Em 1929
temos o esgotamento do padrão do liberalismo clássico e tivemos uma grande
crise do capitalismo com Quebra da Bolsa de Valores de Nova York. O Keynesianismo
ou Intervencionismo foi influenciado na experiência soviética e é um
planejamento macro-capitalista, surgindo para salvar o capitalismo,
solucionando e amenizando nas crises cíclicas do capital. Este diz que o Estado
tem de ser regulador, indutor e organizador, mas não deve intervir nas
empresas.
No
espaço agrário, o Keynesianismo incentiva a modernização agrícola, como nos
subsídios, créditos, incentivos fiscais e cambiais, protecionismos, aumento de
taxas alfandegárias, etc. Os subsídios existem para garantir produção, fixação
do produtor rural no meio rural, elevar e manter padrão de renda para a
produção camponesa, incentivando também o mercado interno.
O
Keynesianismo se utiliza da social-democracia (e o Estado do Bem-Estar Social)
para ser reformista e humanizar o capitalismo. Ele deixará alguns serviços
gratuitos e contribuirá para que outros serviços sejam ofertados por empresas
privadas, fato que também contribuirá no consumismo.
Os EUA
na década de 1930 fará práticas Keynesianistas através do programa New Deal,
que foi implementado pelo presidente F. Rooseevelt. O Keynesianismo esteve
presente em praticamente todos os países do mundo entre as décadas de 1930 à
1980 (podemos citar o Keynesianismo belicista na Alemanha de Hitler, o Keynesianismo
do Plano Columbu no Japão, o Keynesianismo na Coréia). O Keynesianismo
brasileiro se deu com Getulio Vargas e com o nacional-desenvolvimentismo de
Juscelino Kubitchek (Plano de Metas).
Importante
destacar que tanto no Japão, quanto na Coréia, os programas keynesianistas
foram financiados pelos EUA, lembrando que estávamos no contexto da Guerra
Fria. Este Keynesianismo aliado com a social-democracia no Japão e na Coréia
realizou reformas agrárias para frear revoluções socialistas nestes países.
Na pós-segunda
guerra mundial o Keynesianismo é mantido, mas abrandado e suavizado nos EUA e
nem tanto na Europa. A Guerra Fria foi um motivo para a continuidade do
Keynesianismo nos países capitalistas.
Com a
crise do petróleo na década de 1970 temos um esgotamento do Keynesianismo e
surgirá assim o neoliberalismo. As empresas que tinham se tornado muito
poderosas, perceberam que o Estado virara obstáculo para o avanço delas mesmas.
A derrocada da Guerra Fria também facilita neste esgotamento do Keynesianismo.
O
neoliberalismo surge com as retomadas dos ideais do liberalismo clássico, mas
com adaptações, como nas idéias de liberalição, desregulamentalização,
flexibilização, precarização, privatizações, etc. Apesar de se buscar o “estado
mínimo”, é errôneo afirmar que o neoliberalismo acabou com o Estado, pois este
ainda define o preço da força de trabalho (salário), redistribuição da
mais-valia (jurídica e fiscal-impostos), tem importância ideológica (nação,
escolas e repressão), etc.
Não
podemos afirmar que o Keynesianismo foi deixado totalmente de lado, só deram
uma suavizada nele, pois ele é operante na agropecuária mundial (principalmente
na Europa).
Na
Europa, as práticas keynesianistas sustentam a renda agropecuária dos
agricultores familiares (camponeses), que tem importância estratégica. No Japão
temos um Keynesianismo nas intervenções estatais na produção do arroz (deixam
preço alto no arroz de outros países) e na indústria pesqueira. No Brasil temos
um Keynesianismo nas práticas de incentivo ao consumo, como na redução do IPI.
Nos EUA, o presidente Barak Obama pratica o Keynesianistmo ao privatizar a GM e
propor um pacote de ajustes fiscais.
A crise
capitalista de 2008-09 foi uma crise de esgotamento do padrão neoliberal. O
capitalismo já está se mobilizando para achar soluções para mais esta
contradição. Percebe-se, que se busca articular ideais do neoliberalismo com
ideais do Keynesianismo, sendo o primeiro voltado à economia global e o segundo
voltado às economias nacionais.
CASO
DOS EUA
Segundo
Ricardo Abramovay em “Paradigmas do Capitalismo Agrário em questão”, os EUA
passam por um “Mito jefersoniano”, que pode ser compreendido em duas idéias
centrais “quanto mais propriedade de terra privadas, melhor para o Estado
Nacional” e a idéia de “democracia agrária”.
