REPASSO TEXTO QUE FIZ:
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MALTHUSIANISMO, NEO-MALTHUSIANISMO e MARXISMO
Wladimir Jansen Ferreira
O neomalthusianismo foi
influenciado pelas idéias do economista e pastor inglês Thomas Malthus
(1766-1834). Este estava preocupado com os “recursos naturais” existentes no
mundo, criando uma teoria (“princípio da população”) que diz que “a população
cresce em proporção geométrica e a produção de alimentos cresce em progressão
aritmética”. Além de se ter uma preocupação com os recursos naturais, Malthus
fazia uma crítica à produção agrícola familiar (que não era tecnológica e
produzia produtos agrícolas em pequena quantidade), defendia o “estímulo da
expansão agrícola” e tecia críticas às famílias pobres (e países subdesenvolvidos
ou com o capitalismo não desenvolvido)[1].
As preocupações de Malthus
eram imperialistas e capitalistas, pois se buscava uma expansão das relações
produtivas capitalistas e um privilégio do Império inglês. As discussões
realizadas por Malthus devem ser situadas dentro dos debates realizados por ele
David Ricardo e Adam Smith, que expressam divergências nos debates realizados
pela burguesia inglesa a partir da segunda metade do século XVIII sobre o
desenvolvimento do capitalismo[2].
Apesar de colocar a
sociedade nas dinâmicas populacionais, Malthus era conservador e reacionário ao
negar a luta de classes e por “naturalizar a pobreza” (utiliza-se de um
silogismo que diz que “os pobres são pobres porque são pobres”). OLIVEIRA
(1985, p.8), diz que a Malthus tinha como preocupação:
Sua
preocupação inicial, quando ele aborda a população, estava direcionada no
sentido de entender “relações sociais”, porque o capital se acumulava neste ou
naquele ritmo, porque população e capital vão determinar uma taxa de salários;
porque o movimento da população pode contrabalançar a tendência da acumulação
em fazendo baixar ou aumentar os salários.
Apesar
desta postura conservadora, MOREIRA (2004-a, p.63) diz que Malthus considerava que
os fenômenos populacionais eram aspectos de um processo social e global,
norteados pelo processo de acumulação do capital. Isto significa dizer que
“mesmo não explicitada”, os fenômenos populacionais são frutos das “relações
contraditórias de classes sociais”.
Malthus defendia a
contenção da população através do retardamento na idade dos casamentos,
abstinência sexual e no planejamento familiar, sendo que poderia ser contido
por catástrofes naturais, guerras e epidemias generalizadas.
Os preceitos da teoria
populacional de Malthus serão utilizados por muitas décadas nas políticas
estatais, nas leituras científicas das dinâmicas populacionais e no senso comum
das pessoas. Esta visão é questionada pelos preceitos marxistas e terá uma
retomada no discurso ambientalista da década de 1970, revestido de uma nova
“capa”, chamada agora de neomalthusiana.
A teoria populacional
marxista considera que é a própria miséria a responsável pelo acelerado
crescimento populacional. Defendem reformas de caráter sócio-econômico (fazer
políticas estruturais) que possibilitem a melhoria do padrão de vida das
populações dos países subdesenvolvidos, pois isso traria por conseqüência o
planejamento familiar espontâneo e a redução das taxas de natalidade e de
crescimento vegetativo (tal como ocorreu em vários países hoje desenvolvidos
economicamente).
Não existe um “estudo da
população” em Marx e Engels, mas subentende-se que o Modo de Produção
determinará as dinâmicas populacionais (sendo estas regidas pelas leis dos
Modos de Produção). Portanto, a própria dinâmica da produção histórica da
sociedade que determinará a dinâmica da demografia. No Modo de Produção
Capitalista as dinâmicas populacionais se manifestarão na “reprodução da força
de trabalho” e no “exército industrial de reserva”[3]
(que rege os termos da reprodução da força de trabalho).
Segundo MOREIRA (2004-a,
p.67), as proposições populacionais de Marx e Engels superariam o “historicismo
linear e mecanicista” de Malthus (ao afirmar o caráter social e
histórico-concreto dos fenômenos populacionais), Smith e Ricardo (situando na
esfera da produção a raiz dos fenômenos populacionais).
É necessário se levar em
conta as determinações sociais e produtivas para o entendimento da dinâmica
populacional, sendo que a força de trabalho será influenciada pelas dinâmicas
do trabalho. Segundo OLIVEIRA (1985, p.19):
Uma
teoria da população a partir de Marx toma o movimento de acumulação de capital
como determinante; este movimento é que produz a força de trabalho na ativa e
na reserva, e são os movimentos da força de trabalho que estão no cerne das
mediações entre a população e seus estoques.
Os neomalthusianistas
omitem uma importante preocupação de Malthus, que era tentar compreender as
relações sociais, ou seja, buscam “alterar os comportamentos reprodutivos sem
alterar as condições de vida”[4].
Os neomalthusianos se
diferenciam em poucas coisas com o malthusiano, mas a preocupação das duas
teorias é a mesma, que é uma defesa do controle populacional. O neomalthusianismo
não focam na defesa à preceitos morais para conter o crescimento populacional,
mas pelo controle da natalidade através do planejamento familiar[5]. Além
disso, para os neomalthusianos a produção de alimentos é um problema superável,
haja vista os progressos da ciência e tecnologia aplicados ao campo.
Notas:
[1] Apesar de haver um
preconceito em relação à pobreza, Malthus foi um dos primeiros cientistas a
relacionar a taxa de mortalidade com salários e a condição de vida das pessoas.
[2] Smith representava
os interesses da “burguesia mercantil”, Ricardo representava os interesses da
“burguesia industrial” (que teria hegemonia na sociedade) e Malthus
representava os interesses da “burguesia rural” (afetada pela burguesia
mercantil e industrial).
[3] Na sociedade capitalista, o “exército
industrial de reserva” é forjado para o rebaixamento de salários, sendo o
“núcleo regente da dinâmica populacional no modo de produção capitalista”. Este
exército está ligado ao numero de desempregados, que foram desterritorializados
no processo de êxodo rural e que estão desempregados pelo maior número de
equipamentos-máquinas que trabalhadores nas empresas. Nas crises do capital o
“exército industrial de reserva” é ampliado e os salários rebaixados e nas
épocas de recuperação-prosperidade o “exército industrial de reserva” é
reduzido e os salários aumentados. No modo de produção capitalista a população
é regida nesta lógica.
[4] OLIVEIRA (1985, p.17)
[5] Segundo OLIVEIRA
(1985, p.16), Malthus “confiava muito mais no próprio ajustamento entre
salários e condições de vida como meio de controlar a expansão da população, e
menos na possibilidade de controle e planejamento social dos usos, costumes e
tradições.”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
FERREIRA, Wladimir
Jansen. Uma Leitura Geográfica da
Formação da Cidade de São Paulo na Obra de Adoniran Barbosa.
Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia na PUC-SP. São Paulo: PUC-SP, 2005.
_________________________. Uma Análise
Crítica do Conceito de Natureza no Currículo de Geografia do Estado de São
Paulo. Trabalho de
Conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Geografia na PUC-SP. São
Paulo: PUC-SP, 2011.
MOREIRA, Ruy.
O círculo e a espiral – para a critica da geografia que se ensina.
Niterói: Edições AGB-Niterói, 2004-a.
______________. Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica.
São Paulo: Contexto, 2006.
OLIVEIRA, Francisco de. Malthus e Marx – o falso encanto e dificuldade radical, Campinas:
NEPO-UNICAMP, 1985.
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