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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Os TRANSTORNOS de APRENDIZAGEM e o FUNCIONAMENTO do CÉREBRO

OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO

Wladimir Jansen Ferreira

O conhecimento sobre a saúde mental dos alunos por parte dos educadores é muito importante para que seus alunos tenham um bom desempenho no aprendizado escolar e para se reverter alguns quadros (ou alguns sintomas, dependendo do transtorno). Tendo um conhecimento sobre a saúde mental dos alunos, o professor estará melhor capacitado e poderá melhor escolher os métodos de ensino-aprendizagem mais apropriadas e mais eficazes para a dificuldade específica deste aluno.

O CÉREBRO HUMANO e a EDUCAÇÃO
As duas imagens que se seguem mostram os “lobos cerebrais”:

FIGURA 1: Os lobos cerebrais[1]


FIGURA 2: Lobos Cerebrais[2]

O cérebro humano pesa cerca de 1,5Kg e ocupa menos de 20% do corpo humano e tendo 100 bilhões de neurônios. Não existe um cérebro igual à outro, pois são diferentes no tamanho, na organização e estruturas cerebrais e nas características das conexões cerebrais. Existem 4 lobos cerebrais (Temporal, Ociptal, Parietal e Frontal) e 2 Hemisférios cerebrais (o Direito – responsável pelas habilidades espaciais e reconhecimento de imagens – e o Esquerdo – que controla as redes neurais da linguagem, matemática e lógica).
O Lobo Frontal é responsável pelo planejamento e ação, julgamento e memória, sendo o último a ser formado pelo ser humano. O Lobo Temporal é responsável pela audição, memória e reconhecimento de objetos. O Lobo Parietal é responsável pela sensação e processamento espacial. O Lobo Ociptal é responsável pela visão. A “Área de Broca” é responsável pelo processamento e compreensão da fala. A “Área de Wernicke” (que fica entre os Lobos Temporal e Parietal) é responsável pelo reconhecimento da fala. O “Córtex Visual Primário” (localizado acima do cerebelo e dentro do Lobo Ociptal) é responsável pela discriminação e movimento de cores. O cérebro ainda tem o Cerebelo, o Sulco Central e o Sulco Lateral.
A compreensão do desenvolvimento do cérebro dos seres humanos é essencial para que o educador perceba, por exemplo, que a instabilidade comportamental dos jovens se dá pelo fato do córtex pré-frontal estar em desenvolvimento. Outro exemplo, é que os desenvolvimentos das habilidades mentais estão mais presentes em faixas etárias específicas (principalmente na infância e na puberdade), podendo ser, principalmente, nos “períodos sensíveis”.
Com acompanhamento e compreensão do funcionamento do cérebro dos alunos, o professor poderá realizar um trabalho mais eficaz na superação das dificuldades apresentadas pelos alunos e estes poderão ter uma aprendizagem significativa.

PLASTICIDADE CEREBRAL e a EDUCAÇÃO
Plasticidade cerebral é a capacidade do cérebro de se moldar e se modificar em sua estrutura ao longo do tempo, sendo esta capacidade inerente ao ser humano, podendo estar presente à todos (principalmente naqueles que sofreram acidentes motores), em qualquer faixa etária, em todos os momento da vida de um indivíduo e se realizando de maneira diferenciada com as pessoas.
Existem dois tipos de plasticidade cerebral: a “experiência expectante” (sendo uma tendência genética ás modificações estruturais do cérebro do início da vida à velhice) e a “experiência dependente” (onde as modificações estruturais do cérebro ocorrem pelas experiências vivenciadas ao longo da vida deste ser humano). Portanto, a plasticidade cerebral ocorrerá com qualquer ser humano, mas de maneira diferenciada.
A plasticidade cerebral ocorrerá a partir do momento do cérebro ser estimulado de maneira diferenciada, fazendo este se reprogramar e criar novos caminhos entre os neurônios, sendo que, quando mais jovem, o cérebro será mais suscetível e maleável à mudanças estruturais.
Os educadores poderiam se aproveitar deste fato para superar dificuldades de aprendizagem dos alunos, pois as crianças podem ser estimuladas para sua mudança de comportamento, fazendo o seu cérebro se reorganizar, tendo novos aprendizados, novas memorizações e novas adaptações. Para esta ação é necessário de laudos médicos e acompanhamentos médicos especializados, integrando a família com a escola. Esta ação é primordial para se superar dificuldades de aprendizagem dos alunos (ou mesmo problemas disciplinares, etc) e se atingir uma aprendizagem significativa por parte dos educandos.

