Reflexões
do filme: “O Vento será tua herança”.
Wladimir Jansen Ferreira
O filme é inspirado em um caso real, o
"Processo do Macaco de Scopes", como foi chamado o caso do Estado do
Tennessee contra o professor de biologia John Thomas Scopes, ocorrido na cidade
de Dayton em 1925. O professor foi julgado por ensinar a teoria da Evolução de
Darwin em uma escola pública.
Alguns personagens tiveram o nome
modificado, caso de Henry Drummond (baseado no advogado Clarence Darrow,
interpretado por Spencer Tracy), Matthew Harrison Brady (baseado em Willliam
Jenning Bryan, interpretado por Fredric March), o professor Bertram Cates
(baseado em John Thomas Scopes, interpretado por Dick York) e o jornalista E. K. Hornbeck (baseado em H. L. Mencken ou Henry Louis, interpretado por Gene
Kelly).
A cidade também teve o seu nome modificado, de Dayton para Hillsboro.
O professor de Biologia foi preso
porque estava ensinando “darwinismo e evolucionismo” aos alunos, infringindo
uma lei local que dizia que os funcionários públicos não poderiam questionar o
“criacionismo” ou trabalhar com os preceitos darwinistas. Ele é preso e seu
caso ganha dimensão nacional, principalmente pela escolha dos polêmicos e
famosos advogado de defesa (Henry Drummond) e pelo promotor (Matthew
Harrison Brady).
Praticamente a cidade inteira ficou
contra o professor e o advogado, pois os moradores possuíam uma cultura que
estava sendo questionada, podendo vir a ser destruída ao cair em contradição.
Os “criacionistas” baseavam sua visão de mundo e sua
concepção de natureza na tradição judaico-cristã, tanto no Velho, como no Novo
Testamento. Os “evolucionistas” eram chamados por estes de pagãos e ateus.
Importante perceber as posturas e
reações do
Reverendo Jeremiah Brown (interpretado por Claude Akins) e no prefeito Jason
Carter (interpretado por Philip Coolidge) que eram fanáticos e intolerantes
quanto à outras crenças religiosas e ao conhecimento cientifico dos “evolucionistas”. Importante é
destacar a postura igualmente intolerante do jornalista ateu E. K. Hornbeck,
parecendo ser fundamentalista e fanáticos por uma outra via. As ações do
jornalista, do reverendo e do prefeito eram altamente negativas para a ocasião,
“incendiando” a situação e manipulando os sentimentos dos moradores.
No inicio do julgamento, o advogado de
defesa (Henry
Drummond) pede para ser posto em “pé de igualdade” com o promotor (Matthew
Harrison Brady), pois
este segundo era tipo como herói de guerra e coronel. Esta igualdade ocorrerá
pelas mãos do prefeito Jason Carter e
do juiz
Mel Coffey (interpretado por Harry Morgan)
Inicialmente a estratégia da defesa
era defender “o direito de ser
diferente, de pensar e de ter conhecimento”. Já a estratégia da promotoria foi
se utilizar o tempo todo do fanatismo religioso em conjunto com o ódio e a
ignorância, chegando a pedir que a defesa “não confunda coisas materiais com
realidade espiritual” e que “não se questionasse as verdades da Bíblia
Sagrada”. A defesa se defende ao dizer que “deixar a Igreja não significa
deixar Deus”.
No segundo dia de julgamento, a defesa
tenta trazer cientistas evolucionistas para falar, sendo proibidos erroneamente
pelo juiz. O advogado de defesa se revolta com tal situação e quase foi preso
por desacato ao juiz. Com a confusão, a seção do dia foi cancelada.
No terceiro dia de julgamento, a
estratégia do advogado de defesa foi falar com o promotor. Esta situação é bem
irônica, pois “peritos em ciência” não puderam falar e um “perito em Bíblia”
pode falar. Aos poucos, o advogado de defesa foi esmorecendo a imagem do promotor
ao fazer este cair em contradição.
Inicialmente, o advogado de defesa
pergunta se “tudo na Bíblia tem de ser levado ao ‘pé-da-letra’”, questionando
as situações: “como um homem dentro de uma Baleia poderia sobreviver”, “como
que o Sol poderia ser parado por um ser humano”, “o fato do sexo ser um pecado
original e a humanidade ter nascido e espalhado com a procriação de Adão e
Eva”, “o fato do planeta Terra ter sido feito em 5 dias, aonde o Sol só teria
sido feito no segundo dia (sendo impossível se delimitar o tempo do primeiro
dia)”. Depois deste massacre, a seção do dia é encerrada e o promotor vai para
sua casa muito abalado, questionando “porque deus estaria sendo julgado”.
