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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

ATEÍSMO e CONCEPÇÃO de RELIGIÃO e RELIGIOSIDADE

REPASSO ARTIGO QUE FIZ SOBRE ATEÍSMO E RELIGIÃO.
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ATEÍSMO E CONCEPÇÃO DE RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
Wladimir Jansen Ferreira


Ateísmo é a rejeição ou ausência da crença na existência de divindades, outros seres sobrenaturais e do criacionismo das coisas. Os ateus acreditam na ciência e nas evidências empíricas, não havendo nenhuma ideologia, um movimento organizado, um partido, uma igreja ou um conjunto de comportamentos a que todos os ateus aderem.
ENGELS (1978, p.26) disse que o “homem é a natureza que toma consciência de si mesma”(1), ou seja, o ser humano é uma natureza racional desde o seu surgimento no planeta Terra. A natureza é a negação da sociedade, pois para criar sua identidade humana, o Homem negou a natureza como elemento integrante de si. Sociedade cria o Homem como negação da natureza, ou seja, natureza é a negação da sociedade. A natureza jamais poderia ser compreendida se não fosse concebida como alteridade em relação ao homem. O conceito de natureza é desumanizado.
Desde o surgimento do Homo Sapiens no planeta Terra (em processo evolutivo ocorrido à cerca de 200 mil anos durante o período Quaternário), este começará a questionar sua existencia e a formação do Universo (fazendo questionamentos como: “de onde vim?”, “para onde irei quando morrer?”, “qual a origem do universo e do planeta Terra?”, etc).
Isto significa dizer que o conceito de religiosidade é intrínseco ao ser humano, pois todas as pessoas buscam compreender a realidade de alguma forma. A idéia de religiosidade está presente em todos os seres humanos desde o seu surgimento no planeta, onde até um ateu possui religiosidade (pois tenta compreender a formação das coisas).
O teólogo Mario Sérgio Cortella diz que religiosidade é uma “manifestação da sacralidade da existência” e nunca haverá alguém que não tivesse alguma religiosidade, ou seja, “nunca houve registro na história humana da ausência de religiosidade”. “Todos os primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e à idéia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte”.
A palavra religiosidade deriva de religião. Se formos à etimologia da palavra, podemos definir a Religião como o Re-ligare = ligar o ser humano à natureza, fazer uma compreensão da formação das coisas.
Existem quatro maneiras de se compreender a formação das coisas: pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião.
A ciência se baseia em teorias e evidências científicas da formação das coisas, entretanto, a ciência não traz “verdades absolutas”, mas suposições e teorias. A partir do momento em que ela buscar “verdades absolutas”, a ciência deixará de ser ciência e virará religião.
A ciência busca os “comos” e traz respostas frias, como a idéia de “junção casual de átomos” (para falar da formação de planetas e estrelas) e de “unidade de carbono” (para a essência física e química de alguns seres vivos).
A arte, a filosofia e a religião questionam a “frieza” dos estudos científicos e buscam dar existência e sentimento à realidade. Entretanto, elas pecam pela ausência de rigor cientifico.
As 4 formas de entendimento da realidade são válidas, mas muitos ateus preferem a forma cientifica. Dentre as 4 formas de entendimento da realidade, existem outras maneiras de compreensão. As várias manifestações artísticas e religiosas devem ser respeitadas.
Muitas vezes, algumas religiões são preconceituosas com outras porque buscam ser “universais” e este desprezo é ideológico. Todas as religiões derivadas do Antigo Testamento (como a católica, judia, protestante, evangélica, etc) buscam ser universais e possuem este desprezo pelo diferente.
Todos os seres humanos, ateus ou religiosos, devem ter consigo o respeito às outras manifestações religiosas. É necessário que se tenha tolerância e alteridade (o respeito pelo diferente), pois é na diferença que se constrói as identidades individuais e coletivas.
A ciência, a arte, a religião, a filosofia, a igreja, deus, a religiosidade, são todas idéias ou invenções humanas. Também podemos afirma que “sem natureza não há sociedade e sem sociedade não há natureza”. Sem sociedade não há natureza porque foi o ser humano que deu nome aos objetos do mundo (seja um cachorro, árvore, montanha, rio). A natureza é um elemento concreto do mundo, sendo também o palco dos acontecimentos. Natureza também é um conceito, sendo uma construção humana e social. Portanto, natureza é um conceito social, sem sociedade não pode haver a idéia de natureza, até porque alguém disse que a natureza existe e certamente não foi o Planeta Terra ou um ser superior (deus).
Sem natureza não há sociedade porque toda sociedade necessita da natureza para sobreviver, pois o homem bebe água, alimenta, respira, utiliza roupas, etc.
É equivocada a visão que diz que o homem não pode interferir na natureza. Ele sempre vai interferir, só que com menor ou maior intensidade, de acordo com o modo de produção das sociedades.
Devemos reconhecer a função social da religião, que une e passa valores morais às pessoas. A religião dá alento e acalento espiritual às pessoas, que, cada vez mais, estão mais insensíveis e mais pressionados pela sociedade.
MARX (2005, p.146-147) já dizia: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. É o ópio do povo.” [grifo do autor] É o ópio no sentido de anestesiar e dar alento espiritual às pessoas, mas é uma alienação e uma felicidade ilusória que deve ser superada. Existem outras maneiras de se extravasar suas frustrações e alegrias.
Portanto, a crítica do ateu à religião deve ser feita pelo “não-cientificismo” das religiões e da exploração da fé e da religiosidade das pessoas pelas igrejas. A religião só deixará de existir se a ciência começar a ser “mais impessoal e fria” e se as pessoas tomarem consciência cientifica da realidade.

Bibliografia
CORTELLA, Mario Sergio. Mario Sergio Cortella: não adie seu encontro com a espiritualidade. Edição virtual em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/mario-sergio-cortella-nao-adie-seu-encontro-espiritualidade-521429.shtml
ENGELS, Friedrich. Dialética da Natureza. Lisboa: Editorial Presença, 1978.
FERREIRA, Wladimir Jansen. Uma Análise Crítica do Conceito de Natureza no Currículo de Geografia do Estado de São Paulo. São Paulo: PUC-SP, 2011.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des)caminhos do Meio Ambiente. São Paulo: Contexto, 2000.
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
_________. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.
MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica. São Paulo: Contexto, 2006.
______________. O círculo e a espiral – para a critica da geografia que se ensina. Niterói: Edições AGB-Niterói, 2004.


Nota:
(1) Esta frase é creditada para o geógrafo francês Èlisée Reclus (1830-1905) no livro “O Homem e a Terra” (publicado postumamente em 1906), mas creio que esta frase tenha sido originalmente realizada por F. Engels no livro “Dialética da Natureza” (escrito na década de 1870).

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