OS TRANSTORNOS de APRENDIZAGEM e a EDUCAÇÃO
Importante diferenciar “transtornos (ou distúrbios) de aprendizagem”, de “dificuldade ou problema de aprendizagem” e de “deficiência intelectual”.
As dificuldades de aprendizagem são desordens na aprendizagem de maneira geral, sendo fatores removíveis e não necessariamente de causa orgânica[3].
Deficiência intelectual não é dificuldade de aprendizagem, é biológico e o indivíduo pode avançar em ritmo diferenciado.
Os “transtornos de aprendizagem” existem por uma disfunção do sistema nervoso central, sendo um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da fala, escrita, raciocínio e habilidades matemáticas[4]. Este não desaparecerá, mas se ocorrer um diagnóstico precoce e um tratamento adequado, o indivíduo com estes transtornos poderão melhorar seu desempenho escolar.
Existem vários “transtornos de aprendizagem”, listarei os principais:
Transtorno Desafiador Opositivo, inicia-se com cerca de 6 anos de idade, sendo de origem biológica e ambiental. O aluno está com frequente impaciência com os adultos, desafiador e se opondo a regras ou solicitações, desafiando a autoridade dos professores, sendo impulsivo e manipulador, enraivecido quando contrariado e brigando constantemente, implica com as pessoas responsabilizando-as pelos seus erros, estando sempre enraivecido (além de irritado, ressentido, rancoroso e com ideias de vingança). O aluno possui baixa auto-estima, fraca tolerância à frustrações, humor deprimido, ataques de raiva, tendo poucos amigos, sendo rejeitado por colegas e querendo resolver sozinho os seus problemas. Se não tratado, poderá evoluir para o Transtorno de Conduta.
Transtorno de Conduta ocorre mais em meninos de 10 a 12 anos e nas meninas de 14 a 16 anos de idade, sendo de origem genética e ambiental. O aluno constantemente viola regras, possuindo comportamento anti-social, agredindo pessoas e animais, usando armas em brigas, não tendo culpa ou arrependimento no que faz, sendo desafiadores e hostis, destruindo patrimônio alheio, fugindo de casa, consumindo álcool e outros tipos de drogas, tendo comportamento sexual de risco, com dificuldade de respeitar regras, tendo sadismo, executando bullying nos colegas de escola. O diagnóstico cedo é essencial para a reintegração e adaptação do convívio do jovem na sociedade. É necessário que haja intervenções da família com medidas sócio-educativas, treinamento das habilidades sociais e de técnicas cognitivo-comportamentais e tratamento médico especializado em saúde mental.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma síndrome neurológica (pelas alterações do córtex pré-frontal e estruturas subcortiais do cérebro) mais comum nas crianças de 0 a 7 anos de idade e o fator genético é o mais provável. O aluno “não para quieto” e se remexe na cadeira (pula e grita), não presta atenção nas aulas, possui dificuldades de aprendizagem, não possui concentração, é hiperativo, é elétrico e com excesso de energia, distraindo-se facilmente e com dificuldade em se focar em um único objeto. Geralmente este aluno não termina deveres, possui dificuldades em se organizar, perde materiais escolares, é atrasado, não brincando em silencio, possui insônia e é estressado. Se não tratados, podem se tornar adultos inseguros, poucos habilidosos socialmente e com menos anos na educação escolar. O tratamento deve ocorrer pela ação multidisciplinar, com medicamentos e com medidas da escola (fazendo este se sentar perto da lousa e longe das janelas, criando rotina de estudos, horários pré-determinados e combinados, pausas regulares no estudo, ambiente de estudo silencioso, etc).