O quarto dia do julgamento foi só para
se dar o veredicto, que foi unânime, decidindo por considerar o professor
Bertram Cates culpado por violar as leis, mas tendo de pagar uma misera multa
de U$ 100,00. a promotoria se revolta com o valor e a defesa diz que entrarão
com um recurso no Supremo Tribunal Federal para não pagar esta multa.
Depois do veredicto
final, o promotor Matthew Harrison Brady tenta ler um texto criacionista, sendo
ignorado pelos presentes. Ele enlouquece, tem um infarto do coração e morre no
local. Podemos dizer que o promotor enlouquece porque sua cultura foi
questionada e quando morre temos uma “alegoria” sinalizando o surgimento de
“uma nova era” na cidade e no país, que seria de “não fanatismo religioso”.
Depois da morte de Brady, Hornbeck
jocosamente faz planos para o obituário de Brady, usando as palavras que o
orador invocara na reunião de orações. “Aquele que perturba sua própria casa
herdará o vento". Quando Drummond cita a Bíblia e defende Brady como um
grande homem, Hornbeck percebe que o famoso advogado de defesa é um crente e o
execra como um hipócrita. Drummond responde que o cinismo do jornalista o
deixou sem qualquer tipo de sentimento ou significado.
Depois que Hornbeck vai embora,
Drummond embala seus pertences e se despede de Hillsboro, segurando o livro de
Charles Darwin e sua Bíblia, lado a lado. Talvez uma outra alegoria, para
demonstrar que talvez dê para se conviver com estas duas culturas, ou seja, a
tolerância e a alteridade são possíveis.
Nós tivemos no filme um “choque
cultural” entre “evolucionismo” e o “criacionismo”. Podemos refletir que a
cultura da intolerância e do fanatismo é algo negativo, mas que deve ser
respeitada. Aquela comunidade isolada e fechada tem o direito de existir e a
existência das discussões evolucionistas foi algo negativo para a cultura
hegemônica, ajudando a implodi-la.
Uma postura acertada é defender a
tolerância e a alteridade cultural, pensando até na possibilidade de um
hibridismo cultural.
A multa em questão foi revista, quase que no mesmo instante, para "200 pratas".
ResponderExcluirVerdade, mas a defesa declara que o cliente não pagará sequer um dolar...
ExcluirNão, a multa não foi revista. A multa continuou no valor de 100 dólares, sendo que, a defesa iria recorrer em 30 dias. Duzentos dólares é o valor da fiança, para que o professor não fugisse da cidade sem cumprir suas obrigações legais.
ExcluirMuito bom! Assiste ao filme na semana passada e o achei atualíssimo.
ResponderExcluirNão assisti o filme para dizer se foi colocada ou não de modo enfático a questão da EUGENIA (vou assistir apenas para comprovar a intuição que tenho que se trata de uma produção é tendenciosa). Também nas suas reflexões sobre o filme não foi levantada a relação crucial entre DARWIN e EUGENIA.
ResponderExcluirNão se trata apenas de dizer que a espécie humana veio dos macacos (baluarte dos ateus) ou que foi criada por Deus (fé dos cristãos).
Darwin nunca disse que a espécie humana veio dos macacos. Bem lhe faria ler mais a respeito.
ExcluirSe Deus existe, e ele seja todo poderoso, não precisa de nada para fazer tudo. Não precisa de uva para fazer vinho, pode fazer de água mesmo. Assim não precisa do sol para fazer o dia, pois ele é a Luz. É apenas uma questão de fé, certeza sem prova, pois se houver prova, deixa de ser fé.
ResponderExcluirEle fez vinho da água, e sim não precisaremos do sol por termos a Luz Dele!
ExcluirMas o filme não fala em Deus não esistir
ExcluirMuito bom o filme, acabei de assistir pela Netflix em P&B mais muito show! Muito atual, já agora há políticos proibindo professores de falar de política em sala de aula.Dizendo não à doutrinação nas escolas.
ResponderExcluirconviver com fanatismo é foda, não da!
ResponderExcluirCreio que pode ser possivel encontrar a versao de 1999 deste filme acima (colorido) no youtube; no mais, gostei desta produçao e tanto do post quanto do blog em geral. Continuem assim, firmes na luta a favor do conhecimento e contem comigo para essa meta ... !!!!!!!
ResponderExcluirPara reforçar: o termo fundamentalismo religioso vem deste cristianismo fanático dos anos 1920, norte-americano, que hoje é importado por brasileiros. Portanto, temos tanto fundamentalismo religioso cristão, islâmico, judaico.
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