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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MALTHUSIANISMO, NEO-MALTHUSIANISMO e MARXISMO

REPASSO TEXTO QUE FIZ:
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MALTHUSIANISMO, NEO-MALTHUSIANISMO e MARXISMO
Wladimir Jansen Ferreira

O neomalthusianismo foi influenciado pelas idéias do economista e pastor inglês Thomas Malthus (1766-1834). Este estava preocupado com os “recursos naturais” existentes no mundo, criando uma teoria (“princípio da população”) que diz que “a população cresce em proporção geométrica e a produção de alimentos cresce em progressão aritmética”. Além de se ter uma preocupação com os recursos naturais, Malthus fazia uma crítica à produção agrícola familiar (que não era tecnológica e produzia produtos agrícolas em pequena quantidade), defendia o “estímulo da expansão agrícola” e tecia críticas às famílias pobres (e países subdesenvolvidos ou com o capitalismo não desenvolvido)[1].
As preocupações de Malthus eram imperialistas e capitalistas, pois se buscava uma expansão das relações produtivas capitalistas e um privilégio do Império inglês. As discussões realizadas por Malthus devem ser situadas dentro dos debates realizados por ele David Ricardo e Adam Smith, que expressam divergências nos debates realizados pela burguesia inglesa a partir da segunda metade do século XVIII sobre o desenvolvimento do capitalismo[2].
Apesar de colocar a sociedade nas dinâmicas populacionais, Malthus era conservador e reacionário ao negar a luta de classes e por “naturalizar a pobreza” (utiliza-se de um silogismo que diz que “os pobres são pobres porque são pobres”). OLIVEIRA (1985, p.8), diz que a Malthus tinha como preocupação:
Sua preocupação inicial, quando ele aborda a população, estava direcionada no sentido de entender “relações sociais”, porque o capital se acumulava neste ou naquele ritmo, porque população e capital vão determinar uma taxa de salários; porque o movimento da população pode contrabalançar a tendência da acumulação em fazendo baixar ou aumentar os salários.

Apesar desta postura conservadora, MOREIRA (2004-a, p.63) diz que Malthus considerava que os fenômenos populacionais eram aspectos de um processo social e global, norteados pelo processo de acumulação do capital. Isto significa dizer que “mesmo não explicitada”, os fenômenos populacionais são frutos das “relações contraditórias de classes sociais”.
Malthus defendia a contenção da população através do retardamento na idade dos casamentos, abstinência sexual e no planejamento familiar, sendo que poderia ser contido por catástrofes naturais, guerras e epidemias generalizadas.
Os preceitos da teoria populacional de Malthus serão utilizados por muitas décadas nas políticas estatais, nas leituras científicas das dinâmicas populacionais e no senso comum das pessoas. Esta visão é questionada pelos preceitos marxistas e terá uma retomada no discurso ambientalista da década de 1970, revestido de uma nova “capa”, chamada agora de neomalthusiana.
A teoria populacional marxista considera que é a própria miséria a responsável pelo acelerado crescimento populacional. Defendem reformas de caráter sócio-econômico (fazer políticas estruturais) que possibilitem a melhoria do padrão de vida das populações dos países subdesenvolvidos, pois isso traria por conseqüência o planejamento familiar espontâneo e a redução das taxas de natalidade e de crescimento vegetativo (tal como ocorreu em vários países hoje desenvolvidos economicamente).
Não existe um “estudo da população” em Marx e Engels, mas subentende-se que o Modo de Produção determinará as dinâmicas populacionais (sendo estas regidas pelas leis dos Modos de Produção). Portanto, a própria dinâmica da produção histórica da sociedade que determinará a dinâmica da demografia. No Modo de Produção Capitalista as dinâmicas populacionais se manifestarão na “reprodução da força de trabalho” e no “exército industrial de reserva”[3] (que rege os termos da reprodução da força de trabalho).
Segundo MOREIRA (2004-a, p.67), as proposições populacionais de Marx e Engels superariam o “historicismo linear e mecanicista” de Malthus (ao afirmar o caráter social e histórico-concreto dos fenômenos populacionais), Smith e Ricardo (situando na esfera da produção a raiz dos fenômenos populacionais).
É necessário se levar em conta as determinações sociais e produtivas para o entendimento da dinâmica populacional, sendo que a força de trabalho será influenciada pelas dinâmicas do trabalho. Segundo OLIVEIRA (1985, p.19):
Uma teoria da população a partir de Marx toma o movimento de acumulação de capital como determinante; este movimento é que produz a força de trabalho na ativa e na reserva, e são os movimentos da força de trabalho que estão no cerne das mediações entre a população e seus estoques.

Os neomalthusianistas omitem uma importante preocupação de Malthus, que era tentar compreender as relações sociais, ou seja, buscam “alterar os comportamentos reprodutivos sem alterar as condições de vida”[4].
Os neomalthusianos se diferenciam em poucas coisas com o malthusiano, mas a preocupação das duas teorias é a mesma, que é uma defesa do controle populacional. O neomalthusianismo não focam na defesa à preceitos morais para conter o crescimento populacional, mas pelo controle da natalidade através do planejamento familiar[5]. Além disso, para os neomalthusianos a produção de alimentos é um problema superável, haja vista os progressos da ciência e tecnologia aplicados ao campo.


Notas:
[1] Apesar de haver um preconceito em relação à pobreza, Malthus foi um dos primeiros cientistas a relacionar a taxa de mortalidade com salários e a condição de vida das pessoas.
[2] Smith representava os interesses da “burguesia mercantil”, Ricardo representava os interesses da “burguesia industrial” (que teria hegemonia na sociedade) e Malthus representava os interesses da “burguesia rural” (afetada pela burguesia mercantil e industrial).
[3] Na sociedade capitalista, o “exército industrial de reserva” é forjado para o rebaixamento de salários, sendo o “núcleo regente da dinâmica populacional no modo de produção capitalista”. Este exército está ligado ao numero de desempregados, que foram desterritorializados no processo de êxodo rural e que estão desempregados pelo maior número de equipamentos-máquinas que trabalhadores nas empresas. Nas crises do capital o “exército industrial de reserva” é ampliado e os salários rebaixados e nas épocas de recuperação-prosperidade o “exército industrial de reserva” é reduzido e os salários aumentados. No modo de produção capitalista a população é regida nesta lógica.
[4] OLIVEIRA (1985, p.17)
[5] Segundo OLIVEIRA (1985, p.16), Malthus “confiava muito mais no próprio ajustamento entre salários e condições de vida como meio de controlar a expansão da população, e menos na possibilidade de controle e planejamento social dos usos, costumes e tradições.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERREIRA, Wladimir Jansen. Uma Leitura Geográfica da Formação da Cidade de São Paulo na Obra de Adoniran Barbosa. Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia na PUC-SP. São Paulo: PUC-SP, 2005.
_________________________. Uma Análise Crítica do Conceito de Natureza no Currículo de Geografia do Estado de São Paulo. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Geografia na PUC-SP. São Paulo: PUC-SP, 2011.
MOREIRA, Ruy. O círculo e a espiral – para a critica da geografia que se ensina. Niterói: Edições AGB-Niterói, 2004-a.
______________. Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica. São Paulo: Contexto, 2006.
OLIVEIRA, Francisco de. Malthus e Marx – o falso encanto e dificuldade radical, Campinas: NEPO-UNICAMP, 1985.

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