Análise da corrente “Revolução
Brasileira” do PSOL
Concordo
com parte das críticas da corrente “Revolução Brasileira” do PSOL ao Guilherme
Boulos, que defende uma genérica “revolução solidária” e busca alianças questionáveis
com grupos sociais.
Não
concordo com a expressão “esquerda liberal” que é cunhada ao PSOL e PT. Curiosamente,
este grupo se porta como uma Seita e é uma corrente interna do PSOL.
PSOL
e PT são partidos de massa sem uma centralidade política, baseada no legalismo
com ilusões eleitorais e no personalismo. Há nos 2 partidos um culto a
personalidade de representantes, seja de Lula (a maior liderança da esquerda
brasileira dos últimos 50 anos), seja no culto a personalidade de
representantes legislativos. Quanto as ilusões eleitorais, se coloca muita
energia nas ilusões das participações eleitorais do legislativo e executivo,
valorizando o sistema presidencialista de coalizão e a democracia burguesa
capitalista.
Pelo
fato destes dois partidos terem muitas contradições, principalmente pela falta
de clareza programática das bandeiras políticas, faz com que estes estejam
degenerados. Entretanto, não acho que estes partidos sejam iguais, não acho que
eles não sejam de esquerda e não acho que temos de “cancelar” estes partidos. Primeiramente,
o conceito de esquerda é muito genérico e está ligado a todo setor
progressista, não necessariamente socialista ou comunista. Podem ser de
esquerda, pessoas que reivindicam o trabalhismo, nacional-desenvolvimentistas,
skinheads (como os quase socialistas dos “redskins” e antirracistas dos “SHARP”),
anarquistas, as muitas vertentes do socialismo (trotskistas
lambertistas/posadistas/morenistas/mandelistas, leninistas, maoístas, stalinistas,
etc), social-democratas, etc.
PSOL
e PT são muito diferentes na sua origem. O PT foi formado com ampla
participação popular, com núcleos de base, comissões de fábrica e participação
ativa da militância de base. Já o PSOL, foi formado por militantes que foram
expulsos do PT ou por militantes petistas que não concordavam com os rumos dos
governos petistas nos primeiros governos de Lula como presidente. A base da militância
do PSOL sempre foi majoritariamente de servidores públicos e de uma classe
média vanguardistas com grande consciência de classe proletária.
O PT organizou a luta da classe trabalhadora, sendo
imprescindível para as conquistas e embates que o proletariado traçou durante a
década de 1980 e meados da década de 1990. Com o passar dos anos o PT se
afastou dos movimentos sociais e de suas bandeiras históricas de defesa da
classe trabalhadora, preocupando-se mais com a disputa pelo poder do que com as
demandas do proletariado. Com os anos, o PT
foi se degenerando grandemente, com muitas confusões programáticas (defendendo
por muito tempo a bandeira genérica da ética, que foi abandonada depois dos escândalos
de corrupção petistas) e o PSOL se fortaleceu na militância de base
(incorporando muitos militantes, como os do MTST). Entretanto, o PT ainda é o
maior partido de esquerda da América Latina, com uma militância muito grande
quantitativamente, estando muito enraizado no imaginário dos brasileiros como
um partido progressista e forte nos grotões do interior e da periferia
brasileira.
Já
o PSOL, tem se fortalecido muito, mas ainda muito pouco conhecido pela
população brasileira, a não ser pela vanguarda de esquerda, pelos servidores públicos
e por uma classe média urbana, fato que explica a origem de seus votos nas
últimas eleições em bairros elitizados. Ainda há uma grande esperança do
crescimento deste partido, que possui uma vanguarda bem combativa e alguma
clareza programática por parte de parte de sua militância. Discordo de algumas
retóricas que estão se tornando homogeneizantes, como os limitados discursos
identitários que se afastam cada vez mais de uma prática classista e discursos
que colocam debates despolitizados (como confusão de solidariedade com
socialismo e a busca alienada por justiça social).
Apesar
de ter muitas contradições no PT e no PSOL, entendo que há alguns pontos
positivos neste modelo de “partido de massas”, que aglutina correntes distintas
do campo de esquerda, seja revolucionário ou reformista. Há uma grande
possibilidade de “entrismo” nestes partidos, possibilitando uma conscientização
de amplos setores vanguardistas. Também há uma interessante possibilidade de
luta organizada de frente nestes partidos.
