O
texto do Marx chamado: "Contribuição à Crítica a Filosofia de Hegel".
Encontrado no livro "Manuscritos Econômicos-Filosóficos".
Vou
transcrever o famoso trecho, na sua Introdução:
"(...) O homem, que na realidade
fantástica do céu, onde procura um ser sobre-humano, encontrou apenas o seu
próprio reflexo, já não será tentado a encontrar a aparência de
si mesmo - um ser não humano - onde procura e deve buscar a sua autêntica
realidade.
É este o fundamento da crítica
irreligiosa: o homem faz a religião; a religião não faz o homem. E a
religião é de facto a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não
se encontrou ainda ou voltou a perder-se. Mas o homem não é um ser
abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado,
a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma
consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido.
A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua
lógica em forma popular, o seu point d' honneur espiritualista, o seu
entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de
consolação e de sua justificação. É a realização fantástica da essência
humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por
conseguinte, a luta contra a religião é indirectamente a luta contra aquele
mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao
mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a
miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um mundo
sem coração e a alma de situações sem alma. É o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto
felicidade ilusória dos homens é exigência da sua felicidade real.
O apelo para que abandonem as ilusões a respeito de sua situação é o apelo
para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião
é, pois, em germe a crítica do vale das lágrimas de que a religião é a auréola.
A crítica colheu nas cadeias as flores
imaginárias, não para que o homem suporte as cadeias sem capricho ou
consolação, mas para que lance fora das cadeias e colha a flor viva. A
crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, actue e
configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a
razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, à volta do seu
verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira à volta do homem
enquanto ele não circula em torno de si próprio.
Conseqüentemente a tarefa da
história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é
estabelecer a verdade deste mundo. A imediata tarefa da filosofia,
que está ao serviço da história, é desmascarar a auto-alienação humana nas suas
formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma
sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a
crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em
crítica da política.
(...)"
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