Trabalho
assalariado no campo era muito grande no começo do século XX nos EUA, depois
vai diminuindo com o assalariamento reduzido a um numero limitado de pessoas em
certa época do ano. Temos uma luta de classes no campo entre quem vive de
vender seu próprio trabalho e quem depende da exploração do trabalho alheio.
Cada vez mais as grandes corporações (que recebem subsídios públicos) dominam
cada vez mais a venda de insumo, o processamento, a distribuição, o
armazenamento de produtos agrícolas e a produção de alimentos.
O que
caracteriza uma propriedade familiar é a gestão do trabalho nesta propriedade
(se é familiar ou não), a quantidade de trabalho assalariado (que não pode
ultrapassar a media de moradores do estabelecimento) e o tempo de trabalho familiar
(que deve ser maior ao do tempo de trabalho de assalariados). Nesta
classificação não deve se preocupar em demasia com o tamanho físico da
propriedade, ou no volume de vendas ou no montante de recursos investidos.
A
produção familiar nos EUA está concentrada na região central (exercendo
atividades cerealíferas importantes de trigo-soja-cereais, produção de leite e
suínos) e a produção ultrafamiliar e patronal está concentrada na “lua
crescente periférica” (que sai da Flórida, percorrendo a região pecuária do
Texas, as hortas e pomares da Califórnia e vai até o estado de Washington).
Há uma
tendência de se ter uma grande mecanização nas propriedades familiares, mas não
significando a extinção destas propriedades familiares (elas nunca acabarão
porque tem importância estratégica). Esta mecanização significa uma necessidade
de aumento de produtividade.
As
propriedades familiares estão diminuindo como conseqüência do próprio
funcionamento da economia de mercado, mas jamais acabarão. O trabalho familiar (realizado
nas propriedades familiares) vai diminuindo muito em relação ao trabalho
assalariado (principalmente os de longa duração, realizados nas grandes
corporações), mas ainda é o hegemônico e o mais produtivo.
A
natureza social do estabelecimento está vinculada ao tipo de relação com a
terra e não apenas no tipo de trabalho nele realizado ou no volume de venda.
Não é propriedade familiar os estabelecimentos onde operadores não sejam
proprietários (caso de parceiros e arrendatários), são fontes de mão-de-obra
barata para as grandes empresas. Temos uma estrutura agrária bimodal, com
propriedades familiares (ainda maioria e responsáveis pela maior quantidade de
produção) e as grandes corporações (menores, mas em expansão). Temos de
distinguir as propriedades familiares em que temos trabalho familiar daquelas
vinculadas com as grandes corporações (com alta produtividade). Nem toda grande
propriedade está vinculada com as corporações. As grandes corporações não são
majoritárias na totalidade de propriedades e nem na quantidade de produção.
O caso
americano revela uma ausência das grandes corporações nos setores
tradicionalmente dominados pela produção familiar (em alguns estados dos EUA as
grandes corporações são proibidas por legislação). Temos recursos públicos e
mão-de-obra barata (de imigrantes asiáticos ou latino-americanos) em muitas
destas corporações.
Nas
propriedades familiares dos EUA concluímos a existência de uma grande
modernização e tecnificação da produção agropecuária, com grande produtividade.
Estas propriedades não ocorrem somente em pequenas propriedades ou em “produção
camponesa”. É sobre a base da unidade familiar que se processa boa parte da
própria concentração do processo produtivo. A expressão capitalista no campo
não se dá somente com as grandes corporações, mas também nas pequenas
propriedades, sendo que nas corporações temos precarização do trabalho e
recursos subsidiados.
CASO DA
EUROPA
Segundo
Abramovay, a Europa conseguiu se reestruturar economicamente da Segunda Guerra
Mundial de maneira rápida. Os agricultores europeus spfrem até hoje com
problemas ligados por esta modernização acelerada, como superprodução,
armazenamento de excedentes, danos ambientais pelo uso de fertilizantes e
agrotóxicos, endividamento de agricultores, etc. A Europa é hoje o segundo
maior exportador mundial de produtos agrícolas, só ficando atrás dos EUA.
Alguns
países europeus diminuíram substancialmente sua produção agrícola por achar
onerosa demais (caso da França). Entretanto, a Europa é um dos principais produtores
do mundo em cereais, carne (principalmente de porco), leite, trigo, açúcar,
batata e vinho.
Pela
criação do Bloco Econômico da União Européia (U.E.), temos na Europa uma
política agrícola única, com especializações em regiões (como as hortaliças na
Península Ibérica, leite na Escandinávia, uva/laranja/limão na Itália, etc).
A UE
fortaleceu muito os países-membros na escala global. Não se descarta a
possibilidade da existência de uma “União dos Estados Europeus”, pois já temos
moeda única, Parlamento europeu e Banco Central europeu. Entretanto, não temos
executivo e nem legislativo, muito menos unidade nacional. Muitos fatores podem
impedir, principalmente no problema da unidade nacional, pois não se pode ter
uma língua única e não dá pra ter convívio pacifico entre nações européias
neste propalado “único país”.
