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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

ENTREVISTA sobre JORNADAS de JUNHO 2013 e POLÍTICA BRASILEIRA

repasso ENTREVISTA que eu respondi à uma ex-aluna Kelly (que faz faculdade hoje) sobre JORNADAS de JUNHO 2013 e POLÍTICA BRASILEIRA.




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Dados do Entrevistado
Nome: Wladimir Jansen Ferreira.
Profissão: Professor.
Formação: Superior Completo (Bacharelado e Licenciatura em Geografia) e Pós-Graduação em “Ensino de Geografia”.
Tempo de trabalho: cerca de 10 anos (somando tempo em cursinho popular de 2003 à 2005 + rede estadual de São Paulo de 2006 à 2014 + rede municipal de São Paulo de 2012 à 2014).
Idade: 32 anos.

Perguntas:

As manifestações e reivindicações
1)    Em sua opinião, o que aconteceu para que mais de 1 milhão e meio de pessoas, em mais de 100 cidades brasileiras, saíssem às ruas protestando em meados do ano passado?
A busca por direitos e melhorias nas condições de vida das pessoas foram os principais motes para as “jornadas de junho de 2013”.
Combinado à isso, importante destacar que o enfraquecimento político das “esquerdas” contribuiu para a forma horizontal,  a não clareza nas pautas das passeatas e a desorganização dos atos.
Pela primeira vez em mais de 40 anos, uma passeata popular não foi organizada pela esquerda, pois o seu principal representante (PT) distanciou-se enormemente de suas bases e dos movimentos sociais, preocupando somente com a reprodução do “poder pelo poder”.
Esta ausência da presença das esquerdas na organização dos atos se refletiu na extrema horizontalidade destes. Apesar do “Movimento Passe-Livre” (MPL) ter sido fundado por militantes petistas, estes estavam distantes do MPL e da organização de outras lutas dos movimentos sociais.
Se houvesse a presença da esquerda no comando das passeatas, certamente não veríamos a infiltração de movimentos fascistas, a disseminação de pautas (algumas sem sentido ou vagas, como o da “corrupção”) ou a falta de comando das passeatas (que não tinham trajetória definida, etc).

2)    Os movimentos em São Paulo inicialmente se colocaram contra o aumento da tarifa do transporte, mas muito rapidamente outras questões foram discutidas e tidas como motivos de protesto, que ganharam força não somente em SP como em várias outras cidades do Brasil. O que você acredita que trouxe esses assuntos à tona?
A disseminação de pautas foram resultados da desorganização dos atos, da falta de centralização destes e do enfraquecimento da esquerda brasileira.
Entretanto, as pautas dos atos refletem algumas demandas na vida da população brasileira. Importante destacar que quem foi à rua, na sua maioria, foi a classe média das grandes cidades, cujas algumas das pautas levantadas não representam a totalidade de interesses da classe trabalhadora de periferia (a maioria da população).
Algumas pautas são de comum acordo para a população brasileira, como a melhoria do transporte e na educação, mas não havia consenso de como se atingiria isso ou uma simples proposta de soluções. Não havia um comando das mobilizações e isso refletiu no enfraquecimento desta.

O uso das redes sociais
Para você, qual foi a importância das redes sociais nesse processo?
Antigamente, as esquerdas centralizavam e horizontalizavam  a chamada dos atos, mas pelos enfraquecimento das esquerdas (já falado acima) e o surgimento da internet como importante instrumento de comunicação, as redes sociais tomaram uma importância muito grande.
Entretanto, a Internet ou as redes sociais não foram responsáveis pela eclosão das “jornadas de junho de 2013”, mas ajudou a potencializar as mobilizações.


A cobertura da mídia
1)    Qual foi a postura da mídia, das grandes emissoras, ao cobrir esses movimentos?
A postura da “grande mídia burguesa” foi oportunista e parcial, pois criticaram muito no seu início, dizendo que “atrapalhava o trânsito” e que “os manifestantes eram vândalos”.
A partir do momento que a “grande mídia burguesa” percebeu que os atos eram desorganizados (não tendo centralização da esquerda no comando) e que se abria a possibilidade para a direita se infiltrar, começou-se a apoiá-los e a se tentar realizar um desgaste do governo federal. Um grande exemplo disso é o Arnaldo Jabor da Rede Globo, que criticou muito no seu início e depois vociferava pela defesa dos “atos  contra o governo federal”.
Já a mídia mais independente foi mais verdadeira com os fatos e cobriu as “jornadas de junho de 2013” de maneira idônea.