A Depressão Infantil ocorre principalmente em adolescentes, tendo causas genéticas, fatores bio-químicos, hormonais e ambientais. O aluno demonstra apatia, tristeza, isolamento, queda nas notas, fala tênue e fraca, desesperança, ideia de suicídio, desmotivado, solitário, com explosões de raiva, com humor deprimido-instável-irritável, algumas brigas na escola, etc. Este possui baixa serotonina e norodrenalina na fenda sináptica (áreas de comunicação entre células nervosas) e deve ser tratado com medicamento, tratamento psicoterápico, psicoeducação e trabalho cognitivo.
O Autismo Infantil é um transtorno do espectro autista, tendo fatores genéticos, de desenvolvimento do cérebro na gestação e fatores congênitos (adquiridos com doenças como rubéola, encefalite e meningite). O aluno possui prejuízos na interação social, tendo atraso na aquisição de linguagem, comportamento estereotipado e repetitivo, sendo anti-social, não demonstrando emoções (não chora, não sorri), não acompanhando objetos que os pais mostram, “escondendo-se e se isolando do mundo” e não fala palavras. O diagnóstico precoce e o tratamento imediato pode reverter alguns sintomas. O tratamento deve ocorrer pela ação multidisciplinar (com médico, psicólogo, fonoaudiólogo, etc), buscando o treinamento das habilidades sociais, medicação, brincadeiras em grupo na escola (buscando a relação social com colegas, a correção de comportamentos repetitivos e o acalmamento do estudante em situações de irritabilidade-impulsividade).
O Transtorno Ansioso é de causa genética e ambiental (pela ansiedade paterna, relação com pais, estilo da criação, morte de parentes, situações ansiogênicas na TV, etc). o aluno possui desconforto, inquietação, ansiedade e sintomas somáticos (sudorese, boca-seca, taquicardia, nervosismo, etc). o tratamento deve passar pela terapia cognitiva e corporal, pelo auto-reconhecimento (dos sintomas, sentimentos, pensamentos e reações do organismo) e medicação.
O Transtorno de Ansiedade de Separação ocorre mais em crianças de até 7 anos de idade. O aluno possui uma ansiedade exasperada de separação familiar, não dormindo sozinho, não participando de atividades extra-escolares, não dormem em casa de colegas, com dores de cabeça e estomacais, prejuízos acadêmicos, dificuldade de relacionamento, círculo restrito de amigos, baixa auto-estima, falta e atrasos escolares. O tratamento pode se dar com atividades fora da sala de aula e em outros espaços escolares, com contação de histórias sobre o assunto, relato de colegas, permanência da família na escola por um pequeno período, por contratos com a criança, etc.
A Esquizofrenia de Início Precoce ocorre antes dos 18 anos de idade, possuindo origem neurobiológica e alterações químicas de origem genética, além de fatores ambientais (estresse, violência doméstica-física-emocional, negligência e pobreza extrema). Os alunos possuem prejuízos na cognição e afeto, prejuízos nas relações interpressoais, prejuízos no desempenho acadêmico, alucinações, delírios, embotamento afetivo, empobrecimento da fala, desorganização do pensamento, isolamento social, “não olha nos olhos” e descuido com higiene pessoal. O tratamento deve ocorrer com psicoterapia familiar e cognitiva, com técnicas para resolver problemas e tratamento de habilidades sociais e medicação.
A Dislexia pode surgir no início da alfabetização da criança. O aluno tem dificuldade em prestar atenção nas aulas, dificuldade em ler e escrever (leitura lenta e monossilábica, com pouca entonação de voz, sem interpretação, prejudicando o significado), desempenho fraco em português e inglês, leitura vagarosa (abaixo do esperado para a idade), dificuldades de entender enunciado nas provas e de elaborar ou compreender textos, não associa letra ao som, possui processo lento, dificuldade na construção de frase, etc. O tratamento deve ocorrer com profissionais de deficiências visuais-auditivos, fonoaudiólogos e com trabalho psicoeducacional.

