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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Análise de Conjuntura Política


Análise da corrente “Revolução Brasileira” do PSOL

Concordo com parte das críticas da corrente “Revolução Brasileira” do PSOL ao Guilherme Boulos, que defende uma genérica “revolução solidária” e busca alianças questionáveis com grupos sociais.
Não concordo com a expressão “esquerda liberal” que é cunhada ao PSOL e PT. Curiosamente, este grupo se porta como uma Seita e é uma corrente interna do PSOL.
PSOL e PT são partidos de massa sem uma centralidade política, baseada no legalismo com ilusões eleitorais e no personalismo. Há nos 2 partidos um culto a personalidade de representantes, seja de Lula (a maior liderança da esquerda brasileira dos últimos 50 anos), seja no culto a personalidade de representantes legislativos. Quanto as ilusões eleitorais, se coloca muita energia nas ilusões das participações eleitorais do legislativo e executivo, valorizando o sistema presidencialista de coalizão e a democracia burguesa capitalista.
Pelo fato destes dois partidos terem muitas contradições, principalmente pela falta de clareza programática das bandeiras políticas, faz com que estes estejam degenerados. Entretanto, não acho que estes partidos sejam iguais, não acho que eles não sejam de esquerda e não acho que temos de “cancelar” estes partidos. Primeiramente, o conceito de esquerda é muito genérico e está ligado a todo setor progressista, não necessariamente socialista ou comunista. Podem ser de esquerda, pessoas que reivindicam o trabalhismo, nacional-desenvolvimentistas, skinheads (como os quase socialistas dos “redskins” e antirracistas dos “SHARP”), anarquistas, as muitas vertentes do socialismo (trotskistas lambertistas/posadistas/morenistas/mandelistas, leninistas, maoístas, stalinistas, etc), social-democratas, etc.
PSOL e PT são muito diferentes na sua origem. O PT foi formado com ampla participação popular, com núcleos de base, comissões de fábrica e participação ativa da militância de base. Já o PSOL, foi formado por militantes que foram expulsos do PT ou por militantes petistas que não concordavam com os rumos dos governos petistas nos primeiros governos de Lula como presidente. A base da militância do PSOL sempre foi majoritariamente de servidores públicos e de uma classe média vanguardistas com grande consciência de classe proletária.
O PT organizou a luta da classe trabalhadora, sendo imprescindível para as conquistas e embates que o proletariado traçou durante a década de 1980 e meados da década de 1990. Com o passar dos anos o PT se afastou dos movimentos sociais e de suas bandeiras históricas de defesa da classe trabalhadora, preocupando-se mais com a disputa pelo poder do que com as demandas do proletariado. Com os anos, o PT foi se degenerando grandemente, com muitas confusões programáticas (defendendo por muito tempo a bandeira genérica da ética, que foi abandonada depois dos escândalos de corrupção petistas) e o PSOL se fortaleceu na militância de base (incorporando muitos militantes, como os do MTST). Entretanto, o PT ainda é o maior partido de esquerda da América Latina, com uma militância muito grande quantitativamente, estando muito enraizado no imaginário dos brasileiros como um partido progressista e forte nos grotões do interior e da periferia brasileira.
Já o PSOL, tem se fortalecido muito, mas ainda muito pouco conhecido pela população brasileira, a não ser pela vanguarda de esquerda, pelos servidores públicos e por uma classe média urbana, fato que explica a origem de seus votos nas últimas eleições em bairros elitizados. Ainda há uma grande esperança do crescimento deste partido, que possui uma vanguarda bem combativa e alguma clareza programática por parte de parte de sua militância. Discordo de algumas retóricas que estão se tornando homogeneizantes, como os limitados discursos identitários que se afastam cada vez mais de uma prática classista e discursos que colocam debates despolitizados (como confusão de solidariedade com socialismo e a busca alienada por justiça social).
Apesar de ter muitas contradições no PT e no PSOL, entendo que há alguns pontos positivos neste modelo de “partido de massas”, que aglutina correntes distintas do campo de esquerda, seja revolucionário ou reformista. Há uma grande possibilidade de “entrismo” nestes partidos, possibilitando uma conscientização de amplos setores vanguardistas. Também há uma interessante possibilidade de luta organizada de frente nestes partidos.
