Mapa de Unidades de conservação no Brasil_ Paulon Eduardo GIRARDI
__
repasso texto que eu fiz.
___
Em julho de 2000, o governo federal criou o “Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC)”, que definirá, entre outras coisas, a concepção
de Unidades de Conservação, que poderá ser as “Unidades de Proteção Integral”
(“que tem como objetivo geral a preservação da biosfera, a realização de
pesquisas cientificas e para o lazer, sendo admitido apenas o uso indireto de
seus recursos naturais”, pertencem à este a “Estação Ecológica, Reserva
Ecológica, Reserva Biológica, Parques Nacional/Estadual/Municipal, Monumento
Natural e Refúgio da Vida Silvestre”) e as “Unidades de Uso Sustentável” (que
“têm como objetivo geral compatibilizar a conservação da natureza com o uso
sustentável de parcela de seus recursos naturais”, pertencem à este a “Área de
Proteção Ambiental, Área de Interesse Relevante Ecológico, Floresta Nacional,
Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável
e Reserva Particular do Patrimônio Natural”).
A presença antrópica
nas “Unidades de Proteção Integral” seria a mínima
possível, somente para “realização de pesquisas cientificas e para o lazer”.
Para que houvesse “harmonia” e uma diminuição nos impactos ambientais, as
comunidades e os fazendeiros que lá vivem teriam de ser deslocados.
Por um lado é uma medida correta, pois assim, se conservaria este
patrimônio natural tão importante, mas, por outro lado, se expulsaria
comunidades tradicionais que historicamente lá estariam presente. Além do mais, o SNUC impõe um "Conselho Gestor" nas Reservas Extrativistas, que eram antes uto-gestionadas, facilitando a exploração de madeira nas áreas das reservas pelas agronegócio e aumentando o controle governamental pautado pelo poder econômico das agrobusines.
Na visão de Antônio Carlos Diegues (“Ilhas e Mares: simbolismo e imaginário”, 1998) as populações tradicionais não deveriam
ser removidas das áreas de proteção integral. Ele está fazendo uma crítica à
concepções de administração federal e de
algumas ONG’s que possuem esta concepção.
Compreendo que as comunidades destas “Unidades de Proteção Integral” não
poderiam estar saindo, mas desde que estas mudassem a forma de se relacionar
com o ambiente. A concepção fatalista de natureza e a noção de natureza como
“recurso produtivo” deveriam ser extintos, mas isto somente irá ocorrer com uma
modificação na estrutura da sociedade. Se o ser humano sempre interfira na
natureza, a “sustentabilidade de fato” somente ocorrerá em uma sociedade
sustentável (que não é a sociedade capitalista).
Todas as sociedades
se utilizam de natureza para sobreviver, mas somente a sociedade capitalista
considera a natureza como “recurso natural”. Sem natureza não há sociedade, sem
sociedade não há natureza. Digo isto porque sem sociedade não há natureza
porque foi o ser humano que deu nome aos objetos do mundo (seja um cachorro,
árvore, montanha, rio). A natureza é um elemento concreto do mundo, sendo
também o palco dos acontecimentos. Natureza também é um conceito, sendo uma
construção humana e social. Portanto, natureza é um conceito social, sem
sociedade não pode haver a idéia de natureza, até porque alguém disse que a
natureza existe e certamente não foi o Planeta Terra ou um ser superior (deus).
Sem natureza não há sociedade porque toda sociedade necessita da natureza para
sobreviver, pois o homem bebe água, alimenta, respira, utiliza roupas, etc.
É equivocada a visão
que diz que o homem não pode interferir na natureza. Ele sempre vai interferir,
só que com menor ou maior intensidade. De acordo com o Modo de Produção das
Sociedades ela pode interferir mais ou menos na natureza, ou conceber o Homem
como sendo superior ao restante da natureza.
A sociedade
Capitalista interfere mais no Meio Ambiente e concebe o homem como sendo
superior ao restante da natureza. O Capitalismo interfere mais no Meio Ambiente
porque somos uma sociedade altamente tecnológica e consumista. Os objetos
tecnológicos precisam muito de natureza (seja ele um computador, um avião ou
uma embalagem plástica) e o consumismo é uma necessidade da sociedade
capitalista (pois o rápido consumo gira a economia de mercado e impossibilita
riscos de crises de superprodução).
Antônio Carlos Diegues (“Ilhas e Mares: simbolismo e
imaginário”, 1998) diz que a visão do Estado e das ONGs seriam conservadoras, pois trataria a natureza como “selvagem” ou mesmo “intocada”. Estas concepções possuem forte influencia do movimento ambientalista do fim da década de 1960, mas, principalmente, de concepções neomalthusianas (que se preocupa em demasia com os “recursos naturais”) e de concepções cartesianas-newtonianas.