PAPEL do PROFESSOR FRENTE aos TRANSTORNOS de APRENDIZAGEM
Os ideais da política de “inclusão” de alunos com necessidades especiais estão presentes na Conferência de Salamanca[5], que foi organizada pela UNESCO e o Ministério da Educação e Ciência de Espanha (além de 88 governos e 25 organizações internacionais) no ano de 1994.
O papel do professor não é fazer diagnóstico, cabendo um profissional de saúde mental o fazer, pois isto despende anos de observação e estudo médico. Isto reforça a importância da articulação da família com a escola e a necessidade do acompanhamento médico em saúde mental das crianças.
Cabe ao professor e aos educadores buscarem a aprendizagem dos alunos na sua disciplina, à inclusão dos alunos e respeito à diversidade, à socialização e sentimentos de cooperação entre alunos. Estes devem diagnosticar quais os motivos da não-aprendizagem dos alunos. Os educadores podem traçar quadros da saúde mental e comportamento de cada aluno, que deverá ser encaminhado à coordenação pedagógica em forma de relatório e aos pais/responsáveis destes alunos em momentos específicos (reuniões, etc).
O professor poderá intervir positivamente para a superação de alguns sintomas de transtornos de aprendizagem, tendo em vista que deve atuar conjuntamente com familiares, com outros colegas na escola e profissionais da saúde mental.
É necessário que haja plasticidade aos profissionais de ensino na realização dos seus planos de ensino, ou seja, estes devem realizar modificações em seus planos de ensino com vias de incluir os alunos com necessidades especiais e com Transtorno de Aprendizagem. A realidade é diversa e os seres humanos são heterogêneos, buscando o atendimento não preconceituoso à estes alunos com o tratamento diferenciado, mas inclusivo.
O professor deve adaptar o currículo e seus planos de aulas ao contexto social com vista a qualidade para todos, ou seja, deve estar preparado para a heterogeneidade dos alunos e para o trabalho com alunos com necessidades especiais e com Transtorno de Aprendizagem.
Muitas vezes o professor e a escola não possuem o laudo deste aluno, sendo que estes transtornos se tornam evidentes durante o percurso, ou seja, durante o ano letivo. O professor e a escola não são obrigados a realizar o laudo médico de transtorno de aprendizagem, mas pode participar diagnosticando alguns dos comportamentos destes alunos, convocando seus pais e encaminhando para atendimento médico especializado. Em um segundo momento, a escola deve caminhar conjuntamente com a família e os profissionais médicos especializados.
Quando diagnosticado o transtornos de aprendizagem no aluno, o professor deve adaptar o seu currículo e plano de aulas para um trabalho diferenciado e adaptado às dificuldades deste aluno.
O professor poderá realizar atividades que desenvolva as habilidades sociais, técnicas cognitivas, trabalhos e brincadeiras em grupo (para desenvolver relações sociais com colegas, corrigir comportamentos repetitivos e acalmando estudante em situações de irritabilidade e impulsividade), colocar alunos longe das janelas e próximos da lousa (em caso de TDAH), desenvolver rotina de estudos nos alunos, traçar horários predeterminados e combinados com crianças, pausas regulares no estudo, ambiente silencioso e diminuição de estímulos visuais (caso de TDAH), etc.
A escola pública como instituição pública, que deve atender os preceitos da democracia participativa e inclusiva, deve garantir um ensino de qualidade para todos os alunos, independentemente de sua classe social, etnia, religião e transtorno de aprendizagem. Com os alunos com transtornos de aprendizagem. A escola deve ser ainda mais inclusiva e preocupada em não diferenciar discriminatoriamente estes alunos, auxiliando em realizar diagnósticos, convocando pais e responsáveis deste, encaminhando para o atendimento médico especializado, além de fazer o acompanhamento conjunto em parceria com a família e os profissionais médicos especializados para a superação de alguns sintomas dos transtornos de aprendizagem ou a sua radical extinção (em alguns casos).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A. A História não Contada dos Distúrbios de Aprendizagem. Cadernos CEDES no28, Campinas: Papirus, 1992, pp.31-48.
GUZZO, Raquel Souza Lobo. Saúde psicológica, sucesso escolar e eficácia da escola: desafios do novo milênio para a psicologia escolar. In: DEL PRETTE, Z. A. P. (Org). Psicologia Escolar e Educacional: Saúde e Qualidade de vida. Campinas: Alínea, 2001.
UNESCO & MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA DE ESPANHA. Declaração de Salamanca - Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, UNESCO, 1994.



[1] Fonte: http://daquepensar.com/wp-content/uploads/2012/11/C%C3%A9rebro.jpg
[2] Revista Mente e Cérebro, nº 34, Edição Especial, Ed. Duetto.
[3] GUZZO, In: DEL PRETTE (2001).
[4] COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A., 1992, p. 31.
[5] http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf

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