2)    Porque a imprensa recebeu tantas críticas do público? A queima de veículos pertencentes às grandes emissoras pode ser considerada um ato contra uma possível parcialidade dos meios de comunicação na abordagem dos acontecimentos?
É uma questão de luta de classes sociais, pois a “grande mídia burguesa” representa seus interesses e sempre tentará desgastar o outro lado.
A queima de veículos da “grande mídia burguesa”foi um protesto legítimo, pois foi um protesto contra a suposta “imparcialidade” destes e uma legítima crítica dos opositores desta classe social. A ausência de vandalismo em veículos da imprensa independente é o sintoma de que esta ação era direcionada para um setor da mídia.

3)    Houve favorecimento da imprensa às bandeiras que eram defendidas nos movimentos?
A “grande mídia burguesa”tentou manipular a opinião pública e a defesa de pautas nas “jornadas de junho”. Um grande exemplo disso foi a pequena cobertura nos atos contra “homofobia e racismo” e a defesa reacionária da retirada da PEC 37 (que era altamente progressista).

4)    As coberturas dos movimentos podem ser consideradas sensacionalistas?
O sensacionalismo é uma nefasta estratégia que a mídia faz para se chegar às pessoas de maneira alienada. Quanto menos consciência e mais alienação trouxer às pessoas , mais fácil será a manipulação das informações e das pessoas.

5)    A impressa teria tentado não expor a grandiosidade dos movimentos, errando números e dando foco aos casos de violência/depredações e furto, com o intuito de abafar os movimentos e as reais reivindicações? Se sim, quais teriam sido os motivos?
A partir do momento que o movimento estava se enfraquecendo e as esquerdas começaram a se organizar para tentar dar uma verticalizada nos atos, a “grande mídia burguesa”começa a desqualificar o movimento e a focar somente coisas negativas.
Quando a “grande mídia burguesa” tira o foco das pautas e bandeiras de luta para falar de “violência e depredação” é para despolitizar o grande público. A alienação da população é o grande mote.

O posicionamento do Governo
1)    Você acredita que o governo respondeu à altura? O posicionamento da presidente Dilma foi adequado?
A presidente Dilma acabou injustamente sendo responsabilizada por todas as desigualdades do Brasil. A responsabilidade da maioria das reivindicações estavam com os governos municipais (caso do aumento da passagem em São Paulo) e dos governos estaduais (como a questão da segurança, etc).
O governo federal através do PT começou a botar a sua militância nas ruas e de volta nos movimentos sociais, pois, somente assim, para se ouvir os anseios populares. Entretanto, ainda está muito tímido a retomada do PT nos movimentos sociais, necessitando uma mudança interna brusca no partido.
O governo de Dilma Roussef foi inadequado, pois foi insuficiente. Este sinalizou algumas coisas questionáveis, como o aumento das verbas da educação e saúde (na destinação dos royalties do pré-sal, pois é somente 10%, sendo o 90% restante para as grandes empresas transnacionais), a ampliação de programas sociais reformistas (como o “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida”) e a criação de alguns novos programas sociais (como os “Mais Médicos”).

2)    Na época, o cenário político esteve abalado? O PT e a presidenta Dilma Rousseff caíram no conceito dos eleitores? Se sim, o que, na sua opinião, teria levado, ainda assim, a reeleição do governo vigente na época?
A reeleição de Dilma Roussef se deu pela rejeição de Aécio Neves e do PSDB pela maioria da população brasileira. Apesar dos programas de governos do PT e do PSDB se assemelharem muito (e na prática também), a candidatura de Dilma representava interesses da classe trabalhadora e a candidatura de Aécio sinalizava perdas para a classe trabalhadora.

