“Por uma globalização mais humana” - MILTON SANTOS
30 de nov de 1995,
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/11/30/fovest/6.html
A
globalização é o estágio supremo da internacionalização. O processo de
intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o
período mercantil dos séculos 17 e 18, expande-se com a industrialização, ganha
novas bases com a grande indústria, nos fins do século 19 e, agora, adquire
mais intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se
envolvido em todo tipo de trocas: técnicas, comerciais, financeiras, culturais.
Vivemos
um novo período na história da humanidade. A base dessa verdadeira revolução é
o progresso técnico, obtido em razão do desenvolvimento científico e baseado na
importância obtida pela tecnologia, a chamada ciência da produção.
Todo
o planeta é praticamente coberto por um único sistema técnico, tornado
indispensável à produção e ao intercâmbio e fundamento do consumo, em suas
novas formas.
Graças
às novas técnicas, a informação pode se difundir instantaneamente em todo o
planeta e o conhecimento do que se passa em um lugar é possível em todos os
pontos da Terra.
A
produção globalizada e a informação globalizada permitem a emergência de um
lucro à escala mundial, buscado pelas firmas globais constituindo o verdadeiro
motor da atividade econômica.
Tudo isso é movido por uma concorrência superlativa entre os principais agentes econômicos - a competitividade.
Tudo isso é movido por uma concorrência superlativa entre os principais agentes econômicos - a competitividade.
Num
mundo assim transformado, todos os lugares tendem a tornar-se globais e o que
acontece em qualquer ponto do ecúmeno (parte habitada da Terra) tem relação com
o acontecer em todos os demais.
Daí a ilusão de vivermos num mundo sem fronteiras, uma aldeia global. Na realidade, as relações chamadas globais são reservadas a um pequeno número de agentes, os grandes bancos e empresas transnacionais, alguns Estados, as grandes organizações internacionais.
Daí a ilusão de vivermos num mundo sem fronteiras, uma aldeia global. Na realidade, as relações chamadas globais são reservadas a um pequeno número de agentes, os grandes bancos e empresas transnacionais, alguns Estados, as grandes organizações internacionais.
Infelizmente,
o estágio atual da globalização está produzindo ainda mais desigualdades. E ao
contrário do que se esperava, crescem o desemprego, a pobreza, a fome, a
insegurança do cotidiano, num mundo que se fragmenta e onde se ampliam as
fraturas sociais.
A
droga, com sua enorme difusão, constitui um dos grandes flagelos desta época.
O
mundo parece, agora, girar sem destino. É a chamada globalização perversa. Ela
está sendo tanto mais perversa porque as enormes possibilidades oferecidas
pelas conquistas científicas e técnicas não estão sendo adequadamente usadas.
Não
cabe, todavia, perder a esperança, porque os progressos técnicos obtidos neste
fim de século 20, se usados de uma outra maneira, bastam para produzir muito
mais alimentos do que a população atual necessita e aplicados à medicina
reduziriam drasticamente as doenças e a mortalidade.
Um
mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um intercâmbio pacífico
entre os povos e eliminando a belicosidade do processo competitivo, que todos
os dias reduz a mão-de-obra. É possível pensar na realização de um mundo de
bem-estar, onde os homens serão mais felizes, um outro tipo de globalização.
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Sugestão de atividades:
1) Explique o que o autor quis dizer com a afirmação: "O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica, comercial, financeira e cultural".
2) Cite alguns problemas que o texto apresenta em relação à globalização.
3) Explique qual o significado de "globalização perversa"?
4) O autor afirma que: "Na
realidade, as relações chamadas globais são reservadas a um pequeno número de
agentes, os grandes bancos e empresas transnacionais, alguns Estados e as
grandes organizações internacionais". Cite alguma organização internacional importante para o processo atual de globalização.
5) Explique como é possível "uma globalização mais humana"?
Parabéns Professor Wladimir, ótimo texto e atividades. Seu trabalho é excelente.
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