Filme:
“O Homem que virou Suco”.
Perguntas
do filme:
1)
Por
que Deraldo foi confundido com outra pessoa? Vocês acham que ocorreu algum tipo
de preconceito?
2) Qual era a importância de se ter documentos?
Só ter documentos é o suficiente para ser “cidadão de fato”?
3)
porque
o empregado matou o patrão? O que José tinha feito na empresa?
4)
Por
que Deraldo conseguia empregos de baixa qualificação? Ser poeta e escritor de
cordel pode ser considerado uma profissão?
5)
O
que significa as pessoas “virarem suco”? Por que isso ocorre?
escrevi esta resenha em meados de 2008.
RESENHA DO FILME “O HOMEM
QUE VIROU SUCO”
Wladimir Jansen Ferreira
O filme conta a história de dois
migrantes nordestinos, um poeta popular (escritor de cordel) e um operário que
tinha assassinado o seu patrão, mas a trama começa quando o primeiro personagem
é confundido com o segundo. O filme se utiliza de várias metáforas para
criticar a desigualdade social e o processo de urbanização da cidade de São
Paulo.
O
migrante paraibano Deraldo é um poeta popular e uma pessoa com posicionamentos
críticos e politizados, tendo como fonte de renda a venda autônoma como
ambulante dos seus poemas de cordel. Ele é um recém-chegado na cidade de São
Paulo e não possui documentos de identidade, fato que faz ser constantemente
perseguido e reprimido por policiais e fiscais da prefeitura.
Esta
situação constrangedora em que passa cotidianamente e pela opressão sofrida por
viver em péssimas condições de vida, faz com que Deraldo se torne uma pessoa
revoltada e inconformada com as injustiças da realidade.
Entretanto,
o estopim para que a revolta de Deraldo seja extravasada, foi uma confusão em
que fizeram dele com José Severino, um operário também nordestino (só que desta
feita do Ceará). Este operário era fisicamente idêntico à Deraldo e estava
foragido por ter matado o patrão na cerimônia em que estava sendo condecorado.
Teremos
agora uma estafante jornada de Deraldo para tentar “limpar seu nome” e também
para entender porque José assassinou o seu patrão. Esta sua jornada também é
uma forma de buscar sua identidade no meio de uma megalópole tão formal e
insensível como a cidade de São Paulo. A confusão não foi algo despropositado,
pois a maioria dos migrantes em São Paulo são submetidos à condições de vida
adversas e miseráveis, sendo preconceituosamente confundidos e rotulados como
uma grande massa sem individualidade ou identidade própria.
Nesta
constante busca, Deraldo vais lentamente e alucinadamente derrubando
preconceitos e visões exploratórias, através de posicionamentos éticos e
humanistas. Inicialmente, ele não se acomoda com as humilhações do “chefe de
obras” de uma grande construção imobiliária de alta classe (onde tragicamente a
maioria de seus companheiros de obra são nordestinos e analfabetos), depois não
aceita o tratamento dado por sua patroa rica (ironicamente com parente
nordestinos, só que um abastado coronel) e por fim questiona veementemente as
condições exploratórias em que ele e seus colegas operários passam no estafante
trabalho de construção do metrô paulistano do fim da década de 1970.
Interessante
destacar dentre estas situações, a propaganda e a “lavagem cerebral” que os
engenheiros do metrô estavam realizando com seus operários, tentando induzir a
estes que o trabalho e o respeito total ao patrão seria algo indispensável para
que conseguissem o emprego, além do que, deviam abortar de todos os costumes e
modos de vida “atrasados”, que “supostamente” levavam em sua terra natal, no
nordeste brasileiro.
Depois
de ter passado por estas privações e provações, Deraldo que estava sendo
perseguido pela polícia, começará a ficar ruim de saúde, tendo quase
enlouquecido (ou virado “suco”). Será internado numa clínica filantrópica, que
é constantemente visitado por madames de alta classe e de organizações com
“responsabilidade social”. Entretanto, ele se indisporá com estas pessoas e
fugirá desta clinica para terminar sua busca.
Nesta
sua empreitada final, Deraldo (que tinha se comprometido com um amigo em fazer
um cordel que contaria a “história do operário que matara o patrão”) procura os
antigos colegas de fábrica de José. Estes lhe disseram que José tinha “pisado
na cabeça de outros funcionários” para subir na hierarquia da empresa e que
tinha feito acordos escusos com o patrão na finalidade de entregar os operários
sindicalizados e agitadores. No entanto, esta subida na vida de José foi breve,
acompanhada com muitas brigas e de um boicote ao trabalho de seus colegas
descontentes com José, fazendo com que o patrão o demitisse.
Ironicamente
no dia em que Jose receberia uma condecoração da empresa, ele estava
desempregado e decide matar o seu patrão. Depois de realizado o crime, Jose
“vira suco” e enlouquece, sendo encontrado por Deraldo em situação degradante
em sua casa na periferia de São Paulo.
O
brilhante filme se encerra com o desvendamento e o esclarecimento desta
confusão criada entre Deraldo e José. Conquanto, situações exploratórias com
trabalhadores de baixa renda, moradias e bairros com pouca infra-estrutura e
rede de serviços, além das humilhações inconseqüentes com migrantes nordestinos
ainda acontecem “às pencas” na cidade de São Paulo. Este cumpre perfeitamente
um papel denunciativo e de formação de uma consciência crítica e questionadora
da realidade que não mudou tanto de 1979 para cá.
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