Total de visualizações de página

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mapa e Texto sobre SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação)

2 tipos de Unidades de Conservação na SNUC

Mapa de Unidades de conservação no Brasil_ Paulon Eduardo GIRARDI




__
repasso texto que eu fiz.
___
Em julho de 2000, o governo federal criou o “Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)”, que definirá, entre outras coisas, a concepção de Unidades de Conservação, que poderá ser as “Unidades de Proteção Integral” (“que tem como objetivo geral a preservação da biosfera, a realização de pesquisas cientificas e para o lazer, sendo admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais”, pertencem à este a “Estação Ecológica, Reserva Ecológica, Reserva Biológica, Parques Nacional/Estadual/Municipal, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre”) e as “Unidades de Uso Sustentável” (que “têm como objetivo geral compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais”, pertencem à este a “Área de Proteção Ambiental, Área de Interesse Relevante Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural”).
A presença antrópica nas “Unidades de Proteção Integral” seria a mínima possível, somente para “realização de pesquisas cientificas e para o lazer”. Para que houvesse “harmonia” e uma diminuição nos impactos ambientais, as comunidades e os fazendeiros que lá vivem teriam de ser deslocados.
Por um lado é uma medida correta, pois assim, se conservaria este patrimônio natural tão importante, mas, por outro lado, se expulsaria comunidades tradicionais que historicamente lá estariam presente. Além do mais, o SNUC impõe um "Conselho Gestor" nas Reservas Extrativistas, que eram antes uto-gestionadas, facilitando a exploração de madeira nas áreas das reservas pelas agronegócio e aumentando o controle governamental pautado pelo poder econômico das agrobusines.
Na visão de Antônio Carlos Diegues (“Ilhas e Mares: simbolismo e imaginário”, 1998) as populações tradicionais não deveriam ser removidas das áreas de proteção integral. Ele está fazendo uma crítica à concepções de administração federal e  de algumas ONG’s que possuem esta concepção.
Compreendo que as comunidades destas “Unidades de Proteção Integral” não poderiam estar saindo, mas desde que estas mudassem a forma de se relacionar com o ambiente. A concepção fatalista de natureza e a noção de natureza como “recurso produtivo” deveriam ser extintos, mas isto somente irá ocorrer com uma modificação na estrutura da sociedade. Se o ser humano sempre interfira na natureza, a “sustentabilidade de fato” somente ocorrerá em uma sociedade sustentável (que não é a sociedade capitalista).
Todas as sociedades se utilizam de natureza para sobreviver, mas somente a sociedade capitalista considera a natureza como “recurso natural”. Sem natureza não há sociedade, sem sociedade não há natureza. Digo isto porque sem sociedade não há natureza porque foi o ser humano que deu nome aos objetos do mundo (seja um cachorro, árvore, montanha, rio). A natureza é um elemento concreto do mundo, sendo também o palco dos acontecimentos. Natureza também é um conceito, sendo uma construção humana e social. Portanto, natureza é um conceito social, sem sociedade não pode haver a idéia de natureza, até porque alguém disse que a natureza existe e certamente não foi o Planeta Terra ou um ser superior (deus). Sem natureza não há sociedade porque toda sociedade necessita da natureza para sobreviver, pois o homem bebe água, alimenta, respira, utiliza roupas, etc.
É equivocada a visão que diz que o homem não pode interferir na natureza. Ele sempre vai interferir, só que com menor ou maior intensidade. De acordo com o Modo de Produção das Sociedades ela pode interferir mais ou menos na natureza, ou conceber o Homem como sendo superior ao restante da natureza.
A sociedade Capitalista interfere mais no Meio Ambiente e concebe o homem como sendo superior ao restante da natureza. O Capitalismo interfere mais no Meio Ambiente porque somos uma sociedade altamente tecnológica e consumista. Os objetos tecnológicos precisam muito de natureza (seja ele um computador, um avião ou uma embalagem plástica) e o consumismo é uma necessidade da sociedade capitalista (pois o rápido consumo gira a economia de mercado e impossibilita riscos de crises de superprodução).
Antônio Carlos Diegues (“Ilhas e Mares: simbolismo e imaginário”, 1998) diz que a visão do Estado e das ONGs seriam conservadoras, pois trataria a natureza como “selvagem” ou mesmo “intocada”. Estas concepções possuem forte influencia do movimento ambientalista do fim da década de 1960, mas, principalmente, de concepções neomalthusianas (que se preocupa em demasia com os “recursos naturais”) e de concepções cartesianas-newtonianas.
