000 cidadãos se contrapunham aos 365.000 escravos.
O exército na democracia ateniense era uma força da aristocracia contra a massa
de escravos desarmada. Ao se manter a massa de escravos desarmada e submissa
podia se manter a ordem.
Assim,
o Estado na Antiguidade foi o Estado
dos senhores de escravos; o Estado Feudal
foi o órgão que se valeu os nobres para se subjugar os camponeses e servos; e o
moderno Estado Capitalista é um
instrumento da classe dominante (burguesia) para manter a exploração da classe
trabalhadora.
Portanto,
o Estado não existiu eternamente. Houve sociedades que se organizaram sem ele
e, não tiveram e menor noção de seu poder. Os Estados -assim como as classes
sociais- surgiram num determinado momento da história como uma força separada
do conjunto da população, afim de manter a ordem, ou seja, a divisão
entre explorados e exploradores.
Não
é o Estado que molda a sociedade, mas a sociedade que molda o Estado.
O Estado não representa o bem comum, mas é um instrumento
essencial da dominação de classes na sociedade capitalista. Ele não está
acima dos conflitos de classes, mas profundamente envolvido neles.
O Estado tem suas origens na necessidade de se controlar os conflitos
sociais entre os diferentes interesses econômicos e esse controle é
realizado pela classe economicamente mais poderosa da sociedade.
NAÇÃO E GOVERNO
A
Nação é um conjunto de pessoas ligadas entre
si por vínculos permanentes de idioma, religião, tradições, costumes e valores;
é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já um Estado pode compreender
várias nações. Ex: A Grã-Bretanha, que é formada pela Inglaterra, Escócia,
Irlanda do Norte e País de Gales.
Por outro lado podem existir nações sem Estado como é
o caso dos povos indígenas no Brasil.
Vimos
o que significa falar em Nação.
Mas, o que seria Governo?
O
Estado é a nação com um conjunto de
Instituições entre as quais um Governo. Mas o Estado é diferente de
Governo. O Estado é uma instituição social permanente. O Governo é um componente transitório
do Estado, podendo assumir diversas formas.
Nas
Democracias (diretas ou representativas) a base da organização do Estado é sua
Constituição.
A
Constituição é um conjunto
de Leis que ordena o Estado, estabelece as normas referentes aos poderes
públicos e afirma os direitos e deveres dos cidadãos, a qual se
submetem governantes e governados.
ESTADO E FORMAS DE GOVERNO
Os
Estados Democráticos Modernos são constituídos por três poderes que são:
. Executivo: incumbido de executar as Leis
. Legislativo: encarregado de elaborar as Leis
. Judiciário: responsável
pela distribuição de justiça e pela interpretação da Constituição
O
Governo, por sua vez pode
adotar as seguintes formas:
.
Monarquia: o governo é
exercido por uma só pessoa (ou Rei ou Rainha), que herda o poder e o mantém até
a morte, transmitindo o poder através de gerações de filhos.
. República:
o poder é exercido por representantes do povo eleitos periodicamente pela
população.
Em
alguns países ainda existem Monarquias. Exemplo: Arábia Saudita. Mas existem
também formas mistas
como é o caso de alguns países da Europa onde ainda existe Monarquia mas ela tem apenas um papel
simbólico, cabendo ao
Parlamento, cujos representantes são eleitos pelo povo, o exercício do poder.
São as chamadas Monarquias
Parlamentares. Exemplo: Grã-Bretanha, Espanha, Suécia, Noruega.
Por
sua vez nas Repúblicas modernas
existe três tipos de regime: o
parlamentarista, o presidencialista e o comunista (soviético).
Na
República Presidencialista, a escolha do presidente é feita pelos
eleitores através do voto direto e cabe ao presidente escolher os membros do
seu governo (os ministros). Exemplo: Brasil, Argentina, Venezuela, México,
Estados Unidos, Rússia.
Na
República Parlamentarista os eleitores elegem seus representantes no Parlamento
e os parlamentares é que escolhem os membros do poder executivo (ministros),
entre eles o primeiro-ministro.
Exemplo: Portugal, Itália, França.
Na
República Comunista a escolha dos representantes se dá de maneira
direta, através de Conselhos
Populares que se organizavam por bairro, região, cidade e nação. Ex:
a extinta União Soviética, Cuba.
QUAL DEMOCRACIA?
A
democracia é a melhor forma de governo. Evidentemente, a democracia pode
assumir diversas formas. Um regime pode se dizer democrático mas ser uma
democracia apenas formal.
O
exemplo são as eleições em nosso país onde apenas quem tem poder econômico
participa das decisões da vida política da nação. O exercício do voto a cada 4
anos muitas vezes se torna uma formalidade e o político que deveria representar
os seus eleitores não o faz. A corrupção e o descaso dos políticos com a
causa do povo faz com que todos se sintam enganados e descrentes da política.
No
entanto a democracia é o contrário de autoritarismo. Lutar pela democracia é lutar pela
participação e autonomia. Isso implica o respeito à opiniões divergentes. Lutar
pela democracia é recusar as leis como eternas, é acreditar na capacidade
humana de transformar as relações sociais, econômicas e políticas.
A
grande característica do autoritarismo ou
Ditadura consiste na extinção dos
espaços de ação política por meio da censura, violência, impedindo a
participação e a contestação. A sociedade autoritária é uniforme, oculta, e não
existe oposição, obrigando todos a pensarem da mesma forma.
A
democracia liberal (ou burguesa) diversas vezes foi abandonada pelos detentores
do poder quando estes sentiram-se ameaçados pela democratização plena, ou seja,
pela revolução popular.
Foi assim na ascensão do Fascismo
e do Nazismo na Europa e nas Ditaduras Militares no Brasil
(1964-1985) e de vários países da América Latina no século XX.
Referências
Bibliográficas:
DALLARI,
Dalmo de Abreu. “O que é participação política?” Ed: Brasiliense. São
Paulo. 1984.
KONDER,
Leandro. “História das idéias socialistas no Brasil”. Ed: Expressão
Popular. São Paulo. 2003.
MAAR,
Leo Wolfgang. “O que é política?”. Ed: Brasiliense. São Paulo. 1985.
MEKSENAS,
Paulo. “Sociologia”. Ed: Cortez. São
Paulo. 2003.
OLIVEIRA,
Pérsio Santos de. “Introdução à Sociologia”. Ed: Ática. São Paulo. 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário