O capitalismo necessita se
globalizar ou se mundializar para que extraia mais-valia nos mais diferentes
locais do mundo, ou seja, é uma globalização do processo de produção. As grandes
empresas não precisam de um território como um todo, pois elas trabalham com
pontos particulares que são alavancas da realização da sua riqueza. SANTOS
(1985) diz que:
O mais pequeno lugar, na mais distante fração do território tem,
hoje, relações diretas ou indiretas com outros lugares de onde lhe vêm
matérias-prima, capital, mão de obra, recursos diversos e ordens (...) em
nossos dias, o espaço é apropriado, ou ao menos, comandado, segundo leis
mundiais.
Estudar e
compreender o lugar significa entender o que acontece no espaço onde se vive,
pois muitas vezes as explicações podem estar fora, sendo necessário,
muitas vezes, buscarmos motivos tanto internos como externos para se
compreender o que acontece em cada lugar. O "meio técnico-científico-informacional" é uma
criação da sociedade capitalista, sendo decisivo para a otimização da
realização do capital. O capitalismo tem uma dimensão social (na cultura,
relações trabalhistas, etc) e tem uma dimensão espacial-territorial. A sociedade
capitalista está globalizando a sua produção e criou o "meio
técnico-científico-informacional" para a sua própria existência.
Nas últimas décadas do
século XX, com o esgotamento do fordismo e a emergência da revolução
tecnocientífica, os novos padrões locacionais apontam no sentido da
desconcentração espacial das indústrias. As antigas concentrações industriais
dos países desenvolvidos vêm perdendo terreno para novas regiões produtivas
marcadas pelo uso de tecnologias modernas e pela forte integração com os
centros de produção de pesquisa e desenvolvimento das universidades.
A estrutura em rede das
corporações transnacionais se dissemina a partir da década de 1970, com a
emergência do ciclo de inovações conhecido como revolução tecnocientífica. A revolução tecnocientífica tem seu
núcleo na informática, ou seja, no entrelaçamento da indústria de computadores
e softwares com as de
telecomunicações. Os avanços nas técnicas de armazenamento e processamento de
informações foram potencializados pelas redes digitais, cabos de fibra ótica e
satélites de comunicações. Essas novas tecnologias permitem a gestão
informatizada dos fluxos de informação e de produtos e inauguram o regime de acumulação flexível. HARVEY (2001,
p140) fala a respeito disso:
A acumulação flexível,
como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo.
Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de
trabalho, dos produtos e padrão de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de
setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento, de
serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A
acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento
desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por
exemplo, um vasto movimento no emprego, no chamado “setor de serviços”, bem
como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então
subdesenvolvidas (...). [grifo do autor]
Portanto, o espaço
geográfico, na vigência deste "meio técnico-científico-informacional",
está organizado de uma maneira onde os fluxos se aceleram, sendo esta a ordem
das redes geográficas. A idéia de "rede" é importante para poder
explicar a realidade, pois as relações culturais-produtivas-sociais estão cada
vez mais horizontalizadas. Estas redes são a forma principal dos espaços
da globalização, sendo essenciais para que este fenômeno se materialize ou se
concretize. As redes geográficas levam em conta “espaços descontínuos”, com uma
abrangência horizontal, mas intensamente articulados.
Para a
melhor potencialização da produção são necessárias uma padronização dos lugares
e uma horizontalização dos pressupostos capitalistas, fazendo fluir mais
dinamicamente a produção em uma “destruição criativa”. A inclusão na Rede se dá
como disputa monopolística, mas o preço a ser pago é muito caro, ou seja,
afastam-se os aspectos produtivos e sociais locais ou a individualidade das pessoas,
como pode ser visto em MOREIRA (1997, p.4):
A corrida pela inclusão na rede a um só tempo aproxima e afasta as
componentes sociais do lugar. Acirra as disputas internas dos lugares e entre
as forças dos distintos lugares. E assim um caráter novo de luta política
aparece dentro e em decorrência do que é o novo caráter do espaço, exigindo que
se reinvente as formas de ação e que se deixe em posição subalterna as formas
clássicas mais antigas.
As redes geográficas são a expressão do “espaço pós-fordista” (ou
toyotista), sendo essenciais para que o processo de globalização ocorrer, para
a sociedade capitalista sobreviver e para que o "meio
técnico-científico-informacional" se realize.
(...) toda infra-estrutura, permitindo o
transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um
território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos
terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação.
Entretanto, Milton Santos ressalva que as redes são também “social e
política, pelas pessoas, mensagens, valores que a freqüentam”. Segundo SENA
(s/d):
As redes são realidades
concretas, formadas por pontos interligados, que tendem a se espalhar por toda
a superfície terrestre, ainda que de maneira descontínua. Essas redes se
constituem na base da modernidade atual e na condição necessária para a plena
realização da economia global. Elas formam ou constituem o veículo que permite
o fluxo das informações, que são hoje o motor principal da globalização[2].
No Brasil, o “espaço
fordista” só se consolidará totalmente durante o segundo governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (2006-2010), pela consolidação do consumo (destacando
programas de aumento de renda familiar, tal como a “Bolsa Família”). Atualmente
temos em nosso território o “espaço pós-fordista ou toyotista”, levando a
globalização produtiva da sociedade capitalista às últimas conseqüências,
integrando horizontalmente vários locais distantes localmente. A exclusão e a
desigualdade social e territorial estão ainda maiores e cada vez mais planejadas.