A origem desta noção de natureza como recurso pode ser visto no Antigo Testamento, em Aristóteles, mas principalmente com Galileu Galilei, Francis Bacon, Isaac Newton e René Descartes. Segundo Ruy MOREIRA em Para onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica (São Paulo: Contexto, 2006), Descartes e Isaac Newton possuem uma concepção físico-matemática do mundo. Newton diz que a unidade físico-matemática de mundo se explicita pelo conteúdo de uma lei única regendo todos os corpos em todo o universo (a lei da gravidade). A visão gravitacional significa a dessacralização da natureza, pois terá uma lei natural intrínseca à ela e não mais à leis divinas. O “mundo-corpo-divino do espaço sagrado” é substituído pelo “mundo-corpo-fisico-matematico do espaço geométrico”.
Segundo MOREIRA (2006), esta visão compartimentada do mundo em “homem e natureza” entende que estes são coisas distintas e indissociáveis, visão que caracterizará o pensamento moderno. Se antes o homem se integrava conceitualmente ao mundo circundante (mesmo nos conceitos teleológicos do cristianismo) no pensamento cientifico moderno dele se aparta inteiramente. O “corpo do homem” faz parte da natureza e o “espírito do homem” não faz parte da natureza. Deus quem integrará o homem fragmentado à natureza.
Segundo MOREIRA (2006), nesta concepção físico-matemática do mundo de Descartes e Newton, a natureza é uma coleção de coisas físicas que se interligam pelas relações espaciais externas, de origem mecânica e matemática. Natureza é uma coleção de corpos apreensíveis, previsível e controlável, com comportamento repetitivo, regular e constante, regido por leis preditivas a natureza torna-se uma grande máquina uma engrenagem de movimentos precisos e perfeitos, que o homem pode controlar e transformar em artefatos técnicos, explorando para fins econômicos. Esta passagem de Dennis Zagha BLUWOL em Críticas ao conceito de natureza, ao ambientalismo e ao veganismo em tempos de capitalismo (São Paulo: Editora Ética & Picarética, 2008, p.47-48) é importante para refletir sobre o cartesianismo:
“A filosofia cartesiana, enquanto modo de se compreender o mundo baseado em uma visão mecanicista da natureza, foi altamente adequada para o crescimento da burguesia mercantil. Com a dessacralização da natureza, foi possível passar a explorar a natureza de um modo muito mais agressivo, sem culpas ou preocupações de cunho metafísico, pois uma moralidade baseada no temor a um deus que poderia se enervar com certos tipos de agressão à sua criação não mais era um grande problema para a emergente burguesia. Podia-se, então, compartimentar a natureza, esquartejá-la, pois era algo morto, não mais habitado por deuses. A natureza virou matéria-prima, os animais viraram máquinas”.
Segundo MOREIRA (2006), esta concepção mecanicista de Descartes e Newton influenciará a Revolução Industrial, o surgimento da Sociedade Capitalista e a Ciência moderna. A Ciência moderna está comprometida com o projeto histórico de construção técnica do capitalismo, ciência é transformada em força produtiva. Fabrica é um universo de movimentos mecânicos, representa uma “miniatura da engrenagem da natureza”. Natureza vira uma fonte inesgotável de recurso econômico, vira custo de produção para fins de acumulação de capital. O ser humano também é reduzido à meio de produção ou custo de produção, virando força de trabalho.
O conceito de natureza em nossa sociedade capitalista pode ser compreendido como sendo desumanizado. Aos poucos nossa sociedade tira Deus e o homem da natureza. Isso ocorre para que haja uma melhor reprodução social, pra legitimar a lógica capitalista. Natureza vira recurso, matéria-prima e custo de produção.
Entretanto, uma visão de mundo que integra homem-natureza e que não trate natureza como um recurso natural ou custo de produção só poderá ser atingido com o fim da sociedade capitalista. A sociedade capitalista nunca deixará de agir predatoriamente na natureza, pois é de sua “natureza” expropriar a natureza para transformar em matéria-prima. A geografia escolar também possui uma noção de natureza como “recurso natural” e matéria-prima, até porque ela é herança das ciências e tem de refletir esta concepção para a reprodução social. Se a escola existe para a reprodução social, as ciências e as disciplinas escolares não fogem desta regra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário