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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Críticas às noções neoliberais de cidadania e tecnologia

repasso texto que eu fiz.
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As novas tecnologias são importantes para a organização e acesso do conhecimento, sendo essencial que ocorra uma inclusão digital das pessoas, pois conhecimento é poder.
Como educadores, cabe ao professor conscientizar os alunos sobre algumas reflexões, como a de que a “inclusão digital” não significa “emancipação social” ou “fim das contrações sociais da sociedade capitalista”, etc. Também compreendo que “conceber que todos são iguais” cria-se uma desigualdade, porque as pessoas não são iguais a priori. Concordo que se deva defender a tolerância e a alteridade, mas isto não significa que se conceba a realidade dialogicamente “pactualizada” e em harmonia. A noção de “cidadania em dimensão mundial” é equivocada porque cidadania vai além de deveres, devendo se levar em conta os direitos.
As tecnologias ligadas à informação podem ser uma grande ferramenta para a democratização do ensino, o problema está no acesso a essa informação, ou a tecnologias (internet) que levem o aluno a uma forma de aprendizado diferenciada.
Na internet está à informação, não necessariamente o conhecimento, este para que se tenha em sua plenitude, é importante a figura do professor para argumentar, debater idéias, sugerir outras pesquisas, enfim, fazer com que o aluno tenha um visão ampla do  pesquisado.
Nos professores de geografia devemos usar esses novos meios tecnológicos para facilitar o processo de ensino aprendizagem, sempre levando em consideração que o aluno é um fruto desta sociedade, e esta se transforma a todo instante, cabendo assim a escola e o professor acompanhar estas mudanças.
A revolução tecnológica cria um “novo tipo de desigualdade ou exclusão, ligada ao uso das tecnologias de comunicação que hoje mediam o acesso ao conhecimento e aos bens culturais”. Por mais que se diga que são indesejáveis tanto a exclusão pela falta de acesso a bens materiais quanto a exclusão pela falta de acesso ao conhecimento e aos bens culturais, percebemos uma tentativa de se excluir a “luta de classes”, jogando a emancipação das classes somente pelo simples consumo e por ter acesso à recursos tecnológicos.
Esta valorização do consumo e esta “pseudo-emancipação social” são idéias presentes da filosofia neoliberal na sociedade. Segundo GENTILI (GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. Retirado do site http://firgoa.usc.es/drupal/node/3036, s/d), o neoliberalismo transfere os direitos básicos (como a educação) para esfera do mercado e da meritocracia, ressignificando a noção de cidadania (que não é mais um contrato social que fala em direitos e deveres):
“Ao criticar enfaticamente a interferência política na esfera social, econômica e cultural, o neoliberalismo questionar a própria noção de direito e a concepção de igualdade que serve (ao menos teoricamente) como fundamento filosófico da existência de uma esfera de direitos sociais nas sociedades democráticas. Tal questionamento supõe, na perspectiva neoliberal, aceitar que uma sociedade pode ser democrática sem a existência de mecanismos e critérios que promovem uma progressiva igualdade e que se concretizam na existência de um conjunto inalienável de direitos sociais e de uma série de instituições públicas nas quais tais direitos se materializam”.
“(...) reconceitualiza a noção de cidadania, através de uma revalorização da ação do indivíduo enquanto proprietário, enquanto indivíduo que luta para conquistar (comprar) propriedades-mercadorias diversa índole, sendo a educação uma delas. O modelo de homem neoliberal é o cidadão privatizado o entrepreneur, o consumidor”.
Esta nova concepção de cidadania valoriza o empreendedorismo, a competitividade, o consumismo e o individualismo nas pessoas, partindo do pressuposto que todos possuem iguais condições. Os neoliberais fizeram uma ressignificação conservadora e a-crítica do conceito de “Eqüidade”, pois este leva em conta a noção de justiça e de igualdade, mas era pra ser uma igualdade de resultados e não uma igualdade de oportunidades (que os neoliberais preconizam). Neste sentido, LIMA & RODRÍGUEZ (2008, p.66) afirmam:
“Dentro desta perspectiva considera-se que, uma vez que os homens são livres, gozam de igualdade perante a lei e têm direito a propriedade, tendem a buscar a felicidade ou o bem-estar, traduzido em consumismo. O sucesso de cada um depende da sorte e de suas aptidões naturais, logo não está condicionado ao sistema econômico adotado”.