Os resultados
3)    Houve algum tipo de mudança após as manifestações? Você conseguiu perceber alguma mudança no governo ou nas atitudes dos governantes?
Muitas coisas positivas surgiram das “jornadas de junho de 2013”, como o fim do "imobilismo apático" do brasileiro (principalmente de sua juventude), uma consciência política em seus participantes (que poderia ser melhor se houvesse mais organização no movimento), uma pressão-choque nos políticos brasileiros que devem governar para o povo, uma reorganização das esquerdas para as bases, etc.
Os governos tiveram que ceder e realizar concessões para a população, mas isso não é garantia que seja para sempre, pois pode ser momentânea. Cabe à população se mobilizar e pressionar os governos para conquistar seus direitos.

4)    Houve melhorias na saúde, educação, segurança, corrupção? As mudanças foram atendidas? A diminuição do valor do transporte para R$3,00 teria sido a solução?
Houve algumas concessões, mas muito tímidas.
A simples redução da tarifa do transporte não foi a solução. A luta deveria caminhar para a valorização do "transporte coletivo-público de qualidade" e outras coisas importantes, tais como “a necessidade de se taxar os ricos”;“a necessidade de se taxar o transporte individual para valorizar o coletivo-público”; “necessidade de superação da lógica de direcionamento de verbas no Brasil que privilegia o capital especulativo”. 
Deve-se questionar “as contradições centro-periferia em  metrópoles como a de São Paulo”. É necessário trazer mais empregos, redes de serviço, opções de lazer e infra-estrutura na periferia, pois está quase tudo concentrado na região central. Temos de levar a "periferia para o centro", mas temos que levar "infra-estrutura para a periferia" sem isto significar especulação imobiliária (com supervalorização do preço dos terrenos/IPTU e aluguéis). Precisamos superar e enterrar a lógica capitalista de especulação imobiliária.
O movimento do passe-livre é importante, pois sinaliza uma superação das contradições da sociedade capitalista, mas é preciso politizar mais para que alcancemos isso.

5)    Você acredita que novas manifestações possam ocorrer em breve? O Gigante teria “adormecido novamente”?
O Gigante nunca adormeceu, pois os movimentos populares estão nas ruas com suas demandas à décadas. Espero que novas “jornadas de junho” ocorram, mas que sejam organizadas e massivas.

6)    Quais são as suas expectativas para o Brasil nos próximos 4 anos, levando em consideração todos os movimentos, a recente eleição e os conflitos debatidos? O país de fato estaria dividido em dois?
O Brasil sempre esteve dividido em dois, o da burguesia e o da classe trabalhadora.
É fato que não é de hoje que o PT se afastou dos movimentos sociais e de suas bandeiras históricas de defesa da classe trabalhadora.
Também é fato que o PSDB representa a burguesia em sua plenitude, o neoliberalismo violento, que não tem pudor em arrochar e tirar os direitos da classe trabalhadora.
A eleição de Lula em 2002 significou uma crise de esgotamento do neoliberalismo tucano e significaria conquistas para a classe trabalhadora. Entretanto, os 12 anos de governos do PT no governo federal significou a introdução da vergonhosa "frente popular", que significa uma derrota para a classe trabalhadora.
Esta "frente popular" continua governando para a burguesia e dá algumas concessões para a classe trabalhadora.
A quase eleição de Aécio Neves, significa que estamos tendo agora uma crise de esgotamento da "frente popular" petista. O capitalismo necessita crescer mais e a burguesia necessita enriquecer mais. Para isso ela quis acabar com a "frente popular" e colocar um "governo burguês puro" (na figura de Aécio Neves). A eleição de Aécio Neves seria um desastre para a classe trabalhadora, porque ele iria atacar os direitos dos trabalhadores e arrocharia seus salários, para poder aumentar o lucro do capital.
Dilma Roussef e PT tem que compreender que o povo deu a resposta nas ruas. Não queremos mais perda de direitos da classe trabalhadora e queremos mais conquistas. Chega de política de conciliação de classes! Chega de  "frente popular"! Rompa imediatamente com a burguesia! Faça uma política de frente única com os setores progressistas da classe trabalhadora sem a presença de partidos burgueses e sem perdas para o proletariado!



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