Verificamos
uma baixa produtividade em muitas das médias e grandes propriedades, que se
opões historicamente à modernização agrícola. As pequenas propriedades são
responsáveis pela parte mais importante da agropecuária do continente europeu,
tendo alta lucratividade.
A alta
produtividade em pequenas propriedades tem gerado um êxodo rural e um êxodo
agrícola (fazendo com que a população rural na Europa exerça atividades
não-agrícolas). O responsável por esta alta produtividade é a modernização
intensiva e a cooperação entre agricultores.
Sendo o
oposto do ocorrido nos EUA, os trabalhadores assalariados permanentes no campo
estão diminuindo substancialmente na Europa (como na França, Dinamarca, Reino
Unido, Holanda, Itália, Irlanda, Bélgica, etc). A população agrícola ativa está
bem reduzida, mas temos um pequeno destaque em alguns países tradicionalmente
agrícolas e subdesenvolvidos economicamente (como em Portugal e Grécia).
Em boa
parte das unidades agrícolas européias, verifica-se a realização de outras
atividades produtivas, ou seja, há um parcelamento na atividade produtiva e não
há uma prioridade integral à prática agrícola. A agricultura se dá em “tempo parcial”,
não significando precariedade técnica ou atraso econômico, mas uma estratégia
de reprodução social onde a preservação da situação do agricultor tem um peso
importante. A agricultura e o campo não podem acabar muito menos o camponês,
pois eles todos possuem importância estratégica.
O
Estado não quer que ocorra uma “desertificação rural” e intervêm para isso não
ocorrer (principalmente nas propriedades familiares). A realização de
atividades não-agrícolas ajuda na sobrevivência do campo, as famílias e os
agricultores europeus estão cada vez menos agrícolas e menos interessados (ou
com grandes dificuldades) em fazer seus herdeiros continuarem sua produção
(fazer a sucessão na propriedade).
Tradicionalmente
o Estado está presente na agricultura européia, auxiliando nas relações
comerciais entre estados, orientando e incentivando a produção agropecuária
(sobretudo a familiar). Há uma organização, enquadramento e disciplina sob o
comando centralizado do Estado.
O
Estado nos vários países europeus interfere diretamente na organização dos
mercados e na evolução e modernização das estruturas fundiárias. Temos uma
forte prática keynesianista de intervenção estatal para que a atividade
agropecuária continue. As práticas keynesianistas sustentam a renda agropecuária
dos agricultores familiares (camponeses), que tem importância estratégica.
O
Estado nos países europeus tem interferido keynesianamente no espaço agrário,
incentivando a modernização agrícola, como nos subsídios, créditos (como o
Crédito cooperativo), incentivos fiscais e cambiais, protecionismos, o aumento
de taxas alfandegárias, controle e regulação coletiva da oferta, etc. Os
subsídios existem para incentivar o mercado interno, garantir a produção e a
fixação do produtor rural no meio rural, elevar e manter padrão de renda para a
produção camponesa.
Entre a
década de 1950-70 tivemos uma crise de superprodução na agropecuária européia,
fazendo reduzir preços e lucros. Isso ocorreu porque estavam desvalorizando a
produção familiar, incentivando produtividade, a escala técnica, redução de
custos, expulsando os menos eficientes, patrocinando o êxodo rural, aumentando
propriedades, etc.
Para
resolver esta crise, o Estado começou a “administrar socialmente e
politicamente o êxodo rural”, indenizou antigos proprietários desapropriados,
fez “reforma agrária” destas terras (utilizando-se critérios técnicos),
políticas de aumento de renda para os agricultores (subsídios à renda
agrícola). Foi uma valorização do agricultor familiar por parte do Estado para
que não houvesse crises de superprodução. Esta valorização do agricultor
familiar não significou retroceder historicamente e valorizar o camponês
feudal, mas valorizar o meio rural e fazer deste agricultor familiar um sujeito
disciplinado, estratégico estruturalmente e diversificado em suas atividades
econômicas.
Não se
espera somente lucros da agricultura, mas contenções da luta de classe e
persistências de paradigmas estruturais. Em contrapartida, o camponês deveria
se contentar em retirar do solo somente o correspondente à renda das outras
categorias de trabalhadores na sociedade (aceitando uma redução produtiva e uma
precarização).
Portanto,
tanto nos EUA quanto na Europa, a agricultura familiar tem uma vital
importância para a sociedade capitalista, sendo que nestes locais temos uma
significativa modernização e produtividade.
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