Esta ressignificação da noção de eqüidade do neoliberalismo serve para justificar as desigualdades da sociedade capitalista, buscando tratar “igual os desiguais”. LIMA & RODRÍGUEZ (LIMA, Silvia Peixoto de & RODRÍGUEZ, Margarita Victoria. Políticas Educacionais e Eqüidade: Revendo Conceitos. In Revista Contrapontos, vol. 8, nº 1 (2008), Itajaí: Editora UNIVALI, 2008, p.60) dizem que “a desigualdade dos homens é o pressuposto fundamental da concepção neoliberal”, sendo esta “(...) uma necessidade social, já que permite o equilíbrio e a complementação de funções”.
Nestes dois trechos de relatórios do BANCO MUNDIAL (BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 2006, 2006-a. Disponível em: http//bancomundial.org. br, p.15 e 2006-b, s/n), podemos verificar a distinção feita entre igualdade e eqüidade:
“(...) embora campos de atuação mais equilibrados possam produzir menor desigualdade de desempenho educacional, condições de saúde e renda, o objetivo da política não é a igualdade de resultados finais”.
“A eqüidade não significa a igualdade de renda ou de situação de saúde ou qualquer outro efeito específico. Pelo contrário, é à busca de uma situação em que as oportunidades sejam iguais, ou seja, em que o esforço pessoal, as preferências e a iniciativa – e não as origens familiares, casta, raça ou gênero – sejam responsáveis pelas diferenças entre realizações econômicas das pessoas”.
O BANCO MUNDIAL (BANCO MUNDIAL. A eqüidade aumenta a capacidade de reduzir a pobreza: relatório sobre o desenvolvimento mundial 2006. Release para a imprensa, 2006-b. Disponível em: http//bancomundial.org.br, p.16 e p.15) acha errado a igualdade de resultado e defende a igualdade oportunidades para a manutenção da ordem social:
“Do ponto de vista da eqüidade, a distribuição de oportunidades é mais importante que a distribuição de resultados”.
“(...) mesmo com uma igualdade de oportunidades genuína, sempre são esperadas algumas diferenças de resultado devido a diferentes preferências, talentos, esforço e sorte. Isso está de acordo com o importante papel desempenhado pelas diferenças de renda no fornecimento de incentivos para investir em educação e capital físico, para trabalhar e assumir risco”.
LIMA & RODRÍGUEZ (2008, p.65-66) diz que o Banco Mundial possui estas concepções de eqüidade para a manutenção da ordem social capitalista:
“(...) quando os organismos multilaterais nas sociedades capitalistas de modelo neoliberal, em especial o Banco Mundial, falam de eqüidade na formulação das políticas educacionais, o fazem na perspectiva de oferecer “oportunidade iguais às pessoas de baixa renda, aumentando sua contribuição econômica para a respectiva sociedade, reduzindo a própria pobreza” (Banco Mundial, 2006-b). Ou seja, o Banco não fomenta políticas que promovam a eqüidade no sentido de buscar igualdade social (tratar de forma desigual os desiguais). O Banco presta assessoria para que os governos trabalhem com a categoria de eqüidade no sentido de tratar de forma igual os desiguais, buscando diminuir as diferenças sociais e possibilitando aos pobres a melhoraria da sua condição financeira para ter acesso a bens e serviços nas sociedades capitalistas. Desta forma realimentam o sistema e mantêm a (des) ordem estabelecida”.
Compreendo que somente se chegará à eqüidade com “tratamento desigual dos desiguais”, mas, principalmente, com igualdade social, a extinção das classes sociais e a distribuição de riquezas, ou seja, com uma mudança do Modo de Produção. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 2006, 2006-a. Disponível em: http//bancomundial.org. br
________________. A eqüidade aumenta a capacidade de reduzir a pobreza: relatório sobre o desenvolvimento mundial 2006. Release para a imprensa, 2006-b. Disponível em: http//bancomundial.org.br
LIMA, Silvia Peixoto de & RODRÍGUEZ, Margarita Victoria. Políticas Educacionais e Eqüidade: Revendo Conceitos. In Revista Contrapontos, vol. 8, nº 1 (2008), Itajaí: Editora UNIVALI, 2008.

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