A origem desta noção
de natureza como recurso pode ser visto no Antigo Testamento, em Aristóteles,
mas principalmente com Galileu Galilei, Francis Bacon, Isaac Newton e René
Descartes. Segundo Ruy MOREIRA em Para
onde vai o pensamento geográfico? – por uma epistemologia crítica (São
Paulo: Contexto, 2006), Descartes e Isaac Newton possuem uma concepção
físico-matemática do mundo. Newton diz que a unidade físico-matemática de mundo
se explicita pelo conteúdo de uma lei única regendo todos os corpos em todo o
universo (a lei da gravidade). A visão gravitacional significa a
dessacralização da natureza, pois terá uma lei natural intrínseca à ela e não
mais à leis divinas. O “mundo-corpo-divino do espaço sagrado” é substituído
pelo “mundo-corpo-fisico-matematico do espaço geométrico”.
Segundo MOREIRA
(2006), esta visão compartimentada do mundo em “homem e natureza” entende que
estes são coisas distintas e indissociáveis, visão que caracterizará o
pensamento moderno. Se antes o homem se integrava conceitualmente ao mundo
circundante (mesmo nos conceitos teleológicos do cristianismo) no pensamento
cientifico moderno dele se aparta inteiramente. O “corpo do homem” faz parte da
natureza e o “espírito do homem” não faz parte da natureza. Deus quem integrará
o homem fragmentado à natureza.
Segundo MOREIRA
(2006), nesta concepção físico-matemática do mundo de Descartes e Newton, a
natureza é uma coleção de coisas físicas que se interligam pelas relações
espaciais externas, de origem mecânica e matemática. Natureza é uma coleção de
corpos apreensíveis, previsível e controlável, com comportamento repetitivo,
regular e constante, regido por leis preditivas a natureza torna-se uma grande
máquina uma engrenagem de movimentos precisos e perfeitos, que o homem pode
controlar e transformar em artefatos técnicos, explorando para fins econômicos.
Esta passagem de Dennis Zagha BLUWOL em Críticas
ao conceito de natureza, ao ambientalismo e ao veganismo em tempos de
capitalismo (São Paulo: Editora Ética & Picarética, 2008, p.47-48) é
importante para refletir sobre o cartesianismo:
“A filosofia
cartesiana, enquanto modo de se compreender o mundo baseado em uma visão
mecanicista da natureza, foi altamente adequada para o crescimento da burguesia
mercantil. Com a dessacralização da natureza, foi possível passar a explorar a
natureza de um modo muito mais agressivo, sem culpas ou preocupações de cunho
metafísico, pois uma moralidade baseada no temor a um deus que poderia se
enervar com certos tipos de agressão à sua criação não mais era um grande
problema para a emergente burguesia. Podia-se, então, compartimentar a
natureza, esquartejá-la, pois era algo morto, não mais habitado por deuses. A
natureza virou matéria-prima, os animais viraram máquinas”.
Segundo MOREIRA
(2006), esta concepção mecanicista de Descartes e Newton influenciará a
Revolução Industrial, o surgimento da Sociedade Capitalista e a Ciência
moderna. A Ciência moderna está comprometida com o projeto histórico de
construção técnica do capitalismo, ciência é transformada em força produtiva.
Fabrica é um universo de movimentos mecânicos, representa uma “miniatura da
engrenagem da natureza”. Natureza vira uma fonte inesgotável de recurso
econômico, vira custo de produção para fins de acumulação de capital. O ser
humano também é reduzido à meio de produção ou custo de produção, virando força
de trabalho.
O conceito de
natureza em nossa sociedade capitalista pode ser compreendido como sendo
desumanizado. Aos poucos nossa sociedade tira Deus e o homem da natureza. Isso
ocorre para que haja uma melhor reprodução social, pra legitimar a lógica
capitalista. Natureza vira recurso, matéria-prima e custo de produção.
Entretanto, uma visão
de mundo que integra homem-natureza e que não trate natureza como um recurso
natural ou custo de produção só poderá ser atingido com o fim da sociedade
capitalista. A sociedade capitalista nunca deixará de agir predatoriamente na
natureza, pois é de sua “natureza” expropriar a natureza para transformar em
matéria-prima. A geografia escolar também possui uma noção de natureza como
“recurso natural” e matéria-prima, até porque ela é herança das ciências e tem
de refletir esta concepção para a reprodução social. Se a escola existe para a
reprodução social, as ciências e as disciplinas escolares não fogem desta
regra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário