REPASSO ARTIGO QUE FIZ SOBRE ATEÍSMO E RELIGIÃO.
____
ATEÍSMO E CONCEPÇÃO DE RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
Wladimir Jansen Ferreira
Ateísmo é a rejeição ou ausência da crença
na existência de divindades, outros seres sobrenaturais e do criacionismo das
coisas. Os ateus acreditam na ciência e nas evidências empíricas, não havendo nenhuma
ideologia, um movimento organizado, um partido, uma igreja ou um conjunto de
comportamentos a que todos os ateus aderem.
ENGELS (1978, p.26) disse que o “homem é a
natureza que toma consciência de si mesma”(1), ou seja, o ser humano é uma
natureza racional desde o seu surgimento no planeta Terra. A natureza é a negação da sociedade,
pois para criar sua identidade humana, o Homem negou a natureza como elemento
integrante de si. Sociedade cria o Homem como negação da natureza, ou seja,
natureza é a negação da sociedade. A natureza jamais poderia ser compreendida
se não fosse concebida como alteridade em relação ao homem. O conceito de
natureza é desumanizado.
Desde o surgimento do Homo Sapiens no planeta Terra (em processo evolutivo
ocorrido à cerca de 200 mil anos durante
o período Quaternário), este começará a questionar sua existencia e a formação
do Universo (fazendo questionamentos como: “de onde vim?”, “para onde irei
quando morrer?”, “qual a origem do universo e do planeta Terra?”, etc).
Isto significa dizer que o conceito de religiosidade é intrínseco ao ser
humano, pois todas as pessoas buscam compreender a realidade de alguma forma. A
idéia de religiosidade está presente em todos os seres humanos desde o seu
surgimento no planeta, onde até um ateu possui religiosidade (pois tenta
compreender a formação das coisas).
O teólogo Mario Sérgio
Cortella diz que religiosidade é uma “manifestação da sacralidade da existência”
e nunca haverá alguém que não tivesse alguma religiosidade, ou seja, “nunca
houve registro na história humana da ausência de religiosidade”. “Todos os
primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e
à idéia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte”.
A palavra religiosidade
deriva de religião. Se formos à etimologia da palavra, podemos definir a
Religião como o Re-ligare = ligar o ser humano à natureza, fazer uma
compreensão da formação das coisas.
Existem quatro maneiras de
se compreender a formação das coisas: pela ciência, pela arte, pela filosofia e
pela religião.
A ciência se baseia em
teorias e evidências científicas da formação das coisas, entretanto, a ciência
não traz “verdades absolutas”, mas suposições e teorias. A partir do momento em
que ela buscar “verdades absolutas”, a ciência deixará de ser ciência e virará
religião.
A ciência busca os “comos”
e traz respostas frias, como a idéia de “junção casual de átomos” (para falar
da formação de planetas e estrelas) e de “unidade de carbono” (para a essência
física e química de alguns seres vivos).
A arte, a filosofia e a
religião questionam a “frieza” dos estudos científicos e buscam dar existência
e sentimento à realidade. Entretanto, elas pecam pela ausência de rigor
cientifico.
As 4 formas de
entendimento da realidade são válidas, mas muitos ateus preferem a forma
cientifica. Dentre as 4 formas de entendimento da realidade, existem outras
maneiras de compreensão. As várias manifestações artísticas e religiosas devem
ser respeitadas.
Muitas vezes, algumas
religiões são preconceituosas com outras porque buscam ser “universais” e este
desprezo é ideológico. Todas as religiões derivadas do Antigo Testamento (como
a católica, judia, protestante, evangélica, etc) buscam ser universais e
possuem este desprezo pelo diferente.
Todos os seres humanos,
ateus ou religiosos, devem ter consigo o respeito às outras manifestações
religiosas. É necessário que se tenha tolerância e alteridade (o respeito pelo
diferente), pois é na diferença que se constrói as identidades individuais e
coletivas.
A ciência, a arte, a
religião, a filosofia, a igreja, deus, a religiosidade, são todas idéias ou
invenções humanas. Também podemos afirma que “sem natureza não há sociedade e
sem sociedade não há natureza”. Sem sociedade não há natureza porque foi o ser
humano que deu nome aos objetos do mundo (seja um cachorro, árvore, montanha,
rio). A natureza é um elemento concreto do mundo, sendo também o palco dos
acontecimentos. Natureza também é um conceito, sendo uma construção humana e
social. Portanto, natureza é um conceito social, sem sociedade não pode haver a
idéia de natureza, até porque alguém disse que a natureza existe e certamente
não foi o Planeta Terra ou um ser superior (deus).
Sem natureza não há sociedade
porque toda sociedade necessita da natureza para sobreviver, pois o homem bebe
água, alimenta, respira, utiliza roupas, etc.
É equivocada a visão que
diz que o homem não pode interferir na natureza. Ele sempre vai interferir, só
que com menor ou maior intensidade, de acordo com o modo de produção das
sociedades.
Devemos reconhecer a
função social da religião, que une e passa valores morais às pessoas. A
religião dá alento e acalento espiritual às pessoas, que, cada vez mais, estão
mais insensíveis e mais pressionados pela sociedade.
MARX (2005, p.146-147) já
dizia: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um mundo sem
coração e a alma de situações sem alma. É
o ópio do povo.” [grifo do autor] É o ópio no sentido de
anestesiar e dar alento espiritual às pessoas, mas é uma alienação e uma
felicidade ilusória que deve ser superada. Existem outras maneiras de se
extravasar suas frustrações e alegrias.
Portanto, a crítica do
ateu à religião deve ser feita pelo “não-cientificismo” das religiões e da
exploração da fé e da religiosidade das pessoas pelas igrejas. A religião só
deixará de existir se a ciência começar a ser “mais impessoal e fria” e se as
pessoas tomarem consciência cientifica da realidade.
Bibliografia
CORTELLA, Mario Sergio. Mario Sergio Cortella: não adie seu
encontro com a espiritualidade. Edição virtual em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/mario-sergio-cortella-nao-adie-seu-encontro-espiritualidade-521429.shtml
ENGELS, Friedrich. Dialética da Natureza. Lisboa: Editorial Presença, 1978.
FERREIRA, Wladimir Jansen. Uma Análise
Crítica do Conceito de Natureza no Currículo de Geografia do Estado de São
Paulo. São Paulo: PUC-SP, 2011.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des)caminhos do Meio Ambiente. São
Paulo: Contexto, 2000.
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
_________. Crítica da
Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2005.
MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica.
São Paulo: Contexto, 2006.
______________. O círculo e a espiral – para a critica da geografia que se ensina.
Niterói: Edições AGB-Niterói, 2004.
Nota:
(1) Esta frase é creditada para o geógrafo francês Èlisée Reclus (1830-1905) no livro “O Homem e a Terra” (publicado postumamente em 1906), mas creio que esta frase tenha sido originalmente realizada por F. Engels no livro “Dialética da Natureza” (escrito na década de 1870).
Nota:
(1) Esta frase é creditada para o geógrafo francês Èlisée Reclus (1830-1905) no livro “O Homem e a Terra” (publicado postumamente em 1906), mas creio que esta frase tenha sido originalmente realizada por F. Engels no livro “Dialética da Natureza” (escrito na década de 1870).
Nenhum comentário:
Postar um comentário