Há uma grande confusão na definição do grupo “Revolução Brasileira” a um famigerado “sistema PTucano”. Esta expressão não tem nenhum sentido, pois PT e PSDB são partidos totalmente distintos no campo político, tendo origem totalmente distinta, programa político diferente e reproduz governos diferentes, apesar das muitas semelhanças. Os governos petistas promoveram tímidas políticas sociais e investimentos em infraestrutura, como o bolsa-família, ENEM, PROUNI, FUNDEB, PDE, construção de muitas Universidades Federais, Programa “Minha Casa Minha Vida”, apoio a agricultura familiar, aumento do crédito do brasileiro e redução pontual de alguns impostos, PAC (programa que fez algumas obras de infraestrutura, como portos, ferrovias, rodovias e aeroportos), etc. Muitos destes programas são de cunho reformistas, melhoraram por um tempo as condições de vida dos brasileiros (tirando milhões da situação de pobreza e gerando uma inclusão escolar/universitária muito significativa), mas geraram endividamento do brasileiro e uma ausência de uma reflexão politizada dos problemas estruturais brasileiros.
Muitas coisas dos governos petistas e tucanos foram semelhantes, tais como o privilégio ao capital financeiro e endividamento do Estado Brasileiro, uma quantidade insuficiente de incentivo a agricultura familiar e a Reforma Agrária, tímidas políticas de moradia e de investimento em infraestrutura, além de beneficiar a agroindústria e uma tecnocracia, que manteve exclusões e contradições históricas no Brasil.
Acho oportunista e simplista afirmar que o PT foi o responsável pela eleição de Bolsonaro. Não nego que as contradições petistas contribuíram para a eleição deste governo fascista, pois contribuíram com a retórica neoliberal na economia como sendo inevitável e o afastamento programático (das “bandeiras históricas” petistas) contribuiu para um governo limitado com pouco avanço social, parecendo mais concessões das elites com tempo de validade prescrita, ou seja, as elites acabariam com as políticas sociais petistas na primeira oportunidade (tais como aconteceu no governo Temer e agora no governo Bolsonaro). Entretanto, temos de levar em consideração o golpe midiático-jurídico-parlamentar que o governo Dilma sofreu em 2016, contribuindo com a construção de uma retórica que criminalizava a esquerda, os programas sociais e a própria política burguesa, abrindo espaço para “gestores” oportunistas como João Dória e discursos conservadores alucinados (que vão de intervenção militar, a defesa da monarquia e de um ultraneoliberalismo atrasado).
A disputa pelo poder é essencial. Lênin estava correto quando disse que “afora o poder, tudo é ilusão”, mas não se pode disputar o “poder pelo poder”, mas com vias à defender as demandas da classe trabalhadora e à superação do capitalismo. A eleição de Lula em 2002 significou uma crise de esgotamento do neoliberalismo tucano e poderia significar conquistas para a classe trabalhadora. Entretanto, os quase 14 anos de governos do PT no governo federal significaram a introdução da vergonhosa "frente popular", que significa uma derrota para a classe trabalhadora.
Os governos petistas devem ser identificados como de “frente popular”, ou seja, de conciliação de classe. Esta "frente popular" governou e governa para a burguesia e dá algumas concessões para a classe trabalhadora.
Houve uma crise de esgotamento da "frente popular" petista, significando que o capitalismo necessita crescer mais e a burguesia necessita enriquecer mais. Por este motivo, houve uma grande ruptura da burguesia brasileira com o PT para colocar um "governo burguês puro" (na figura de Aécio Neves em 2014 e Jair Bolsonaro em 2018).
Os governos de “frente popular” não representam os interesses da classe trabalhadora e deve ser questionado e negado. Falar em “sistema Ptucano” é de um oportunismo e de cegueira conceitual profunda. O mais correto que deveria ser defendido para a esquerda eleitoreira degenerada (que nem o PT e PSOL) é que eles façam governos que rompam com a burguesia e que neguem a  "frente popular". Para isso, é preciso uma política de frente única com os setores progressistas da classe trabalhadora, sem a presença de partidos burgueses e sem perdas para o proletariado. 
Não vejo como sendo errado ou capitulação o PSOL se aliar ao PT pontualmente em frentes classistas de esquerda, seja em sindicatos ou eleições, pois o PT é um partido de esquerda e há uma ampla massa e base a ser disputada.
Por fim, o grupo “Revolução Brasileira” se porta como uma seita oportunista com esta retórica confusa que beira o academicismo e está claramente fazendo entrismo no PSOL (o que não é errado). Há confusões também, quando dizem que no PSOL há um “potencial revolucionário da crítica radical ao sistema político e sua fundamentação econômica dependente e subdesenvolvida”, pois nunca houve esta clareza e engajamento programático no partido. Não entendo o que estão fazendo no PSOL e não entendo porque lançam candidatos nas eleições legislativas. Participar da eleição da democracia burguesa é uma estratégia, mas pelo grau de crítica ao sistema político, nem sei se é coerente participarem de eleições. Concordo que deve se denunciar o “sistema político/econômico” (derrubada da estrutura social e do modo de produção capitalista), mas beira o panfletário a defesa da genérica “revolução brasileira” e de um nacionalismo de ocasião.

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