O “espaço pós-fordista ou
toyotista” cria territórios de exclusão, levando o processo de globalização às
ultimas conseqüências. A globalização, as “redes geográficas” e o "meio
técnico-científico-informacional" estão mais desenvolvidos na sociedade
capitalista, até para que a produção capitalista ocorra de maneira mais
lucrativa para a burguesia, fazendo com que o capital se reproduza de maneira
mais potencializada. Com
o advindo do espaço toyotista, teremos um “embaralhamento de territorialidades”
em uma “rede produtiva”, cujo sentido pode ser visualizado na passagem de
MOREIRA (1997, p.3) a seguir:
(...) Extinguem-se, assim, os espaços do mundo
organizados em regiões singulares e de compartimentos fechados, a intensidade e
a globalidade das interligações ainda mais aumentam, a mobilidade territorial
mais se agiliza, a distância entre os lugares e suas coisas mais se encurta, a
espessura do tecido espacial mais se adensa, e o espaço do planeta se comprime.
Para que esta rede
produtiva seja instalada, o Estado deve exercer importante função, como pode
ser visto nesta passagem de MOREIRA, (1985, p.107):
É
embaixo da pesada repressão policial-militar que sobrevém aos confrontos de
1934-1935 que o bloco industrial agrário impõe ao movimento operário esta ampla
tutela: a jurídico política (tutela sindical-trabalhista) e a
ideológico-cultural (tutela escolar). Desarticulado organicamente pelos
aparatos repressivos do Estado, o operariado e igualmente desarticulado em seus
parâmetros de existência. Progressivamente, completa-se a desagregação da sua
condição de classe, sob um modo de vida imposto pelas articulações do capital,
via Estado corporativo: no espaço-fabril-bairro se dissolve no espaço-mercado,
e a consciência de classe se dissolve na cultura formal-escolar.
Principalmente através
destes aparatos, temos uma verdadeira “globalização” produtiva e de
territórios, com unificação de lugares e de espaços regionais dantes isolados.
Esta globalização em rede também se dá na padronização dos modos de vida dos
moradores das cidades e dos campos, possibilitando a perda da individualidade e
muito da identidade local destas pessoas. Podemos refletir sobre como se
constrói e dinamiza o tecido de relações da rede produtiva capitalista nesta
passagem de SANTOS (1978, p.16):
(...) Em todo o lugar a
tendência é a concentração do capital, mesmo que, excepcionalmente, haja
possibilidade de descentralizar um pouco a produção. Ora, o excedente é antes
de tudo um fluxo. No regime capitalista, onde a lei fundamental é a da
acumulação de capital o mais rápido possível, os fluxos de excedentes só podem
convergir para o lugar onde se encontram os mecanismos mais eficazes para sua
multiplicação.
Nestas duas passagens de SANTOS (2002, p.244
e p.336), ele ressaltará que as fronteiras dos territórios nacionais estão
sendo ultrapassadas e transcendidas, além de mostrar o poder das transnacionais
na sociedade moderna:
(...) os territórios nacionais se transformam
num espaço nacional da economia internacional e os sistemas de engenharia mais
modernos, criados em cada país, são mais bem utilizados por firmas
transnacionais que pela própria sociedade nacional.
(...)
(...) O interesse das grandes empresas é
economizar tempo, aumentando a velocidade da circulação. (...) corporação do
território, com a destinação prioritária de recursos para atender as
necessidades geográficas das grandes empresas, acaba por afetar toda a
sociedade.
[1] CURIEN, Nicolas. D’une problématique générale dês réseaux du
transport dês informations. In: DUPUY, Gabriel. Réseaux territoriaux. Caen,
Paradigme, 1988, pp. 211-228
[2] Passagem presente em
um artigo de Caio César de Sena intitulado de
“Redes”, encontrado em http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAdgAAC/redes
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FERREIRA, Wladimir
Jansen. Uma Leitura Geográfica da
Formação da Cidade de São Paulo na Obra de Adoniran Barbosa.
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_________________________. Uma Análise
Crítica do Conceito de Natureza no Currículo de Geografia do Estado de São
Paulo. Trabalho de
Conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Geografia na PUC-SP. São
Paulo: PUC-SP, 2011.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São
Paulo: Edições Loyola, 2001.
_____________.
Espaços de Esperança, São
Paulo: Edições Loyola, 2004.
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O “Novo Imperialismo”: ajustes espaço-temporais e acumulação por
dessapossamento. In: Lutas
Sociais, n° 13/14, São Paulo: Sitta Gráfica e Editora, 2005.
MOREIRA, Ruy.
O que é geografia? São Paulo:
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olhar geográfico sobre o mundo. In: Ciência Geográfica, N° 6, Bauru:
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______________. O círculo e a espiral – para a critica da geografia que se ensina.
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______________. Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica.
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SANTOS, Milton. Espaço e Dominação. In:
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Nossa! Esses mapas realmente eme alegraram e me ajudaram muito no meu artigo. Parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirSIM ESSE BLOG TEM MUITAS FONTES QUE NÃO VEMOS POR AÍ DE MODO TÃO COMUM VEJA AS REGIONALIZAÇÕES A QUANTIDADE DE AUTORES NUNCA VI TANTAS
ResponderExcluirMaravilhoso seu blog. Farei uso do seu texto e desde já agradeço.
ResponderExcluirParabéns, Professor. Excelente seu material. Utilizei o mapa sobre fluxo comercial no mundo. E citei seu nome e seu trabalho. Obrigado
ResponderExcluirobrigado, gente
ResponderExcluirOi Professor Wladimir. Está me ajudando bastante nas pesquisas das aulas remotas. Muito bom o seu blog.
ResponderExcluirTexto e muito bom
ResponderExcluirOs mapas também é bom
ResponderExcluir