Há
uma grande confusão na definição do grupo “Revolução Brasileira” a um
famigerado “sistema PTucano”. Esta expressão não
tem nenhum sentido, pois PT e PSDB são partidos totalmente distintos no campo
político, tendo origem totalmente distinta, programa político diferente e reproduz
governos diferentes, apesar das muitas semelhanças. Os governos petistas
promoveram tímidas políticas sociais e investimentos em infraestrutura, como o
bolsa-família, ENEM, PROUNI, FUNDEB, PDE, construção de muitas Universidades
Federais, Programa “Minha Casa Minha Vida”, apoio a agricultura familiar, aumento
do crédito do brasileiro e redução pontual de alguns impostos, PAC (programa
que fez algumas obras de infraestrutura, como portos, ferrovias, rodovias e aeroportos),
etc. Muitos destes programas são de cunho reformistas, melhoraram por um tempo
as condições de vida dos brasileiros (tirando milhões da situação de pobreza e
gerando uma inclusão escolar/universitária muito significativa), mas geraram
endividamento do brasileiro e uma ausência de uma reflexão politizada dos
problemas estruturais brasileiros.
Muitas coisas dos governos petistas e tucanos foram
semelhantes, tais como o privilégio ao capital financeiro e endividamento do
Estado Brasileiro, uma quantidade insuficiente de incentivo a agricultura
familiar e a Reforma Agrária, tímidas políticas de moradia e de investimento em
infraestrutura, além de beneficiar a agroindústria e uma tecnocracia, que
manteve exclusões e contradições históricas no Brasil.
Acho oportunista e simplista afirmar que o PT foi o
responsável pela eleição de Bolsonaro. Não nego que as contradições petistas
contribuíram para a eleição deste governo fascista, pois contribuíram com a
retórica neoliberal na economia como sendo inevitável e o afastamento
programático (das “bandeiras históricas” petistas) contribuiu para um governo
limitado com pouco avanço social, parecendo mais concessões das elites com
tempo de validade prescrita, ou seja, as elites acabariam com as políticas sociais
petistas na primeira oportunidade (tais como aconteceu no governo Temer e agora
no governo Bolsonaro). Entretanto, temos de levar em consideração o golpe
midiático-jurídico-parlamentar que o governo Dilma sofreu em 2016, contribuindo
com a construção de uma retórica que criminalizava a esquerda, os programas
sociais e a própria política burguesa, abrindo espaço para “gestores”
oportunistas como João Dória e discursos conservadores alucinados (que vão de
intervenção militar, a defesa da monarquia e de um ultraneoliberalismo atrasado).
A disputa pelo
poder é essencial. Lênin estava correto quando disse que “afora o poder, tudo é
ilusão”, mas não se pode disputar o “poder pelo poder”, mas com vias à defender
as demandas da classe trabalhadora e à superação do capitalismo. A eleição de
Lula em 2002 significou uma crise de esgotamento do neoliberalismo tucano e
poderia significar conquistas para a classe trabalhadora. Entretanto, os quase 14
anos de governos do PT no governo federal significaram a introdução da
vergonhosa "frente popular", que significa uma derrota para a classe
trabalhadora.
Os governos petistas devem ser identificados como de “frente
popular”, ou seja, de conciliação de classe. Esta "frente popular" governou
e governa para a burguesia e dá algumas concessões para a classe trabalhadora.
Houve uma crise
de esgotamento da "frente popular" petista, significando que o
capitalismo necessita crescer mais e a burguesia necessita enriquecer mais. Por
este motivo, houve uma grande ruptura da burguesia brasileira com o PT para
colocar um "governo burguês puro" (na figura de Aécio Neves em 2014 e
Jair Bolsonaro em 2018).
Os governos de “frente
popular” não representam os interesses da classe trabalhadora e deve ser
questionado e negado. Falar em “sistema Ptucano” é de um oportunismo e de cegueira
conceitual profunda. O mais correto que deveria ser defendido para a esquerda
eleitoreira degenerada (que nem o PT e PSOL) é que eles façam governos que rompam
com a burguesia e que neguem a "frente popular". Para isso, é
preciso uma política de frente única com os setores progressistas da classe
trabalhadora, sem a presença de partidos burgueses e sem perdas para o
proletariado.
Não vejo como sendo errado ou capitulação o PSOL se aliar ao
PT pontualmente em frentes classistas de esquerda, seja em sindicatos ou
eleições, pois o PT é um partido de esquerda e há uma ampla massa e base a ser
disputada.
Por fim, o grupo “Revolução Brasileira” se porta
como uma seita oportunista com esta retórica confusa que beira o academicismo e
está claramente fazendo entrismo no PSOL (o que não é errado). Há confusões
também, quando dizem que no PSOL há um “potencial
revolucionário da crítica radical ao sistema político e sua fundamentação
econômica dependente e subdesenvolvida”, pois nunca houve esta clareza e engajamento
programático no partido. Não entendo o que estão fazendo no PSOL e não entendo
porque lançam candidatos nas eleições legislativas. Participar da eleição da
democracia burguesa é uma estratégia, mas pelo grau de crítica ao sistema
político, nem sei se é coerente participarem de eleições. Concordo que deve se
denunciar o “sistema político/econômico” (derrubada da estrutura social e do
modo de produção capitalista), mas beira o panfletário a defesa da genérica “revolução
brasileira” e de um nacionalismo de ocasião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário